A migração da morte ou o turismo suicida (Ayala Gurgel)



Graças aos interditos do pleno exercício da dignidade humana que existem na Europa (ao contrário do que se propaga, nunca acreditei que o velho continente fosse exemplo de humanismo), centenas de pessoas migram de seus países - e também de outros continentes - rumo à Suiça, Bélgica, Holanda e Luxemburgo em busca do exercício do seu direito de morrer.
Como nesses países o suicídio assistido é permitido e regulamentado pelos seus conselhos de Medicina, diversas clínicas especializadas, como a Dignitas, organizam viagens de estrangeiros com essa finalidade. Só na Suiça, dos 1.360 suicídios que ocorreram no ano de 2007, 400 foram assistidos. Estima-se que a maioria de estrangeiros, especialmente britânicos.
Há muito lucro em cima disso, é verdade, mas isso só acontece porque, com exceção dos quatro citados, nenhum outro país europeu concede tal direito, muito embora se propaguem ao mundo como guardiões dos direitos humanos e do exercício da dignidade humana.
É bastante comum encontrarmos grupos anti-suicidas (ou como se denominam, pró-vida) que fazem protestos, piquetes, denúncias, petições e tudo o mais que podem dentro da lei e fora dela, com o intuito de reduzir o número de clínicas e países que já regulamentaram tal prática.
Na Suiça, há uma petição junto ao Conselho Federal para proibi-la, usando como argumento o comércio desse tipo de turismo. O argumento é bastante falacioso, pois o turismo suicida só existe porque em outros países a prática é proibida.
Os órgãos deliberativos desses países procuram uma solução intermediária (a mais viável seria pressionar os demais países a regulamentarem o suicídio assistido e a eutanásia) que possa garantir os direitos dos seus cidadãos ao mesmo tempo que não "ofenda" à soberania dos vizinhos. Algumas estratégias estão sendo aplicadas como redução do público assistido (somente moribundos conscientes, cuja condição tenha sido posterior à sua entrada no país - para os que não são nativos), exigência de parecer de mais de um médico, proibição de ganhos comerciais e realização do ato sem outros interesses, a não ser a ajuda ao próximo.
Enquanto isso, o turismo suicida irá continuar, do mesmo modo que irá continuar a prática ilegal do suicídio assistido em muitos outros países, o suicídio solitários em pontes e trens, pois, questões religiosas à parte, o direito de tirar a própria vida quando essa não vale mais a pena ser vivida é uma prática recorrente na história da humanidade, e não vai ser um punhado de executivos que irá modificá-la.

O álcool, a morte e a filosofia (Ayala Gurgel)


A filosofia tem uma tendência histórica para fazer exaltações inoportunas, quando não irresponsáveis. Inoportunas porque perde uma boa oportunidade para a manutenção do pensamento crítico, que lhe é tão característico. Irresponsável porque os danos de tais exaltações não são mensurados enquanto consequência de reflexões filosóficas, mas como decisões do indivíduo. Refiro-me, mais especificamente, às exaltações de comportamentos auto-destrutivos como o abuso de álcool e outras drogas, comportamentos suicidas e para-suicidas, ou de transtornos mentais como esquizofrenia, mania, depressão e comportamentos antissociais.
Evidentemente que isso não é a filosofia. São alguns filósofos, cujo culto é bastante difundindo entre mentes mais fracas, que fazem tais exaltações. Aliás, até parece ser uma regra para ser considerado um grande filósofo: apresentar comportamento auto-destrutivo, abusar de álcool, ser esquizofrênico e ter algum grau de pedofilia ou psicopatia. De todos esses, abuso do álcool se sobressai. Sócrates era elogiado porque já tinha desenvolvido resistência ao álcool. Dos prazeres libertinos, esse é o mais cultuado na filosofia. E pena saber que ela rende toda sua criticidade, abandona a razão e se entrega em uma taça de vinho, cujo maior argumento, segundo Khayyam, é o de que o vinho foi feito para ser bebido mesmo.
Mas, qual o problema com isso e o que tem com a tanatologia?
O abuso de álcool foi responsável, no período de 1998 a 2002 por 5,8 óbitos/100.000 homens, o que representa 83,3% dos óbitos por distúrbios mentais entre homens e 34,8% entre as mulheres.
Ele é, assim como a morte, um problema de saúde pública, uma questão social.
Pensar em morte hoje é imaginá-la como uma questão de saúde pública. A morte e o morrer fazem parte dos rituais sociais. O estado está obrigado por lei (e pela moral) a gerenciar a morte e o morrer, desde a morte física do indivíduo à morte social. Deste modo, a morte e o morrer são questões sociais que envolvem o patrimônio público (material e simbólico) e o poder designado para administrá-lo, que passam pela segurança e assistência na garantia da vida ao nascer, ao viver e ao morrer.
Dentro deste contexto de morte social, nada mais representativo que o uso de drogas, lícitas ou ilícitas, por ser um fenômeno social que carrega consigo vários espectros construídos no imaginário social, mobilizando sentimentos e preconceitos, posturas contraditórias e movimentando a indústria capitalista e o os serviços públicos e privados de assistência à saúde. Tais sentimentos estão envolvidos tanto com a sua massificação positiva, do tipo que se “vende alegria numa lata de cerveja”, quanto à sua massificação negativa, do tipo que “usuário de droga é marginal”. Reforçadores que afetam significativamente o bem-estar das pessoas que convivem e usam álcool e outras drogas, em especial, quando já têm comportamento dependente de tais substância químicas.
No entanto, a vida dessas pessoas não tem sido fácil, pois além da dependência orgânica, a convivência com as exigências sociais de sucesso, empregabilidade, vida saudável e convívio familiar têm sido interditadas pelo comportamento excludente contra o dependente químico, seja na qualidade de encontrar reforçadores para mantê-lo dependente, seja na qualidade de não encontrar apoio para se libertar da dependência e ser inserido em outras contingências. A esse tipo de exclusão dar-se o nome de morte social.
Se a filosofia recuperasse a sua reflexão crítica iria abandonar certos discursos prontos ou herdeiros de outros contextos sociais determinados sob outras circunstâncias. Iria refletir mais sobre o que significa mesmo a esquizofrenia, o alcoolismo, a pedofilia... Ela que já sondou tantas questões, algumas tão sem sentido, porque ainda não fez essas? Porque ainda não questiona a própria doença dos filósofos? Talvez porque refletir sobre a própria doença seja um passo para a cura, e cura é algo que um pensamento mórbido, hipocondríaco não deseja.
Enquanto isso, bebamos e morramos, amanhã a lua pode nos procurar em vão...

