A Morte na Fala do Povo

Essa matéria foi retirada de "Jangada Brasil", uma ótima revista de folclore brasileiro, que resgata nossas raízez e nos torna capaz de resgatar sentidos de nossas ações, crenças e falas. Como se pode ver na lista abaixo, a morte permite várias expressões consagradas pela tradição, algumas até mostrando que podemos fazer piada com um assunto tão sério. Aliás, os assuntos sérios tendem a ser o objeto das melhores piadas. A MORTE NA FALA DO POVO A Abalar-se para o além Abarcar os sete palmos Abecar a dama negra Abonar o coveiro Abotoar o paletó Abotoar o pijama de madeira Abreviar a viagem Acampar no cemitério Ajuntar os pés Amanhecer olhando o dedo grande do pé Apitar Apresentar-se ao papa do inferno Atacar o paletó Atingir a reta da chegada Atolar o carro Arriar a bandeira B Bacafuzar-se Badalar o sino Bater a alcatra na terra ingrata Bater a biela Bater a bola Bater a pacutinga Bater a paquera Bater a passarinha Bater as botas Bater o pacau Bater o vinte e sete Bater o vinte e um C Cair no esquecimento Casar com a mulher da foice Cessar a suspiração Chegar a hora Chegar ao fim da estória Chispar no cavalo da morte Coalhar o sangue Comer terra na cara Comer pão de terra Comer capim pela raiz Cumprir a vontade de Deus D Dar adeus a jerimum Dar com o rabo na cerca Dar o banzé Dar o couro à vara Dar o créu Dar o último suspiro Defuntar Deixar de comer farinha Deixar de viver Desarmar a tenda Descansar Desencadernar Desligar a tomada Desocupar o beco Dizer adeus ao mundo E Embarcar Embiocar Enfrentar São Pedro Engajar no batalhão da morte Entrar no rol dos bons Entregar a alma a Deus Envelopar-se Espichar a canela Estancar o motor Estar na terra da verdade Estar na terra de onde não se volta Esticar o cambito Esticar o molambo Esticar o pernil Esvaziar os pneus F Falecer da vida presente Fazer a última viagem Fazer companhia aos defuntos Fazer gosto ao cão Fazer a vontade de Deus Fechar a sueca Fechar o furico Fechar os olhos Ficar de olho vidrado Findar Fumar-se G Ganhar o descanso eterno Gastar a mola Guardar a ferramenta I Inteirar o tempo Ir dar conta do feijão que comeu Ir desta para melhor Ir para a buíca Ir para a cidade de pés juntos Ir para o Acre Ir para o buraco de camunda Ir para o envelope Ir para o vinagre Ir pro beleléu Ir-se L Largar a casca Levar bandeira a meio-pau Limpar o lugar Liquidar o negócio M Mascar barro Morar na pensão de Santo Amaro Morrer na vez que lhe coube Mudar de planeta Mudar-se para o cemitério Mudar-se Muquecar-se N Não comer mais feijão Não comer mais pirão P Passar Passar desta para melhor Pedir baixa Pegar o expresso de madeira somente com passagem de ida Peitar a parca Perder o garrão Perder o rumo da seguição Picar a mula Pifar Pitar macaia Promover-se a defunto Q Quebrar o rabicho Quebrar a tira Queimar o fusível Queimar a piriquita R Rachar o quengo Receber as incelenças Refinar a rapadura Render a alma ao criador Render o espírito Render o fôlego S Sair da cancha Saldar as dívidas Secar o mucumbu Selar os olhos Sustar o jogo T Tomar a benção a São Pedro Tomar chá de buraco V Ver o céu por dentro Vestir pijama de madeira Viajar Virar defunto Virar picolé Visitar São Pedro Voar no pau (Extraído de Maior, Mário Souto. "A morte na fala do povo". In Revista brasileira de folclore, ano XII, nº 36, maio/agosto de 1973. Ministério da Educação e Cultura, Departamento de Assuntos Culturais)

3 comentários:

Anônimo disse...

Esse dicionário de eufemismos e perífrases sobre a morte é hilário. Ariès e Gorer podem dizer, assim como Montaigne, que se tratam de interditos da morte, uma forma de não falar no assunto. Sei não. Pode até ser. Mas, que sobra criatividade, isso sim.
Se todo interdito fosse tão rico assim...

clara disse...

morri de rir com essa coletanea de ditos relacionados a morte.
adorei seu blog, eu curto essentricidade!
beijinhos!

Jacqueline Abrantes Gadelha disse...

Gostei do termo "desarmar a tenda".Não poderei mais ouvir as histórias, colher memórias, juntar objetos que trazem lembranças, juntar as pessoas a minha volta, ouvi-las, abraça-las.
Então,morri: "desarmei a tenda".

Jacqueline