Perigos do fumo passivo

O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) lançou portal com informações sobre o fumo passivo e o desenvolvimento de tumores malignos, bandeira do governo do estado para banir o uso de cigarro nos ambientes públicos e privados de São Paulo. O portal traz estudos nacionais e internacionais que contabilizam os impactos da aspiração de fumaça alheia, entre eles o de que o fumo passivo é a terceira maior causa de morte evitável no mundo, superada apenas pelo tabagismo ativo e o consumo excessivo de álcool. Site www.icesp.org.br

Anti-abortistas voltam a matar nos EUA

Semanas após o apelo do presidente americano, Barack Obama, ao diálogo civilizado no debate sobre o direito ao aborto, o médico George Tiller foi assassinado a tiros (31/5) no Kansas. Ele fazia abortos de gestantes em risco — nos EUA, o aborto é permitido. Um dos primeiros suspeitos foi o ativista anti-aborto Randall Terry, que tratava Tiller de “assassino em massa” — ecoando Bill O’Reilly, do canal ultraconservador Fox News, que o chamava de “Tiller the Baby Killer” (matador de bebês). As pesquisas mostram os EUA divididos sobre esse direito, embora estreita maioria o aprove. Pesquisa da CNN em maio mostrou que 7 em 10 pessoas (68%) querem que a Suprema Corte mantenha a decisão do caso Roe vs. Wade (leis contra o aborto ferem o direito à privacidade e ao uso do próprio corpo). Os movimentos sociais se queixam: Obama demora a cumprir promessas de campanha não só sobre restrições do direito ao aborto, mas ao casamento gay, à presença de homossexuais nas Forças Armadas e à entrada de pessoas com HIV nos EUA. Fonte: http://www4.ensp.fiocruz.br/radis/83/sumula.html

A situação dos cuidados paliativosno Brasil, pelo Ministro da Saúde

A Revista Meaning, edição 04, n.02, trouxe como matéria de capa uma entrevista com o Exmo. Ministro da Saúde: José Gomes Temporão. Com 57 anos, médico, sanitarista, formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ). Especialista em doenças infecciosas e tropicais, Mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fio Cruz e Doutor em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o ministro abordou alguns pontos cruciais para a Política de Controle da Dor, de Administração de Medicamentos Opióides e de Cuidados Paliativos. Foram tratadas muitas questões importantes, tais como "Quais as providências que estão sendo tomadas para que os cuidados paliativos tornem-se uma realidade no país?", ao que Sua Excia respondeu: "O SUS contempla a estruturação e o funcionamento de serviços para cuidados paliativos. E ainda há melhorias que pretendemos implementar para o aprimoramento dos serviços, seja com ações para difundir o conhecimento nessa área, seja na qualificação da assistência ou na educação continuada para os profissionais, sempre de acordo com os princípios da integralidade e da humanização. Atualmente, o Ministério da Saúde trabalha na elaboração de diretrizes nacionais para controle da dor e cuidados paliativos, a fim de que sejam incorporados na atenção básica e especializada". A entrevista completa pode ser acessada pelo link: www.paliativo.org.br/pdf/entrevista_ministro_da_saude.pdf

cinema e cuidados paliativos

Programação Preliminar -Ciclo de Cinema e Reflexão Os organizadores do II Ciclo de Cinema e Reflexão – Aprender a Viver/Aprender a Morrer divulgaram a programação preliminar. O evento, que acontecerá na Cinemateca Brasileira em São Paulo entre os dias 10 e 13de setembro, tem como organizadores a Academia Nacional de Cuidados Paliativos, o Hospital Premier, o Instituto Paliar e o Oboré Comunicação e Artes. Confira a progração preliminar em: www.paliativo.org.br

A Gripe e a Mistanásia (Erasmo Ruiz)