Sobre a Eternidade (Marco Antônio Florentino)

Lembrando-me de que nos casamentos (e também nas fábulas) o padre finaliza: e que sejam felizes para sempre (ou viveram felizes para sempre), escrevi esse texto sobre ETERNIDADE. Nunca me iludi com essas questões sobre eternidade... somos finitude e concretude. Nossa história existencial começa quando apreendemos a racionalidade, ou seja, a capacidade de pensar o mundo e a nós mesmos; continua no processo da ação vivencial e termina no desvelar do ser, ou melhor dizendo, do sentido do ser... a morte e, a partir daí, o NADA. ¨Khayyam, não te aflijas por seres um grande pecador! É inútil a tua tristeza. Depois da morte virá o NADA ou a misericórdia¨ (Omar Kháyyam). Isso é niilismo? Claro que não, afinal, é justamente na angústia da consciência de todo este ciclo existencial, que faz com que preenchamos o vazio das nossas existências, seja na arte, no trabalho, no prazer, no sofrimento, no amor, no mêdo ou na felicidade. Em suma, há que se viver intensamente o momento existencial, com suas contradições, interrogações, provocações, certezas, sonhos e mistérios. Observem o recurso de linguagem que utilizo para enfatizar o que digo, com diversas palavras que expressam diferentes sentimentos. Assim o faço para representar, de forma mais aproximada , o que é nossa existência, aliás, nosso MOMENTO existencial, que não carrega o passado, que é projeção e não se atrela ao futuro, que é antecipação. Talvez assim possamos superar a ANGÚSTIA da nossa condição de ¨SER PARA A MORTE¨. Mas tem que ser um processo cíclico, pois só na angústia nos tornamos autênticos, sendo esta, portanto, necessária. Novamente Khayyam: ¨Os dias passam rápidos como as águas do rio ou o vento do deserto. Dois há, em particular, que me são indiferentes: o que passou ontem, o que virá amanhã¨. Quanto à questão genética, compreendo-a análogamente como as teorias espíritas da reencarnação, só que do ponto de vista físico ou fisiológico. Com o tempo, a fragmentação do ser em inúmeros outros seres descaracteriza a sua identidade, que antes representava sua alma e que, na pequenez da nossa memória, também desaparece, como um ente perdido na linha incognoscível do espaço e tempo. Entretanto, na obra de arte, a representação ôntica permanecerá infinitamente além da sua representação ontológica. Já na questão religiosa... bem, esta eu prefiro me calar. E tome Khayyam: ¨Que vale mais? Fazer exame de consciência sentado na taverna ou prosternado na mesquita? Não me interessa saber se tenho um senhor e o destino que me reserva¨.

Até que a Morte Nos Una: Francesa se casa com Namorado Morto (Erasmo Ruiz)

Não é piada mórbida. Aconteceu esta semana na França. Magali Jaskiewicz morava junto com seu namorado Jonathan Goerg. Os dois já tinham dois filhos e, então, resolveram se casar de papel passado. Dois dias depois de terem entrado com os papeis para a realização do casamento, Jonatthan morreu num acidente de carro. O que seria um impedimento natural em qualquer lugar do mundo não ocorreu na França. É que lá a legislação permite essa forma de casamento desde que o morto tenha manifestado em vida (lógico) o interesse em se casar. Para que isso aconteça, depois de alguns trâmites, deve haver autorização formal do Presidente de da República. O casamento aconteceu em Dommary-Baroncourt, no leste da França. Magali usou o vestido de noiva comprado há um ano. Jonathan se fezx "presente" a partir de uma foto colocada num cavalete. Depois da cerimôonia Magali disse não estar muito animada para festejos mas ainda assim estava feliz por se casar. Uma história triste, ao mesmo tempo lírica e romântica. Mas, fora o romantismo, há que se destacar uma questão importante. Não parece ser um sinal de uma cultura que respeita a vontade dos indivíduos, mesmo que estejam mortos? Com a palavra o nosso querido Doutor Ayala Gurgel, expert em direito social dos moribundos.

Cemitérios Virtuais: Sendo "Sepultado" na Internet (Erasmo Ruiz)

Nem só de blogs, sites de relacionamento e pornografia vive a grande rede. Entre coisas mais interessantes, podemos vislumbrar a possibilidade de sermos "sepultados" em cemitérios virtuais. Em tempos onde tudo passa muito rápido e a capacidade de perda de memória coletiva parece competir com nossa capacidade ampliada de registra-la, a internet pode se transformar em espaço para celebrarmos publica ou privadamente a memória de nossos entes queridos ou, então, buscarmos informações onde nossos antepassados ou mesmos ídolos famosos estão enterrados. Mas vamos ao que interessa. Entre os cemitérios virtuais destaca-se o Le cimetière virtuel site francês pioneiro onde por pequenas taxas em euro você poderá comprar "tumbas" escrever epitáfios e depositar flores. Há espaços dedicados a fotos e obituários bem como segmentações por idade, religião ou gênero. Mas se o seu francês não anda lá essas coisas, não tem problema. Você pode visitar o campavirtual.com site português (ou "sítio" como gostam nossos irmãos lusitanos), com tons mais sóbrios que oferece opções similares embora mais restritas. Ah, gostei muito das flores embora tenha achado o cemitério português muito desanimado. Por fim, se você quer saber onde está enterrado Oscar Wilde ou o Presidente Kennedy nós temos a solução: basta pesquisar no "Find a Grave" , uma mina de ouro não só para quem gosta de ir tanaticamente atrás de celebridades que não estejam tanto assim em evidência mas que também goste de arte tumular ou de fazer viagens virtuais por cemitérios. Realmente, este site oferece inúmeras alternativas para surfar na net enquanto vamos pensando na morte. Agora, como tudo o que acontece no mundo da grande rede, abre-se uma enorme cortina para acessarmos inúmeras informações mas parece que nada pode substituir o prazer real de visitar um cemitério enquanto respiramos história e memória, e vamos refletindo sobre a própria vida!

