Nas Fronteiras da Arte e do Bizarro: A Fotografia de Joel-Peter Witkin (Erasmo Ruiz)


A depender de gostos estéticos e do espírito do momento histórico, arte e o que seria chamado de "bizarro" podem se fundir de tal maneira que não chegamos a determinar com clareza os limites práticos de cada conceito.


Que o digam os artistas considerados de vanguarda num momento e, depois (in)voluntários ditadores de normas e regras estéticas. Por exemplo, Monet foi execrado pela crítica embasada por valores classicistas quando expôs seus quadros pela primeira vez. Depois, quem não rezasse a cartilha do impressionismo teve que enfrentar sua dose de preconceito.

Quando pensamos nas infinitas possibilidades que a fotografia nos apresenta, em particular após o uso radical dos programas de computador e a popularização definitiva da fotografia digital, parece novamente ficar difícil divisar limites.

Pela nossa ótica, esse é o caso de Joel-Peter Witikin. Esse fotógrafo norteamericano, nascido em 1939, foi fortemente influenciado por sua formação religiosa mesclada pelo interesse estético em corpos e comportamentos considerados "anômalos". Juntou-se a isso a experiência durante a guerra do Vietnã onde, enquanto fotógrafo militar, registrava fotografias técnicas para a perícia de mortes acidentais durante treinamentos militares.



Não mostraremos aqui as fotos mais chocantes de Joel-Peter. Para quem quiser exercer a virtude (ou defeito, quem sabe?) da curiosidade, no final do post disponibilizamos um link para o google imagens.No entanto, gostaríamos de destacar o que vemos de interessante em Joel-Peter: a sua ousadia em meio ao tabu da morte, de lidar com ela artisticamente de uma forma muito propositiva.


Em muitas de sua fotografias o cadáver, ou partes de corpos, se transforma em objeto a ser fotografado a partir de composições artesanais feitas pelo próprio fotógrafo. Alguns poderão imediatamente identificar em Joel-Peter uma problemática para estudiosos de psicopatologia. Seria então alguém a materialziar suas mais terríveis alucinações com relação a corpos deformados e pedaços de cadáveres? Ou um artista radical e genial tensionando praticamente no limite o sentido de liberdade anarquista que pode ser exercido pela arte?



O interessante talvez seja nos libertarmos de tal dicotomia, afinal, Schumann, Van Gogh e muitos outros já nos mostraram que as duas coisas podem andar juntas. Ah, e se o artista  vive da sua arte é sinal então de que em sendo ela a materialização do seu delírio, sua arte tem servido bem à economia psíquica de muitos que são considerados "normais". Assim, a morbidade meio psicótica  apontada no autor também seria do mundo que consome e admira suas composições.

Enfim, fica assim registrada essa provocação em nosso blog. Estamos aqui para falar das mais amplas possibildiades de se pensar e olhar a morte. E  Joel-Peter nos apresenta uma delas e, com certeza, gostemos ou não, é um olhar muito original!

Link para o Google Imagens

4 comentários:

Anônimo disse...

Coisa horrível. Isso não é fotografia, é um circo de horrores. Que mau gosto.

Erasmo Ruiz disse...

Car@ Anonim@!

Fico feliz pelo seu comentário pois o fotografo realmente provocou! Mas, falando sério, existiria algo além de "horrível" ou, reformulando melhor, por que o "horror" se afirma como necessidade estética de alguns artistas e acaba sendo consumida, inclusive como mercadoria, por muitos? Nessa onda, horríveis seriam os filmes de terror, a estética gótica, os quadros de Munch ou as histórias de Edgard Alan Poe. São horríveis as fotos ou as reflexões que elas podem produzir?

J disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Henriques Gimarães Medeiros disse...

No ocidente, Peter Joel é um dos poucos a produzir esse tipo de arte onde a contradição entre o "belo" e o "horrível" estão presentes em suas obras. Outro artista impressionante, que também utiliza esses elementos é o norte-americano Joe Coleman.
O japonês Suehiro Marou é um expoente de um tipo de gênero, que o mesmo denominou de grotesco erótico.
Infelizmente, as obras desses autores são ignoradas pelo público ou taxadas de "não-arte", porém dão acesso a temas tabus de nossa sociedade que devem ser analisadas.