Nos últimos meses temos sido alvos, dia após dia, de reportagens falando sobre a gripe mexicana, digo suína, digo H1N1. A primeira dificuldade parece ter sido esta mesma. Definir nomes para algo que nos causa medo e prejuízos econômicos. A ética do “politicamente correto” identificou desde o início que o rótulo “mexicana” discriminava nossos irmãos latino-americanos do norte e que chamar a gripe de “suína” poderia colocar em risco bilhões de dólares do comércio de derivados de porco ou questionar a forma como, em muitos países, essa indústria cresce sem o mínimo controle sanitário. A gripe então tornou-se uma placa de automóvel: “H1N1”. E junto a esta placa veio o medo de que nada poderia deter essa nova praga. As populações de classe média dos grandes centros urbanos não tem mais estrutura simbólica para lidar com grandes epidemias, afinal, as principais conquistas tecnológicas da saúde parecem estar mais disponíveis a ela e aos mais ricos. Disso talvez resulte o pânico que presenciamos nos últimos dias e que tenderá a aumentar significativamente. Não adianta ter um bom plano de saúde, ter água encanada, morar num seguro condomínio num bom bairro e assinar o “Discovery Health” pela TV a cabo. O insidioso H1N1 está a espreita ao dobrarmos a esquina ou num singelo beijo num sábado a noite. O problema é não haver pânico para a dengue, à meningite, à doença de Chagas, à tuberculose ou à mortalidade infantil. Isso mesmo! Todas essas doenças produzem uma letalidade muito maior mas guardam uma característica importante: não são "democráticas", atingem mais os pobres e miseráveis. Foram normalizadas como fatalidade ou desígnios da vontade de Deus. Não são inspiradoras para roteiros de novas teorias da conspiração nem motivam a indústria farmacêutica a buscar novas drogas miraculosas. Ha alguns anos foi cunhado o termo “Mistanásia” por Leornardo Martin, uma expressão técnica que traduz algo que já sabemos há muito tempo: os pobres morrem de doenças mais específicas da pobreza e a miséria, é séria candidata a morrer daquilo que a maioria poderia cuidar com o mínimo de suporte (as diarréias infantis prevenidas pelo soro caseiro é um dos exemplos). A mistanásia é a eutanásia social que não causa alarde. Se exterioriza nas balas que matam os mais jovens, na desnutrição que se não matar na infância faz chegar doenças da velhice mais cedo, na morte lenta e cruel nas cracolândias, na agonia de populações ainda marginais às políticas sociais conmpensatórias. Quando a gripe H1N1 chegar para valer, será nesse meio que ela colherá a maior parte do seu macabro tributo. Mas, ainda assim, o H1N1 vem nos lembrar que embora a gripe possa matar mais em meio a miséria, ela não será indiferente aos ricos, suplantando portanto os “comportados” limites da Mistanásia. Juntando-se a isso os ingredientes de uma mídia covarde e subserviente, sempre pronta a atender aos interesses mais hediondos de seus patrocinadores, temos o terreno perfeito para que tanto pobres quanto ricos sejam enganados pelos interesses maiores das corporações de doença, digo, de saúde. A H1N1, que mata tanto quanto a gripe comum, precisa agora de uma vacina para que todos possam se abraçar durante a missa ou trocar beijos com desconhecidos numa festa. E que continue morrendo aos montes aqueles que não tem esgoto, água encanada, aqueles que moram em casebres de barro e tem a “sorte” de nascerem miseráveis. Mas não se preocupem. Como aconteceu na Argentina, em breve teremos máscaras cirúrgicas com emblemas do nosso time de futrebol predileto. Quem sabe algum cientista consiga inventar uma boa camisinha para o beijo? E quem disse que os vírus não podem ser mercantilzados? Para breve a promessa de cura da gripe que um dia vai entrar em mutação. Teremos uma nova gripe espanhola? Perdão aos espanhóis...teremos um novo número para apostar na loteria?

Luto entre animais não humanos (Ayala Gurgel)

Pode ser mera interpretação, mas a sequência de fotos está associada a registros de luto entre animais não humanos, uma evidência que muitos especistas tentam negar. A andorinha que estava em uma condição de voo desfavorável foi colhida por um carro. Agora ela se encontra ferida, no chão, sem possibilidades de voar e, provavelmente, sentindo dores: A sua companheira percebe a sua condição e se aproxima com alimento, o que entre os animais é um gesto universal daquilo que, nós humanos, chamamos de afeto: Tendo repetido algumas vezes esse mesmo gesto, ela se deparou com uma andorinha que não respondia mais aos seus estímulos. Em linguagem humana, digamos que ela ficou em estado de choque, o que fê-la produzir esforços físicos tentando mover a companheira moribunda: Ela parece não aceitar a perda da companheira, especialmente da forma trágica como ocorreu: A percepção da morte da companheira, contrariando toda tradição especista, provoca dores e ela "chora tristemente" a sua perda: Finalmente, consciente de que ela não retornaria jamais, permaneceu ao lado de seu corpo com tristeza, vivenciando o seu luto: As fotos são indicativos de que o especismo está errado. Os animais não humanos têm percepção da morte e emitem comportamentos de luto, tal como os humanos. Em alguns casos, esse luto é bastante complicado, mostrando comportamentos de fuga e esquiva bastante difícil de ser reprogramado. Acredito, portanto, que entender as formas de luto entre animais pode nos ajudar a compreender nossos próprios processos, sem precisar a recorrer aos recursos mágicos...

Nova aula de Cuidados Paliativos no You Tube

O site da ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos) informa que já está com uma nova aula sobre cuidados paliativos na TVANCP sobre as sobre novas tendências em Cuidados Paliativos A TVANCP, no You Tube (www.youtube.com/tvancp), exibe novo vídeo da UCTV, a TV oficial da Universidade da Califórnia, sobre Cuidados Paliativos. Trata-se de um vídeo de 59 minutos de duração com o Prof. Ben A. Rich, da Escola de Medicina da Universidade, que discorre sobre as tendências dos Cuidados Paliativos. O professor fala sobre as leis que têm sido aprovadas nos Estados Unidos, como The Oregon Death with Dignity, e como elas afetam a implementação de opções paliativas aos pacientes no final de suas vidas. O vídeo foi gravado em julho de 2009 e se encontra em inglês, no entanto, no site da TVANCP existem outras matérias, inclusive em português.