Filmes de Guerra como Cultura de Paz: Formas e Formas de se Morrer (Erasmo Ruiz)

O cinema faz parte do cotidiano da vida da maioria de nós, em particular, o cinema norteamericano. Os filmes comparecem mesmo que ninguém vá ao cinema. Temos a TV, temos também a publicidade, temos metáforas que a semelhança de "A Rosa Púrpura do Cairo" de Wood Alen, abandonam. as telas e adentram em nossas vidas na forma de diretivas ou sinalizações práticas de comportamentos e hábitos. Particularmente admiro o cinema americano e rotulo como preconceituosa a crítica que opõe um cinema de arte frente a um cinema comercial, até porque, numa sociedade capitalista, o cinema é também mercadoria e, desta sina, não escapa nem um bom filme de Ingmar Bergman. Prefiro afirmar que existem filmes ruins e filmes bons. Óbvio dizer que o "bom" e o "ruim" são arbítrios com todos os riscos decorrentes. Outro dia depois de rever um velho western - "Matar ou Morrer" com Gary Cooper e uma belíssima Grace Kelly em início de carreira - fiquei me perguntando como pensaríamos nossa morte se o cinema não existisse. A morte quase sempre foi mostrada no cinema como um evento doloroso, outras vezes heróico, pincelada com sentidos práticos (ela deve existir para punir o vilão e/ou consagrar miticamente o heroi etc). Mas até o início dos anos 60, o público era poupado de detalhes mais realistas como sangue ou visões anatômicas de cortes e fraturas. Hoje, filmes que abusam de cenografias mórbidas tem consultores na área médica para buscarem realismo quando, por exemplo, a carótida é cortada ou uma bala atravessa a femural. Nossa imaginação é absolutamente desnecessária, basta ver a imagem e sentir todo o horror dela decorrente. Mas, de fato, aprendemos alguma coisa quando vemos filmes como "Jogos Mortais" ou o eterno acumular de frios assassinatos em "Sexta Feira 13"? Do meu ponto de vista, filmes com esta estética explícita da morte são meramente catárticos. Servem para que nós, curiosamente, possamos ver a morte protegidos pela barreira da arte, são expressões do exibicionismo e espetacularização de uma sociedade que transformou a morte em tabu, em evento médico e higiênico. Os filmes com este tipo de conteúdo são janelas entreabertas para desfrutarmos de uma certa busca de olhar a barbárie sem necessariamente exerce-la, mas podendo, de certo modo, aprecia-la esteticamente e ainda sermos julgados como pessoas "normais". Mas existem filmes mais "pedagógicos". Por exemplo, filmes de ação transformam a morte em problemas práticos, resultado da perícia do herói em atirar e magicamente desviar-se das balas. Filmes e video-games são extensões um do outro. Bruce Willis nos seus "Duro de Matar" é na verdade um assassino que representa a platéia e sua sanha de combater o mal sem morrer durante a tentativa, filmes que seguem as trajetórias já iniciadas por Clint Eastwood ou Charles Bronson. Como "matadores" que se identificam com seus personagens, somos estimulados à indiferença com quem é assassinado sistematicamente na tela, afinal, o fato de serem maus rouba deles a condição de humanidade. Essa parece ser a chave da questão. Os filmes de ação para serem assimilados e consumidos devem retirar dos mortos toda e qualquer identidade que expresse sua humanidade, só assim a morte pode ser aceita como se houvéssemos matado um cão raivoso. Para isso, o conhecimento bélico e uma boa pontaria são atributos essenciais...tiros e mais tiros...explosões e corpos decepados para o delírio da platéia. Mas existem outras situações em que a morte violenta se expressa com numa estética decididamente realista que vai além da caracterização de ferimentos. Falo aqui de alguns filmes de guerra (uma minoria infelizmente) como "Platon", "O Resgate do Soldado Rayan", "Johnny Vai a Guerra", "Pecados de Guerra", "Nascido para Matar" , "Nascido a 4 de Julho" ou "Gloria Feita de Sangue". Evidentemente, a análise de todos estes filmes comportaria um livro. Entretanto, tomemos como exemplo o filme "O Resgate do Soldado Ryan" de Steven Spilberg. Não entrarei numa discussão mais prolongada sobre história e roteiro. Queria destacar apenas como a morte comparece no filme. Spilberg não quer poupar o público. Mas, diferente do que estamos acostumados a ver, ele nos traz também todo o impacto emocional que a morte violenta e dolorosa provoca. Desde as imagens iniciais quando a morte é mostrada como evento absolutamente aleatório (como o soldado que escapa da morte porque a bala resvala no seu capacete para no segundo seguinte ser alvejado e morto), ficamos a perguntar qual o sentido de todo aquele sofrimento. Nos irmanamos com o desespero do soldado que procura pelo braço que doi decepado pela explosão. O recado está dado. Isso não é uma brincadeira, as pessoas morrem de forma franca e honesta. Numa guerra, a morte se mostra dolorosa e intensa. Mais pela metade do filme, o oficial médico que está no pelotão que procura o Soldado Ryan é alvejado no ventre. Como médico, ele sabe todas as decorrências técnicas da sua lesão na medida em que é informado pelos companheiros sobre suas características. Desesperado, chora e grita pela mãe. O que aconteceria se esta forma de mostrar a morte fosse a usual no cinema? Será que as pessoas se mobilizariam com tanta facilidade para lutarem numa guerra? Provocativamente eu diria que filmes aparentemente belicistas como "O Resgate do Soldado Ryan" são na verdade importantes recursos para se construir uma cultura de paz ao mostrarem que por trás dos rostos de quem morre existem atributos que caracterizam cada individualidade perdida como essencialmente humana. Fica a sinalização de que a morte com dor e sofrimento é DESUMANA e nada pode justificar que ela aconteça dessa forma.

