tag:blogger.com,1999:blog-1515394592257732586.post408026158491886557..comments2023-09-16T06:05:54.815-03:00Comments on T H A N A T O S: "A Sete Palmos": A Dificuldade de Encarar o Morrer (Ney Ronaldy Oliveira Paula*)Thanatoshttp://www.blogger.com/profile/10633965506898416398noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-1515394592257732586.post-68886394676397893352010-06-03T22:00:11.652-03:002010-06-03T22:00:11.652-03:00Oi, Erasmo!
Fico contente que estudantes de enferm...Oi, Erasmo!<br />Fico contente que estudantes de enfermagem estejam se envolvendo com a temática. Belo texto e interessantes as vivências que ele traz.<br />A cada dia vejo ser necessário este envolvimento. Atuando como enfermeira na Estratégia Saúde da Família, sinto necessidade de um espaço onde possamos falar dessas perdas, reelaborá-las,ou mesmo, compartilhar o sofrimento que a morte nos traz. Paira ao redor do tema ainda um grande silêncio. <br />O ney sugere:Por que não aprender com a morte? Mudar o curso das coisas, quem sabe, retomar o que ficou para trás, buscar o que realmente importa, transpor as superfícies, penetrar nas essências, libertar-se das mediocridades diárias que fazem nossos corpos/almas cativos, ir ao encontro da simplicidade oculta no belo. <br />Certo dia, minha filha de seis anos me surpreendeu, dizendo: “quero morrer brincando.”<br />Brincar! <br />Rir do tempo, saltar poças dágua, contar estrelas, querer comer a lua. <br />“Desadestrar” mãos, boca, olhos, voz, ouvidos...<br />Lembrei de um velho amigo sertanejo, meu avô. Pai de quinze filhos, avô de uns quarenta e alguns netos. Aos oitenta e quatro anos, após ter sido vítima de vários AVC’s, já não conseguia andar, sua voz fraquejava e algumas das lembranças já haviam se perdido. Pedia que o levassem na cadeira para ver a chuva. Olhava a chuva como se estivesse enxergando pela primeira vez. Mandava que os netos “ganhassem” a rua, que não perdessem de banhar o corpo naquela água, presente dos céus. Diante da chuva, seus gestos revelavam o menino que sofreu as dores da seca, da terra rachando pelo sol, dos bichos morrendo de sede: aplaudia, gritava, colocava as mãos trêmulas em concha pela porta até que a última gota deixasse de cair. <br />Quando a chuva cessava, o meu amigo juntava as crianças ao seu redor e lançava desafios matemáticos premiando com doces e moedas aqueles que mais rapidamente lançassem as respostas corretas. Teve que aprender com a vida a fazer contas: os números nasceram na colheita, na pesagem do algodão, na safra do feijão. Nunca havia freqüentado a escola.<br />Apreciava as bolhas de sabão sopradas do talo do mamoeiro, os piões rodopiando, fazendo círculos infindos no terreiro, os versos de cordel, o muçambê florido, as cantigas de roda e as adivinhações. <br />Brincava com os olhos, com as mãos, com os ouvidos.<br />Passado o tempo, não mais pudera sair para sentir a chuva. Definhou durante meses sobre a cama em um quarto escuro, a família tentava em vão fazê-lo viver, mas ali já não era mais ele.<br />Para mim, ele morreu brincando...<br />Um abraço,<br />JacquelineJacqueline Abrantes Gadelhahttps://www.blogger.com/profile/15837425249429257336noreply@blogger.com