O suicídio na Grécia Antiga

O relato, e até mesmo certa apologia, do suicídio ou morte voluntária é bastante comum nas narrativas gregas do passado. Elas são presentes tanto em textos literários, religiosos e filosóficos (se é quer há diferenças entre essas narrativas naquela mentalidade). O certo é que os deuses e deusas, heróis e heroínas, homens e mulheres são confrontados com a possibilidade de findar a sua existência de forma voluntária. Jocasta, filha de Meneceu e irmã de Creonte e de Hiponome, casou-se com Laio com quem teve Édipo. Muitos anos depois, sem reconhecer o filho e sem ser reconhecida por ele, casou-se com ele, de quem teve duas filhas – Antígona e Ismene – e dois filhos – Eteoclés e Polinices. Ao tomar conhecimento do incesto Jocasta enforcou-se. (Noutra versão, ela se matou com um gládio, ao ver seus filhos Eteoclés e Polinices mortos um pelo outro em frente a uma das portas de Tebas). Fedra, filha de Minos e de Pasifae, irmã de Ariadne e de Deucalião. Seu irmão deu-a em casamento a Teseu, então rei de Atenas, embora ele já fosse casado com uma amazona. Da união com Teseu nasceram os filhos Acamas e Demofon. Fedra apaixonou-se por Hipólito, filho de Teseu com sua primeira mulher. Hipólito, entretanto, desdenhava as mulheres e não correspondeu ao amor de sua madrasta. Fedra, receosa de que o rapaz revelasse a Teseu sua paixão por ele, caluniou-o junto ao marido acusando-o de tentar violentá-la. Teseu acreditou na infâmia e pediu a Poseidon para provocar a morte do próprio filho, que pouco tempo depois perdeu a vida arrastado pelos cavalos de seu próprio carro. Não resistindo ao remorso, Fedra enforcou-se. (Em outra versão, ela se matou antes de revelar o seu amor pelo enteado). Antígona, filha de Édipo e de Jocasta, acompanhou seu pai na vida de errante em Tebas. Essas viagens sem destino levaram pai e filha até Colono, na Ática, onde Édipo morreu. Antígona regressou então a Tebas, juntando-se à sua irmã Ismene. Seus dois irmãos, Eteoclés e Polinices, que se achavam em campos opostos na guerra dos Sete Chefes contra Tebas, mataram-se em combate diante de uma das portas da cidade. O rei Creonte, tio de Antígona e seus irmãos, proporcionou funerais solenes a Eteocles, que morrera pelejado pela pátria, mas decretou que Polinices não poderia ser sepultado, pois lutara contra a sua cidade em companhia de estrangeiros. Antígona, entretanto, rebelou-se contra o edito de Creonte, considerando o sepultamento um dever mais forte que as leis dos homens, principalmente em se tratando de parentes, e cumpriu, embora sumariamente, os ritos fúnebres de Polinices. Creonte, encolerizado com a desobediência, condenou a sobrinha a ser encerrada viva nas catacumbas de seus antepassados. Condenada à morte em confinamento, enforca-se. Hêmon, noivo de Antígona e filho de Creonte, encontrando-a sem vida, matou-se com um gládio. Sua mãe, ouvindo a notícia do suicídio de seu filho, matou-se, também com um gládio. Ájax, filho de Telamon, rei de Salamina, um dos grandes heróis da guerra de Tróia, participou praticamente de todos os confrontos importantes da guerra, tendo inclusive travado um combate singular com Heitor, no qual levou vantagem sobre o valente adversário. Quando Ájax ainda era criança, Heracles, que visitava Telamon enquanto preparava a primeira expedição de gregos contra Tróia, envolveu-o na pele de leão que sempre usava sobre os ombros, fazendo preces a Zeus para tornar aquele menino invulnerável. Zeus ouviu-lhe o pedido e assim Ájax ganhou a invulnerabilidade, à exceção da axila, do quadril e do ombro em que o herói carregava a aljava com suas flechas. Na parte final da guerra de Tróia, logo após à morte de Aquiles, o papel de Ájax tornou-se mais visível; diante disso ele se julgou com direito às armas do herói morto, que pela vontade de Têtis, mãe de Aquiles, deveriam ser dadas ao combatente grego mais temido pelos troianos por sua bravura. O outro pretendente às armas era Odisseus, e os chefes resolveram interrogar os prisioneiros troianos a esse respeito; estes, despeitados com Ájax por causa de sua contribuição decisiva para a vitória dos gregos, atribuíram o primeiro lugar em bravura a Odisseus, que por isso recebeu as armas. Amargurado com essa injustiça, Ájax enlouqueceu durante a noite anterior ao dia do julgamento, e massacrou os rebanhos destinados a alimentar os gregos, confundindo os animais com soldados inimigos. Na manhã seguinte, recuperando a razão ao sai do desvario em que o lançou Atena, suicida-se com seu gládio. Alceste, a mais bela e piedosa das filhas de Pelias, rei de Iolco, casada com Ádmeto. Somente ela não participou do assassinato de seu pai, quando Medeia, usando sua astúcia e seus feitiços, provocou a morte de Pelias nas mãos de suas próprias filhas. Alceste era uma esposa tão boa e amava tanto o marido, que se ofereceu para morrer em seu lugar. Após sua morte Heracles comovido com sua prova de amor a Ádmeto, desceu ao inferno e a trouxe de volta ao mundo dos vivos. (Noutra visão, foi Persefone que igualmente comovida, tomou a decisão de ressuscitar Alceste e levá-la novamente a Admeto. Alceste leva o devotamento conjugal até o extremo de morrer em lugar de seu marido). Dejanira, filha de Oineu, rei de Calidon, e de Altaia, e irmã de Melegro. Quando Heracles desceu ao inferno em busca de Cérbero, recebeu da alma de Melêagro um apelo para casar-se com Dejanira, sua irmã, que depois de sua morte ficara desamparada. De volta do inferno Heracles, querendo atender ao pedido de Melêagro, teve de lutar contra o deus rio Aqueloo, pois este pedira Dejanira em casamento. Após suas núpcias com Dejanira, Heracles deteve-se em Calidon durante algum tempo, e já teve dela um filho chamado Hilo. Mais tarde o casal deixou Calidon, e no caminho o centauro Nesso tentou violentar Dejanira à margem de um rio, mas Heracles feriu-o mortalmente; antes de morrer, porém, o centauro ofereceu a Dejanira, como se tratasse de um filtro de amor, um líquido preparado com o sangue de seus ferimentos. Chegando a Traquis, Heracles e Dejanira foram recebidos amistosamente por Cêix. Posteriormente Heracles apaixonou-se por Iole, e Dejanira, com ciúme e desejosa de reavivar o amor do herói por ela, mandou a Heracles um manto que impregnara com o liquido recebido de Nesso moribundo. Mal o manto entrou em contato com a pele de Heracles seu corpo começou a ser consumido por chamas que surgiram misteriosamente do manto e causaram a morte do herói no alto do monte Oita. Percebendo tarde demais que fora enganada por Nesso, Dejanira suicidou-se por amor de Héracles. Narciso, um belo rapaz indiferente ao amor, filho do deus do rio Céfiso e da ninfa Liríope. Por ocasião do nascimento de Narciso seus pais perguntaram ao adivinho Tirésias qual seria o destino do menino. A resposta foi que teria uma longa vida se não visse a própria face. Muitas moças e ninfas apaixonaram-se por Narciso quando ele chegou à idade adulta, mas o belo jovem não se interessou por nenhum delas. A ninfa Eco, uma das mais apaixonadas, não se conformando com a indiferença de Narciso afastou-se amargurada para um lugar deserto, onde definhou até que somente restaram dela os gemidos. As moças desprezadas pediram aos deuses para vingá-las. Nêmesis apiedou-se delas e induziu Narciso, depois de uma caçada num dia muito quente, a debruçar-se numa fonte para beber água. Nessa posição ele viu seu rosto refletido na água e se apaixonou por sua própria imagem. Descuidando-se de tudo mais ele permaneceu imóvel na contemplação ininterrupta de sua face refletida e assim morreu. (Noutra versão, Narciso vivia em Tespias, nas imediações do monte Helicon. Um rapaz chamado Aminias apaixonou-se por ele, mas seu amor não foi correspondido. Desgostoso com a insistência de Aminias e querendo livrar-se dele, Narciso mandou-lhe de presente uma espada. Percebendo a intenção cruel de seu amado, Aminias suicidou-se com a espada defronte da casa de Narciso, implorando aos deuses em seus últimos instantes que o vingassem. Mais tarde, vendo seu rosto refletido na água de uma fonte, Narciso apaixonou-se por si mesmo, e no desespero de sua paixão impossível suicidou-se). A história é longa...