O que Lembrar no Dia de Finados? (Erasmo Ruiz)

A pergunta pode parecer desprovida de sentido, afinal, o nome do dia já nos alerta que devemos (ou deveríamos) celebrar a memória daqueles que já morreram. A origem do dia de finados se perde no remoto passado do cristianismo. Durante séculos, os cristãos realizaram peregrinações aos túmulos daqueles que haviam morrido em martírio. Com o tempo desenvolveu-se a crença que a visita a estes túmulos favorecia a ocorrência de milagres. Mas o que acontecia à memória dos mortos comuns, aqueles que não haviam sido mortos pela sua fé? A maioria era relegada ao esquecimento. Assim, em alguns momentos do ano, buscou-se celebrar um período onde os mortos comuns pudessem ser relembrados e serem objeto de intercessão dos fieis. A partir do século XI a Igreja incorpora oficialmente essas celebrações e é no século XIII que o 2 de novembro passa a ser comemorado logo após o dia de todos os santos (1 de novembro). O que se percebe é que. nos últimos anos, essa data parece estar perdendo sua importância dada a transformação de hábitos e costumes impostos pela mercantilização da sociedade. Lembro-me que na minha infância (40 anos trás) as rádios tocavam música ambiente por todo o dia e as pessoas eram estimuladas a permanecerem em casa. Qualquer comportamento tido como mais extrovertido era recriminado pelos mais velhos. Meu imaginário foi povoado por histórias de punição divina daqueles que teimavam em achar que o dia dos mortos era um dia como outro qualquer. Hoje, podemos ir ao cinema, passear no zoológico e alimentar os macacos sem culpa. A laicização da morte e o redesenho da sua inserção no profano pode fazer com que parte de nós passe o dia de hoje sem pensar na morte e no morrer. Mas é neste ponto que peço mais a atenção de todos. Talvez o papel mais importante do dia de hoje não seja tanto a celebração da mermória dos mortos mas também nos lembrarmos de maneira inequívoca da nossa própria finitude. Em dias mais próximos ou distantes, seremos nós mesmos os "homenageados" neste dia. O que torna o dia de finados algo mais desalentador não é tanto o fato de ser um dia sobre a morte mas talvez o fato de que no dia específico sobre ela, parte de nós vai se esquecendo daqueles que nos precederam neste mundo. O medo da morte esconderia então um medo maior, que sempre esteve ao lado do medo de morrer, o medo de ser esquecido. A conclusão é singela. Se quase todos não se lembram ou não sabem do nome de seus tataravós, significa dizer então que nossos tataranetos não saberão mais dos nossos nomes. Estará cumprida então a profecia do poema "Morte Absoluta" de Manoel Bandeira: Morrer. Morrer de corpo e de alma. Completamente. Morrer sem deixar o triste despojo da carne, A exangue máscara de cera, Cercada de flores, Que apodrecerão – felizes! – num dia, Banhada de lágrimas Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte. Morrer sem deixar porventura uma alma errante... A caminho do céu? Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu? Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra, A lembrança de uma sombra Em nenhum coração, em nenhum pensamento, Em nenhuma epiderme. Morrer tão completamente Que um dia ao lerem o teu nome num papel Perguntem: "Quem foi?..." Morrer mais completamente ainda, – Sem deixar sequer esse nome. Podemos assim, tirar duas metas no "Dia de Finados". A primeira é que se lembrar daqueles que já partiram não traz necessariamente vida aos mortos mas a nós mesmos. Pode ser um dia em que demarcamos melhor as nossas individualidades e podemos perceber nossas virtudes e defeitos como parte da herança que nos foi legada. Celebrar a memória faz com que possamos nos olhar no espelho da história e, de forma mais diligente e consciente, buscar melhorar a própria imagem. A segunda é trazer à tona a percepção cristalina de que esse dia não pode ser percebido com indiferença, é trazer a morte para a equação da vida como algo que nos faz refletir sobre escolhas e caminhos. A morte nos lembra que a vida é preciosa demais para ser desperdiçada! Assim, no dia de finados, celebremos também a busca da plenitude da vida!

Death Bonds: Títulos da Morte no mercado financeiro (Ayala Gurgel)

Cada dia novidades sobre a mercantilização da morte aparecem nos meios de comunicação. Desde 2007, os investimentos de riscos são o atrativo para quem tem seguro de vida e precisa de uma graninha. Se você tem algum seguro de vida, já tem certa idade, um idoso para falar a verdade (e quando mais com o pé na cova, mais valor de mercado terá) e precisa urgente de uma grana, poderá vender seu seguro por até 40% do valor da apólice a um banco, que o transformará em título financeiro (bond) para ser revendido a investidores no mercado financeiro. Como o investidor ganhará em cima da morte do segurado, esse título tem sido chamado de Death Bonds: Títulos da Morte. Quanto mais cedo o segurado morrer, maior o lucro do investidor. Bancos como o Goldman Sachs e o Credit Suisse, através da Life Insurance Settlement Association, já estão nesse mercado, comprando essas apólices de segurados que necessitam levantar dinheiro com urgẽncia. Mais informações podem ser obtidas no site: http://www.businessweek.com/magazine/content/07_31/b4044002.htm

Wal-Mart e a Mercantilização da Morte (Mariana Farias)

Essa notícia está rodando na net, mais especificamente sob o comando da BBC Brasil, e diz respeito direto às formas contemporâneas de mercantilização da morte.
A maior rede varejista do mundo, a Wal-Mart, começou a vender caixões em seu website.
A rede, que vende desde roupas, acessórios e fraldas para bebês até alianças de casamento, agora pretende manter a lealdade dos clientes até depois de sua morte. Os preços variam de US$ 895 (cerca de R$ 1.575) por um modelo de aço, até US$ 2.899 (cerca de R$ 5.102) por um modelo de bronze. A rede de supermercados permite que os clientes paguem os caixões em até 12 prestações, sem juros. Os caixões ficam prontos para entrega em 48 horas.
Um porta-voz da Wal-Mart Ravi Jariwala disse que a nova linha de caixões é "um teste limitado para entender a resposta dos clientes". Os preços da Wal-Mart são mais baixos do que o de muitas casas funerárias. Mas um porta-voz da indústria disse que não está muito preocupado com a concorrência porque, segundo ele, a rede varejista não oferece às famílias em luto o "toque humano". Pat Lynth, da Associação Nacional de Diretores de Casas Funerárias, disse à agência e notícias AP: "Não há nenhuma dúvida para mim, que sou diretor de uma casa funerária há 40 anos, que o elemento mais crítico é o contato humano".