Portugal planeja adotar Testamento Vital (Ayala Gurgel)

A exemplo dos EUA que já reconhecem a autonomia do moribundo para decidir sobre questões de não realização de tratamentos intrusivos, reanimação ou ressuscitação, conhecida como Diretrizes (ou Ordens) Antecipadas, o Parlamento português dá mostras de ir na mesma direção. Em discussão pública promovida no Parlamento sobre o chamado Testamento Vital foram várias as posições assumidas, umas mais críticas, outras favoráveis. Do encontro saiu, no entanto, a ideia de que a versão final deste diploma terá que ser ponderada e acolher ainda algumas propostas de alteração, incluindo a sua possibilidade de alteração a qualquer momento, a pedido do moribundo. Uma das ideias sugeridas foi a da criação de um “registo nacional de directivas antecipadas de vontade”, um banco de dados para todos quantos queiram declarar por escrito a forma como querem ou não ser tratados em caso de doença. No Brasil, essa discussão vem sendo feita nas câmaras técnicas de alguns conselhos, como o de Medicina, não separada, como deve ser, ao lado da implementação dos cuidados paliativos como especialidade médica. No entanto, graças à obtusidade de alguns órgãos sociais, que inclusive se intitulam de defensores dos direitos individuais, a autonomia dos moribundos demora em ser respeitada, deixando morrer (ou melhor, não morrer) milhares de pessoas de forma cruel e feia, um show de mystanásia.

Aprendendo a Morrer com Mario Quintana (Erasmo Ruiz)

Continuo a insistir: a poesia é um dos poucos redutos onde podemos aprender um pouco da arte de morrer. Não isso que vemos na TV, as mortes cenográficas, dolorosas, dramáticas. Nem a morte que vemos nos hospitais, os abandonos nos quartos, o lidar com o corpo vivo porém morto à vida num leito de UTI. Falo de preparação, não como uma espera ansiosa mas que tematiza o morrer como algo que expressa também o meu viver para que ele seja mais intenso, porque sabemos agora focar o existente com seu real valor de singularidade e beleza. E quem no ajuda a (re)encontrar esse valor é a percepção de que a morte faz parte do viver. Hoje falaremos de Mario Quintana. Para mim este poeta gaúcho tem a virtude de tornar pesada uma pena e leve um cofre de banco. Mostra sutilezas e complexidades ocultas naquilo que vemos todos os dias e que aprendemos a não "ver" mais. Mario Quintana extrai ouro daquilo que nos acostumamos a chamar de banalidade.. Quintana falou muito sobre a morte, fez inclusive piada dela ao nos lembra que “A morte é a libertação total: a morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos”. Então, não temos mais que nos preocupar com o fato dos lençóis ficarem sujos com a terra do nosso calçado, aliás, talvez a morte seja isso mesmo, a ausência total das preocupações e, por isso, exercício pleno de uma liberdade que não se exercita.. Quintana pode ser um ótimo companheiro de jornada se quisermos discutir a morte. Recomendo essa jornada a todos e, particularmente, aos trabalhadores de saúde já que eles, muito provavelmente, cuidarão do nosso morrer. A questão é: como estão cuidando hoje em dia? Minha resposta é afirmar que o cuidar não pode estar reduzido a mera monitoração de sinais clínicos de um corpo reduzido a suas funções biológicas. As pessoas a beira da morte perdem a singularidade, se transformam massas biológicas a beira da dissolução. Nós somos muito mais do que isso! O morrer grita pelo exercício de outras necessidades: expressa os quereres especialmente reservados para o fim da vida, pela simples razão que são percebidos como sinais da despedida do mundo e de tudo que amamos. Assim, quando formos falar de morte nos hospitais, por que não pensarmos em Mario Quintana? Vejam por exemplo este soneto: Minha Morte Nasceu... Mário Quintana para Moysés Vellinho Minha Morte nasceu quando eu nasci Despertou, balbuciou, cresceu comigo E dançamos de roda ao luar amigo Na pequenina rua em que vivi Já não tem aquele jeito antigo De rir que, ai de mim, também perdi Mas inda agora a estou sentindo aqui grave e boa a escutar o que lhe digo Tu que és minha doce prometida Nem sei quando serão nossas bodas Se hoje mesmo...ou no fim de longa vida E as horas lá se vão loucas ou tristes Mas é tão bom em meio as horas todas Pensar em ti, saber que tu existes (Fonte: QUINTANA, Mário Poesia Completa. Rio de Janeiro:Nova Aguilar; 2005) Quanta leveza para um tema costumeiramente denso e amedrontador...a morte como um ente que nos acompanha desde o nascimento....como uma namorada de infância com quem um dia, cedo ou tarde, nos casaremos. Já utilizei este poema para estimular trabalhadores de saúde em rodas para tematizarem as suas experiências pessoais com a morte, suas primeiras lembranças. O resultado foi muito bom. As pessoas trouxeram recordações, expressaram lutos mal elaborados, produziram ligações com as experiências de morte vividas no cotidiano. Como todo tabú, depois que percebemos que não haverá necessariamente punições por quebra-lo, a porta se escancara e as pessoas meio que perdem o medo, pelo menos de falar, e percebem que o medo da morte e do morrer que as deixa tão vulneráveis, na verdade é o medo de todos. Assim, nos tornamos fortes quando percebemos que o medo é algo que pertence ao mundo, elemento que tipifica a condição humana. Mas Quintana tem mais a nos dizer: Este quarto Este quarto de enfermo, tão deserto de tudo, pois nem livros eu já leio e a própria vida eu a deixei no meio como um romance que ficasse aberto... Que me importa este quarto, em que desperto como se despertasse em quarto alheio? Eu olho é o céu! Imensamente perto, o céu que me descansa como um seio. Pois só o céu é que está perto, sim, tão perto e tão amigo que parece um grande olhar azul pousado em mim. A morte deveria ser assim: um céu que pouco a pouco anoitecesse e a gente nem soubesse que era o fim..." (Fonte: QUINTANA, Mário Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar; 2005) Aqui Mario Quintana apresenta a percepção da morte por quem está morrendo ou, pelo menos, uma idealização do que ela deveria ser. O olhar do moribundo parece expressar esperança nas promessas de um céu que significa descanso, o fim das dores e sofrimento. Compara a morte a este mesmo céu que a semelhança do dia, cede espaço para noite inexorável, um manto que nos cobre e nos livra da ansiedade de saber que é o fim. Novamente, uma bela metáfora da morte que nos afasta das representações terríveis e dolorosas. A partir dessa leitura as pessoas podem ser estimuladas a falar das experiências que vivem nos hospitais, no cotidiano do trabaho, podem compartilhar os sentidos que tem dado a morte, as percepções do que seriam a mortes dolorosas (física e psiquicamente) e como poderiam atuar para minimizar a dor e vulnerabilidade de pacientes e familiares. Vamos terminando por aqui, encerrando da melhor maneira possível, claro, com Mário Quintana: INSCRIÇÃO PARA UM PORTÃO DE CEMITÉRIO Na mesma pedra se encontram, Conforme o povo traduz, Quando se nasce - uma estrela, Quando se morre - uma cruz. Mas quantos que aqui repousam Hão de emendar-nos assim: "Ponham-me a cruz no princípio... E a luz da estrela no fim!"