O luto por animais: a difícil tarefa do desapego (Mariana Farias)

Há algumas semanas quando assistia a um famoso talk show brasileiro, a entrevista de uma atriz provocou-me, ao mesmo tempo, gargalhadas e reflexões. Como que ela fez isso? Falando de morte!! Em suma, sua entrevista consistiu em relatos sobre seus inúmeros animais de estimação e a forma, precoce ou não, em que se dava a separação: a morte. Relatou que sempre que o fatídico acontecia, enterrava os bichinhos no beiral de sua janela, com direito a cruzes e flores para o falecido. Até ai, tudo bem! Eis que surge um certo periquito em sua vida. Ela cuida dele com todo carinho e dedicação, até este ter o mesmo destino que os demais bichanos, ou melhor, mesmo após ele ter esse mesmo destino. Pois este não ganha um simples jazido na janela com flores e cruzes, o que ela faz? Congela-o por CINCO ANOS, no freezer de sua casa, saindo só para ser empalhado. ‘De volta à vida’, participa das festas em família, da decoração e até das entrevistas. Após algumas risadas, certas questões permeavam minha mente. Como explicar tal tipo de comportamento? Para entender a situação devemos saber com que se relaciona o processo do luto. Segundo estudos de Freud (1976), Worden (1998) e Bowlby (2004), está associado a muitos comportamentos e doenças com os quais o profissional de saúde (especialmente o de saúde mental) se depara. A forma como o luto é elaborado pode tanto estar associada à capacidade que o indivíduo tem para restabelecer a sua vida quanto a de não conseguir fazê-lo. Ou a outras questões, tais como, abuso do álcool e outras drogas, inclusive medicamentosas, exacerbação da morbidade e mortalidade etc. Uma palavra que descreve bem o comportamento da referida atriz é APEGO, para a qual Bowlby tem teoria com mesmo nome. A Teoria do Apego apresenta 13 generalizações que postulam o apego como criação de laços ou vínculos entre indivíduos para além da satisfação de certos instintos biológicos, como a alimentação e o sexual. O apego ocorre mesmo quando não há reforço dessas necessidades biogênicas. São, como escreveu Worden (1998, p.19), oriundos da necessidade de segurança e proteção. Por isso, são formados bastante cedo e direcionados a poucas pessoas. Na soma dessas generalizações tem-se que a teoria do apego é, conforme Worden (1998, p.19) escreveu: «(...) um meio de definir a tendência dos seres humanos de estabelecer fortes laços afetivos com outros, e uma forma de compreender a forte reação emocional que ocorre quando esses laços ficam ameaçados ou são rompidos». Tais laços são essenciais para se compreender a origem da dor e do sofrimento advindos da perda de algo ou alguém. Se alguém estabelece laços tão fortes com outros é porque existe a necessidade de segurança e proteção para a própria manutenção da sobrevivência. A ruptura desses laços é sempre vista como uma ameaça, não só à vida do indivíduo, mas à da espécie. O processo de luto, portanto, é um processo de luta de sobrevivência, tanto desse indivíduo quanto da espécie, que nele se recupera e garante a sua continuidade.

O Recalque como Expressão Artística: A Morte como Objeto (Erasmo Ruiz)

O que está reprimido sempre busca formas de expressão. Não se trata de pensar esse conceito apenas como a psicanálise o faria mas pensarmos a semelhança de Nobert Elias, qual seja, no sentido de como o processo civilizatório em seu desenvolvimento busca (re)frear determinados comportamentos considerados inadequados para este ou aquele objetivo socialmente constituído. Óbvio que os indivíduos pagam seu preço por isso. No passado a repressão sexual, muito mais marcante, ajudava a constituir rico e diverso quadro de transtornos mentais. Mas, como todo recalque, a estética consagrava formas específicas de sua liberação. A arte, por excelência, sempre foi um mecanismo para tal. Basta pensarmos que é no auge da repressão vitoriana que encontraremos a beleza da estatuaria mortuária em suas transparências, expondo seios, mostrando contornos semi-encobertos. Ao visitar um cemitério mais antigo perceberemos com alguma boa vontade que morte e erotismo parecem produzir uma estranha e atrativa mistura. Mas não precisamos recuar tanto ao passado. Representações da morte comparecem de forma marcante na arte contemporânea. Será que a relativa excclusão social dessa temática produz o seu ncontrário, ou seja, favorecem com que o tema se torne especialmente atrativo? Como tudo que é recalcado, há sempre a exigência mais ou menos velada para sua expressão. Tradicionalmente as artes plásticas já trabalharam com modelos mortos, transformando-os em desenhos e pinturas. Noutras circunstâncas, mortos "pousam" como vivos, uma forma de "memento mori"que nega e ao mesmo tempo afirma a morte. Mas gostaria nesta, e em próximas postagens, explorar a radicalidade da morte enquanto obejto artístico. Em quê se constituiria essa radicalidade? Trata-se de sinalizar que, no limite, a própria morte, o corpo morto, os restos mortais, ossos, esqueletos, os instrumentos para produzi-la, enfim, as expressôes materiais da morte, como expressões materiais da realidade, podem ser transformados em objetos e conceitos artísticos, por mais que isso possa ofender sensos estéticos consolidados, até porque esse é um dos papéis da arte, funcionar com certo espírito de vanguarda e, volta e meia, contrapropor um novo olhar sobre o real. Queria por em destaque o trabalho de Lucinda Devlin, fotógrafa norteamericana que, com aguda percepção, nota que existiria uma suspeita semelhança entre os espaços de cura com os locais de execução de condenados a morte. No trabalho intitulado "Omega Suite" Lucinda expõe uma série de fotografias onde vemos cadeiras elétricas, salas de câmara de gás e recintos para injeções letais. Ela explora o domínio dos espaços interiores como marca da cultura americana e percebe essa marca também no terreno da morte. Lucinda mostra "mementos mori" típicos do nosso tempo, onde a cultura higienista atinge nossas vidas e regulam nossa morte, aconteça ela num hospital ou numa elaborada sala de execução. Ela não tem objetivo de questionar a pena de morte com o seu trabalho mas, claro, como arte, sua proposta ganha autonomia e assume novos significados para todos que dela usufruem. Embora não vemos nenhum homem nas fotos, é impossível não imaginar os virtuais sofrimentos psicológicos de quem irá se deparar com a morte sem subterfúgio alguum. Teria sentido essa barbárie revestida de aparato tecnológico e higiênico? A pena de morte não nos transformaria todos em assassinos na medida em que o Estado assume a função pública de matar em nosso nome? Deixo com vocês as imagens de Lucinda Devlin!