"Flashs" da Arte Tumular no Cemitério da Recoleta (Cristina Vieira)

olá amigos, o blog thanatos conta com um novo autor. Sou a Cristina, sou psicóloga, especialista em Saúde Pública e tive o prazer de conhecer e trabalhar com o professor Erasmo na especialização, estudo o tema do suicídio e atualmente tenho também interesse na arte que envolve a morte. recentemente pude tirar algumas fotos do cemitério da Recoleta, em Buenos Aires. O cemitério da Recoleta é o mais antigo cemitério público de Buenos Aires, data de 1881. nele estão sepultados heróis da Independência, presidentes da República, militares, cientistas, artistas, intelectuais. a area em volta é considerada area nobre e os imoveis carissímos. ele resistiu ao processo de afastamento dos cemitérios da cidade e ainda fica bem ao lado da igreja. Possui mais de 3oo obras de arte em esculturas belissímas. os caixões chamam atenção pois não estão enterrados, mas guardados dentro de mausoléus onde podem ser vistos por vitrais. Postarei algumas imagens e uma análise pessoal delas. espero poder contar com comentários e impressões. acima um mausoléu negro. estas casas dos mortos tem um estilo próximo do gótico, sombrio. tudo neles traz um sentimento de solenidade e luto. vejamos a imagem mais de perto.
me lembra uma passagem bíblica que diz "... um anjo do senhor te visitará..."
Essa escultura encerra esperanças... esperanças que muitos tem quando pensam no após a morte. mas o artista quis retratar outra coisa. o anjo abre a porta com com uma mão e com outra ele traz flores, a imagem no seu rosto é de tristeza. os anjos também lamentam a morte dessa pessoa. ele vem vistá-la com tristeza e o tumulo é negro simbolizando o luto. detalhes da perfeição do artista, a mão na maçaneta do mausoléu. é isso amigos. estarei nos próximos dias postando mais algumas imagens e comentários. até breve!

A morte não é outro que nós mesmos (Castarlenas)

LA MUERTE NO ES (LA) SINO (NOS) Desde pequeños pensamos -nos han hecho pensar- que la muerte es algo extrínseco. Algo que algún día nos adviene y nos "asesina". Algo que está simbolizado por un macabro esqueleto andante que empuña, aleve, una larga guadaña. Ya sabemos que esta representación es sólo una alegoría: Que la muerte es un "enemigo" apocalíptico que, más bien invisible, se nos acerca como a traición para asestarnos su golpe mortal casi siempre atinado. Algunas veces -pocas- por habilidad nuestra o suerte, decimos de tal o cual lance que nos hemos "escapado" de la muerte. O sea que, a lo más, la vemos ya que no como un mero símbolo, sino como algo que se ha "disfrazado" o "encarnado": que se nos acerca con intención de toro acosante, en aquel camión que nos embiste o en aquella persona drogada que, navaja en mano, nos asalta al filo de la esquina para robarnos con impaciencia. En todos esos casos, la muerte, más o menos disimulada, siempre es llamada "la" muerte, como si fuera, en efecto, un ente extrínseco, objetivo, dialéctico con "mi" vida. Un ente ajeno a mí y que -valga la paradoja- tiene vida propia por su cuenta. Pero, como digo en el título de este artículo, la muerte no es "la" sino que la muerte somos nosotros. Los exigentes y angustiados existencialistas -que ya han quedado un poco sobrepasados filosóficamente- dijeron: somos para morir. Se ha escrito que desde que se nace ya se es bastante viejo como para morir en cualquier momento. La muerte la llevamos dentro. Estamos desde el principio embarazados de ella. La muerte es nuestra criatura primogénita. Más aún: somos pura capacidad de muerte. Esta potencia de morir la vamos convirtiendo, paulatinamente (¿o aceleradamente?) en acto. Es nuestro progresivo envejecimiento. De modo que el microbio que atenta, o el trailer que nos abre la cabeza, o el arma que nos atraviese los hígados, no son más que los detonadores que hacen explotar la muerte que llevamos en nuestras propias entrañas, que somos nosotros mismos. Estas cosas nos "provocan" nuestra muerte; no "son" la muerte. De nada serviría acuchillar a un "ángel inmortal". La muerte no está, pues, en la hoja de acero sino en la vida palpitante que esta navaja desgarra. Yo soy mi hermano más próximo de mí mismo. Y sin embargo no por ello me conozco o comprendo más. Yo soy a la vez mi muerte. No por ello la entiendo más tampoco. Pero sí que por eso la amo y espero mi total realización que se dará cuando se desvele del todo en mí. Por eso puedo llamarla con ternura -y hasta gozo- "mi hermana muerte", pues ella es yo mismo. Alfredo Rubio de Castarlenas Médico.

Comportamento suicida: sugestões para debate

O Japão é o país que tem a mais alta taxa de suicídio do mundo industrializado (02,1 por 100.000 habitantes). Os suicídios não atingiram o número recorde de 34.427 em 2003 (+ 7,1% com relação a 2002) (fonte : AFP 22/11/2004). A taxa de suicídios por 100.000 habitantes era de 03,1 em 1998, um pouco atrás da taxa dos 3 países baltas e da Rússia, Hungria e Eslovênia, onde a taxa é próxima de 30 pessoas por 100.000 (fontes diversas). No Brasil, 4,9 pessoas a cada 100 mil morrem por suicídio. É uma das menores médias do mundo. Os maiores índices são do Rio Grande do Sul (11 para cada 100 mil), sendo Porto Alegre a capital com maior taxa de suicídios (11,9 para cada 100 mil). A cidade brasileira com o maior índice é o Município de Venâncio Aires, com mais de 40 casos a cada 100 mil habitantes. Uma das causas apontadas é o agrotóxico Tamaron, utilizado em larga escala no cultivo do fumo.Também é alarmante o caso da cidade de Jundiaí, com 4 mortos em 2000. Roosevelt M.S. Cassorla, a partir de um referencial psicanalítico, fala em dois modelos compreensivos referentes a comportamentos suicidas, possivelmente as mais comuns em pronto-socorros, na prática do médico clínico e do profissional de saúde mental. No primeiro modelo, chamado de jovens que tentam suicídio, o médico, psicoterapeuta ou psicanalista, recebe geralmente, uma jovem que tentou suicídio e que chega com o rótulo de histérica. A disciplina do profissional de saúde o obriga a eliminar rótulos, preconceitos, supostos saberes e teorias, para observar o paciente, como ele se apresenta. Após as consultas iniciais, caso se permita à jovem formar um vínculo com o profissional, este percebe que a paciente se entrega ao tratamento, quase que se gruda ao terapeuta, criando uma espécie de dependência ameaçadora para o profissional. Logo se percebe que a qualidade desse vínculo encobre ameaças terríveis de desestruturação, de estilhaçamento, de liquefação do ser, na falta de palavras que pontuem o indizível. (...) O segundo modelo, chamado de narcisismo suicida a qualidade desse vínculo encobre ameaças terríveis de desestruturação, de estilhaçamento, de liquefação do ser, na falta de palavras que pontuem o indizível. (...) Trata-se de pessoas exigentes consigo mesmas, comumente com sucesso escolar, profissional ou científico. No entanto, têm dificuldades em lidar com as frustrações do mundo real, e quando se defrontam com elas inclinam-se a tomá-las como fracasso pessoal. Sua vida afetiva é pobre, difícil e desvalorizada frente à área intelectual. Em algum momento, quando as pessoas se defrontam com um vazio intenso, estimulado por supostos “fracassos” dependentes de auto-exigências sádicas, e sem apóio afetivo, o terror inconsciente de “não existência” os faz pensar em morrer. A idéia suicida se articula com fantasias inconscientes de busca de outra vida sem necessidades, de agressão ao ambiente frustrante, auto-punição pelo fracasso, e/ou outras fantasias altamente sofisticadas que dependerão da constituição peculiar de seus mundos internos. A sociedade, por outro lado, estimula a competição e o orgulho profissional, que pode tornar-se arrogância. Quando esta desaba o médico se defronta com um vazio, uma vida sem objetivos, uma sensação de fracasso e um questionamento sobre o viver. Isso pode ser acompanhado de doenças físicas, somatizações, tristeza, atuações sociais (abandono da Faculdade, de profissão, separações conjugais, etc.), depressão (que chamamos “narcísica”), uso de substâncias psicoativas, e, como vimos, idéias suicidas. O risco de acidentes (suicídios inconsciente) aumenta. A facilidade em obter produtos mortíferos por parte de médicos, e o conhecimento pormenorizado de sua ação, implica em maiores riscos de vida. Relações simbióticas podem coexistir com a dinâmica apresentada, ao lado do isolamento afetivo, oscilando entra os dois extremos. Para ler mais sobre essa opinião de Cassorla, veja: Cassorla RMS. Jovens que tentam suicídio e narcisismo destrutivo: dois modelos compreensivos do fenômeno suicida. Medicina (Ribeirão Preto) 2005; 38 (1): 45-48