Mercantilização da Morte: Eros e Thanatos à Venda (Ayala Gurgel)


Já sabemos que a morte (ou pelo menos, os rituais e simbólos tanáticos) virou uma mercadoria capitalista como outra qualquer. Autores como Geoffrey Gorer, Jean Baudrilard, Jessica Mitford, Ayala Gurgel, Erasmo Ruiz, João José Reis, Josué de Castro, Ivan Illich entre outros já publicaram sobre isso. A novidade, da nossa época é que podemos ter produtos fúnebres em casa, mais próximos e menos agressivos (mais esteticamente trabalhados).
E, nada melhor para nos lembrar de um produto capitalista que precisa ser consumido do que os calendários. Eles anunciam de tudo: carros, pratos, casas, mulheres, crianças, animais, e, porque não, a morte.
Os antigos maias tinham em seus calendários a figura da morte (geralmente à sombra do sol). Ela conta o passar dos tempos, como o próprio tempo. Isso talvez para nos lembrar que não é o tempo que passa, somos nós que passamos.

Uma funerária italiana vem inovando nesse ramo já a alguns anos. O calendário de 2010 já está pronto e custa 9,30 euros. Ele, seguindo a lógica dos anteriores, reúne Eros e Thanatos em uma mesma mercadoria.
O calendário mostra a cada mês uma mulher ao redor de um modelo de caixão, que pode ser encomendado na loja da Cofanifunebri, em Roma.

Workshop de Biblioterapia (Lucélia Paiva)


A literatura infantil como recurso para falar de temas existenciais
 
De 13 a 15 de Novembro no Rio de Janeiro/RJ
 
Sexta-feira: das 17 às 20 h
Sábado: das 09 às 18 h
Domingo: das 09 às 12 h
 

Com Lucélia Paiva - CRP 06/16.410
Doutora em Psicologia - USP;
Mestre em Ciências (Oncologia) - Hopsital A.C. Camargo/SP
Psicóloga clínica e hospitar
www.luceliapaiva.psc.br



OBJETIVOS:
Preparar o profissional para trabalhar com possíveis situações de perda através de vivências e reflexões críticas da prática ampliando a percepção de si mesmo e do outro.
 
Público alvo:
Profissionais e estudantes de Psicologia, de Educação e Contadores de histórias.
 
Metodologia:
O curso será teórico e vivencial, com exposição e discussão do tema em questão, além de exploração de livros infantis e dinâmicas.
 
Conteúdo:
  •       A literatura infantil
  •       Ler, ouvir e contar histórias.
  •       A função humanizadora da literatura infantil
  •       Biblioterapia
  •       Exploração dos livros infantis referentes às temáticas
  •       Desenvolvimento da criança e a aquisição do conceito de morte: compreensão cognitiva e afetiva
  •       Reflexão sobre as várias perdas vividas e uma ressignificação na vida no acolhimento a tais perdas.
 
Investimento: R$ 200,00
 
Inscrições:
  •     Antecipadas até dia 30 de Outubro com 20% de desconto
  •     Ou duas parcelas de R$ 100,00 (13/out. e 13/nov.)
 
Vagas limitadas: 20 participantes – vagas garantidas somente mediante o pagamento integral
 
Local: Tijuca
 
 
Informações e inscrições:
Lucélia E. Paiva
Tel. (11) 9962-9568
lucélia_paiva@uol.com.br
 
Fátima Cristina
Tel. (021) 9625-5467 ou 2234-3695
fatimacmsantos@terra.com.br

Forum de Bioética discutirá Morte Encefálica e Doação de Órgãos (Ingrid Esslinger)

Fórum de Bioética
               Tema: “Morte Encefálica em pacientes não doadores:
               implicações bioéticas e jurídicas”
Data: 28 de outubro de 2009
Horário: 19h
Público Alvo: Profissionais da área de Saúde
Local: Hospital Alemão Oswaldo Cruz - Auditório - Bloco B (14o andar)
           Rua João Julião, 331 – Paraíso – São Paulo – SP - CEP: 01323-903
           EVENTO GRATUITO
           Confirme sua presença pelo telefone: (11) 3549-0042. Vagas limitadas!

Programação:
               • Morte encefálica – Dr. Eli Evaristo e Dr. Sergio Pitelli
               • Apresentação sucinta de dois casos clínicos – CoBi
               • Discussão – Dr. Reinaldo Ayer (Sociedade de Bioética de São Paulo), Dr. Desiré Callegari (CRM e CFM), Dr. Paulo Pego Fernandes (APM) e CoBi do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
    
Organização: CoBi do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
Coordenação: Diretoria Clínica

Nós e os mortos (Mirian Miranda)

Um dia alguém me disse que a seguinte frase está escrita na entrada do cemitério do Gavião:

"Nós, os ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos.

Eu já fui o que tu és e tu serás o que nós somos."

Ao tentar encontrar algo relacionado vejam o que achei:

A Capela dos Ossos é um dos mais conhecidos monumentos de Évora, em Portugal. Está situada na Igreja de São Francisco. Foi construída no século XVII por iniciativa de três monges que, dentro do espírito da altura (contra-reforma religiosa, de acordo com as normativas do Concílio de Trento), pretendeu transmitir a mensagem da transitoridade da vida, tal como se depreende do célebre aviso à entrada: “Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos”. A capela, construída no local do primitivo dormitório fradesco é formada por 3 naves de 18,70m de comprimento e 11m de largura, entrando a luz por três pequenas frestas do lado esquerdo. As suas paredes e os oito pilares estão "decorados" com ossos e caveiras ligados por cimento pardo. As abóbadas são de tijolo rebocado a branco, pintadas com motivos alegóricos à morte. É um monumento de uma arquitectura penitencial de arcarias ornamentadas com filas de caveiras, cornijas e naves brancas. Foi calculado à volta de 5000, provenientes dos cemitérios, situados em igrejas e conventos da cidade. A capela era dedicada ao Senhor dos Passos, imagem conhecida na cidade como Senhor Jesus da Casa dos Ossos, que impressiona pela expressividade com que representa o sofrimento de Cristo, na sua caminhada com a cruz até ao calvário.

Imagino qual seria o sentimento que as pessoas em geral teem ao entrar nesta capela!!!!

Acredito que minimamente um quê de reflexão toma o pensamento. Partindo do princípio de que poucos se sentem confortáveis em ir até um cemitério comum e pisar ‘sobre os ossos’ imagine só estar rodeado deles!!!!!

Para quem quiser ver as imagens de perto indico que procurem no wikipédia, impressionante!

Assistência e preconceito: essa relação vai durar até quando? (Elba Gomide Mochel)

O aborto induzido tem sido considerado um grave problema de saúde publica, tanto pela mortalidade materna quanto pela morbidade que acarreta às mulheres que o praticaram. Isto sem considerar os prejuízos sociais e psicológicos que acomete os familiares envolvidos, além da elevação de custos para o sistema de saúde.

Vários estudos apontam que as mulheres recorrem ao abortamento por motivos econômicos, principalmente por não viverem junto com o parceiro, ou por falha no uso do método contraceptivo ou já terem os filhos que planejaram. Optando por interromper a gravidez e necessitando recorrer ao hospital para o atendimento da morbidade que esta intervenção trouxe à saúde delas, essas mulheres se sentem desconfortáveis diante o profissional de saúde por não serem compreendidas na dor que a decisão pelo abortamento acarretou, além dos temores da própria morte . Isso porque, os profissionais foram preparados apenas para o atendimento no nível de necessidades biológicas e não para o atendimento das necessidades psicossociais, inclusive atendimento à mulheres nessas condições.

Nos caso de abortamento provocado, além de necessitar do tratamento de urgência, essas mulheres estão vulneraveis aos preconceitos dos profissionais que as atendem.

Nestes casos é indispensável o preparo do profissional de saúde para lidar com esta situação complexa onde seus tabus, preconceitos e convicções morais não deveriam prejudicar a relação interpessoal no processo de cuidar na maternidade, na qual o objetivo é atender a parturiente. Não é função do profissional de saúde fazer essa triagem moral, dedicando atenção àqueles que agem segundo a sua convicção e desprezando os que se opõem às suas valorações, mesmo que isso seja uma regra bastante comum e perceptível em nossas instituições de saúde.

Até quando prevalecerá? A tanatologia pode ajudar em quê para mudar esse paradigma?

Tanatólogos de destaque: Marco Túlio de Assis Figueiredo


Marco Túlio em ala que leva seu nome no HSPE
Marco Túlio de Assis Figueiredo,mineiro nascido em Belo Horizonte, formou-se em Medicina, criou e assumiu a chefia do Ambulatório de Cuidados Paliativos, além de ser professor da Disciplina Eletiva de Cuidados Paliativos da Unifesp, bem como responsável pela criação do Curso de Tanatologia que acontece na Escola Paulista de Medicina desde 1997. É considerado unanimamente como o fundador dos cuidados paliativos no Brasil, além de ser sócio-fundador da International Association for Hospice and Paliative Care (Houston-Usa); Membro do Conselho Diretor Por 3 Mandatos Consecutivos como Representante do Brasil; Membro do Cons. Editorial da Revista Prática Hospitalar, Sessões Cuidados Paliativos e Tanatologia; Prêmio Carmen Prudente pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Regional São Paulo, 2006; e Prêmio Averróes Pelo Hospital Premier, 2008.

Ars Moriendi: A Arte de Bem Viver e Bem Morrer (Ayala Gurgel)


Trata-se de uma coletânea de textos e figuras escritos por volta dos anos de 1415 e 1450. Na minha opinião, diferente de O'Connor (1942), a obra como um todo trata-se de um catecismo para os cristãos medievais-modernos viverem os «sacramentos», por meio dos quais manteriam a fé e galgariam a salvação. 
Em termos de morte, relacionada ao sacramento da unção dos enfermos, traz protocolos, procedimentos e códigos de conduta direcionados a médicos e clérigos para o exercício do papel de nuncius mortis, que deveriam conduzir os moribundos a uma boa morte, de acordo com os preceitos do cristianismo de então. Quanto ao moribundo, exorta-o na luta contra as tentações, presentes em todas as fases da vida.
Existem duas versões das Ars moriendi: a versão longa, chamada também de Tractatus (ou Speculum) artis bene moriendi, composta em 1415, por um dominicano anônimo; e uma versão curta, que apareceu, provavelmente, em 1460, que é, na verdade, uma adaptação do segundo capítulo da versão longa, dedicado às cinco tentações que mais perturbam na hora da morte: a fé, o desespero, a impaciência, o orgulho espiritual e a avareza. A versão mais comum é assinada por Andrè Bocard, sob o título Ars moriendi: l'art de bien vivre et mourir, escrita em francês e publicada em 1493, disponível para consulta na seção Obras Raras da Librairie du Congrès, em Paris – França.

Aprendendo Com o Filme "Wit, Uma LIção de Vida" (Erasmo Ruiz)

Pessoalmente acredito que o cinema pode nos oferecer uma excelente oportunidade para estimular discussões e funcionar como veículo potenciliazador de mensagens e conteúdos. Nâo que o cinema possa produzir milagres, mas como expressão da arte, em algumas oportunidades, pode convidar as pessoas a refletir sobre a vida, o mundo e si mesmas.

O filme que indicamos essa semana pode ter essa capacidade, notadamente para nós que trabalhamos e militamos no campo da Saúde. Vivian Bearing (personagem vivido por Ema Thompson) é uma professora de literatura inglesa que no auge de sua carreira se descobre com mum câncer nos ovários em estágio avançado. Para tentar superar a doença, submete-se a um tratamento experimental com remotas possibilidades de cura.