O Homem e a Morte: Uma poesia de Manuel Bandeira (Erasmo Ruiz)

Os espaços para aprender a morrer são muito exíguos. Como já foi destacado em outros posts, estamos em meio a falta crônica de um processo socializador para a morte. Dai que autores como Maria Julia Kovacs proporem uma educação para a morte. Partindo-se da premissa que a educação se configura como processo formal (o que aprendemos nas escolas, nos currículos estruturados etc) e informal (o que aprendemos mais ou menos de forma espontânea e/ou motivados por interesses diletantes), na ausência de uma "pedagogia" para o morrer objetivamente sistematizada, propomos a companhia dos poetas nessa caminhada como excelente maneira informal para nos prepararmos frente a morte. Neste sentido, cumpre aos poetas serem a matriz de tradições filosóficas e aquilo que Antonio Gramsci chamava de núcleo de bom senso no senso comum. Assim, talvez a poesia seja um dos últimos redutos artísticos com significativa produção cultural sobre a morte e o morrer, produzindo sentidos que podemos nos apropriar para oferecer sentido às nossas próprias vidas. Nos últimos anos podemos dizer que se consolidaram as representações da morte em seu sentido mais negativo. Estamos no reino dos esqueletos e das aberrações monstruosas, de figurações dos corpos em adiantado estado de putrefação nos perseguindo como zumbis. Creio que isso, além de exprimir uma certa percepção coletiva sobre a morte, acaba meio que retroalimentando essa mesma percepção. Haveria alternativa à estas imagens tão feias? Vejamos a seguir um belo poema de Manuel Bandeira: O HOMEM E A MORTE O homem já estava deitado Dentro da noite sem cor. Ia adormecendo, e nisto À porta um golpe soou. Não era pancada forte. Contudo, ele se assustou, Pois nela uma qualquer coisa De pressago adivinhou. Levantou-se e junto à porta - Quem bate? Ele perguntou. - Sou eu, alguém lhe responde. - Eu quem? Torna. – A Morte sou. Um vulto que bem sabia Pela mente lhe passou: Esqueleto armado de foice Que a mãe lhe um dia levou. Guardou-se de abrir a porta, Antes ao leito voltou, E nele os membros gelados Cobriu, hirto de pavor. Mas a porta, manso, manso, Se foi abrindo e deixou Ver – uma mulher ou anjo? Figura toda banhada De suave luz interior. A luz de quem nesta vida Tudo viu, tudo perdoou. Olhar inefável como De quem ao peito o criou. Sorriso igual ao da amada Que amara com mais amor. - Tu és a Morte? Pergunta. E o Anjo torna: - A Morte sou! Venho trazer-te descanso Do viver que te humilhou. -Imaginava-te feia, Pensava em ti com terror... És mesmo a Morte? Ele insiste. - Sim, torna o Anjo, a Morte sou, Mestra que jamais engana, A tua amiga melhor. E o Anjo foi-se aproximando, A fronte do homem tocou, Com infinita doçura As magras mãos lhe cerrou... Era o carinho inefável De quem ao peito o criou. Era a doçura da amada Que amara com mais amor. Ao vislumbrar o poema podemos notar que parece subdividir-se em duas partes. Com relação a primeira estamos mais acostumados. Fala do pavor provocado pela idéia de morrer e do quanto podemos buscar mecanismos (reais e/ou imaginários) para fugir o máximo possível da morte. Ele não quer abrir a porta ao terrível esqueleto...pelo contrário, refugia-se no leito como um símbolo que nega a morte e ao mesmo tempo parece trazer refúgio e conforto. No entanto, quer queiramos ou não, a morte sempre está presente em nossas vidas. Então, o protagonista do poema é surpreendido ao perceber que a morte não era tão terrível assim. E lá esta ela agora representada por uma doce mulher, um anjo, quase a imagem de uma bela mãe a trazer conforto, carinho e paz frente a uma vida de dissabores. Bandeira parece resumir com propriedade os extremos do sentimento com relação a morte e retoma parte da tradição romântica e simbolista ao apresenta-la como uma mulher. No entanto, não existe um acordo. Na verdade, a morte parece ser as duas coisas ao mesmo tempo. Algo que traz medo pela dissolução que provoca, pelo convite ao desconhecido, mas também algo que não poderemos a nos furtar em encontrar um dia. Não seria melhor então investir nessa segunda imagem, pensarmos num anjo que proporciona refúgio, mesmo que, em certa medida ainda sejamos tomados pelo medo? Que fique então a lição de Manuel Bandeira. A morte pode entrar em nossas vidas a qualquer momento pois lá está ela sorrateira batendo à porta. Quando isso acontecer, não haverá escapatória. A intensidade de sofrimento e dor nesse instante dependerá então de qual imagem cultivaremos. Penso, repenso e não consigo encontrar quase nada que seja mais reconfortante que o abraço da mulher amada! ERASMO RUIZ