Durante o tratamento, Vivian irá rever aspectos importantes de sua vida ao mesmo tempo em que reflete sobre a forma como está sendo cuidada. No meu entender é este aspecto que mais nos interessa de perto. Usando da técnica de conversação direta (quando o ator olha para a câmera e "conversa" com o público que o vê), Vivian se interroga e nos interroga sobre a triste trajetória dos pacientes hospitalares, a perda de identidade e privacidade, a refração de se discutir necessidades existenciais e a lenta tranasformação de indivídio em protocolo de cuidados.

Aos poucos Vivian vai percebendo que a forma como sempre lidou com seu próprio objeto de conhecimento e, em particular, a obra do poeta inglês John Do (quase sempre focada na morte) é similar a maneira fria e distante que agora lidam com ela. Com o passar do tempo, Vivian conclui que da mesma forma que falta sensibilidade e sentimento na forma como se produz ciência, falta também no contato entre as pessoas, em particular, quando nos aproximamos do final da vida.

Filme muito instigante para se dsicutir com profissionais de saúde em hospitais sobre a forma como estão lidando com seus pacientes. Mais rico ainda se for usado como material de oficinas em enfermarias com altas taxas de óbitos. Com certeza fará com que principalmente médicos e enfermeiras possam ser motivados a rediscutir seus processos de trabalho evidenciando as ações que fazem com que muitas vezes os pacientes os rotulem como "frios" e "insensíveis". O olhar fixo de Vivian em nossos olhos pode fazer com que prestemos mais atenção a fala dos pacientes!

De maneira geral, o filme também vale para que possamos produzir uma reflexdão sobre nossas próprias vidas. De que adiante seguir de maneira cega e acrítica nossas rotinas e obrigações se de fato não estivermos de alguma forma aproveitando a vida? Ao final da exibição fica a mensagem de que a vida descreve um arco onde, no que toca nossa vulnerabilidade, nascimento e morte parecem se encontrar!

O luto virtual: negação ou novo espaço para elaboração do luto? (Ayala Gurgel)


A categoria luto virtual já existe. Ela apareceu pela primeira vez, provavelmente, em 02 de agosto de 1999, no Newsweek, por ocasião de um artigo escrito por Cose Ellis, chamado The Trouble With Virtual Grief: The pain that so many people feel for JFK Jr. should not be confused with the actual suffering of family and friends. Nesse texto, Ellis mostrava que a internet estava se tornando um espaço privilegiado para que anônimos e pessoas distantes pudessem partilhar de um mesmo processo de luto: o luto pelos vultos pátrios ou vultos heroicos.
Esse luto, que não podia ser usado para mensurar o luto real existente entre pessoas, mas, ganhava significado à medida que se tornava cada vez mais democrático e trazia de volta manifestações públicas e coletivas de rituais que vem sendo interditados na sociedade real. Nesse sentido, o luto virtual, era a manifestação coletiva de um sentimento de orfandade de uma nação.
Outros sentidos foram se somando ao uso desse termo. Primeiro, uma ampliação da manifestação coletiva do luto para além da indignação política ou sentimento de orfandade. A própria catarse passou a ser a orientação dessas manifestações, como nos casos da morte do inocente: o da menina Isabela Nardoni ou de Eloá podem ser exemplos disso.
Essa catarse vai se tornando cada vez mais privada e as pessoas passam a usar o mundo virtual como o espaço privilegiado para a manifestação de suas emoções, como ocorre em sites de relacionamentos, spans ou sites especializados. Nesses casos, é bastante comum o enlutado assumir-se virtualmente e anexar a seu perfil ou avatar algo que o identifique como enlutado.
Outro sentido está ligado à morte do próprio avatar, ou simplesmente ao seu sumiço. Ou seja, quando alguém passa muito tempo sem entrar nos sites que costuma frequentar, a sua identidade virtual – avatar – pode ser dada como inativa, o que gera preocupações por parte dos outros internautas que estão acostumados a interagir com esse avatar. Como esses internautas vivenciam uma perda dos laços afetivos que tinham sido criados com aquele avatar, essa emoção é vivenciada como um luto.
Contudo, do mesmo modo que existem carpideiras na vida real, existem pessoas que fingem sentimentos de luto por outras razões, como aqueles que entram em comunidades para enlutados ou em perfis de falecidos com outras intenções diferentes da elaboração da dor. Alguns com o intuito de denegrir e ofender a imagem do falecido, outros com a intenção de banalizar o luto, outros, ainda, com a intenção de proselitismo religioso, ou mesmo, com o simples intuito de chocar.

O SUS nos EUA: será possível? (Ayala Gurgel)

Depois dos protestos contra o filme Sicko, de Michel Moore, apresentado pelos lobistas das indústrias privadas de saúde como uma farsa, finalmente um presidente americano resolveu discutir abertamente a questão. É evidente que ele tem ao seu lado, Hilary Clinton, que no passado já evoucou a mesma questão. E, nesse mesmo passado, como mostra Sicko, ela cedeu aos dólares dessa poderosa indústria. Esperemos que, dessa vez, o rumo seja outro. As esperanças podem ter fundamento nos fatos recentes, principalmente na insistência do presidente Barack Obama no projeto de reforma da saúde, que prevê estender o seguro médico para todos os cidadãos. Do mesmo modo, na sua determinação, conforme falou à CBS: "Não tenho nenhum interesse na aprovação de um projeto de lei que não funcione. Tenho intenção, sim, de ser o presidente que antecipou o projeto, até mesmo porque este levará minhas iniciais". Existem descontetamentos racionais e irracionais, alguns beirando o rídiculo. Os racionais incluem a defesa do liberalismo ortodoxo que exclui os gastos públicos com os direitos sociais, cuja lógica tem sido: quando mais fortes os direitos civis, mais fracos os sociais, e vice-versa. Esses estão bem fundamentados, pois se assentam sobre aquilo que sempre defenderam: um Estado como servo dos interesses dos poderosos. Mas, há também defesas irracionais. A daqueles que nada ganham com isso, ao contrário, até perdem. No entanto, manipulados pelos fabricantes de ideologia de massa, protamente aderem ao consumo do "sou contra". Um preconceito que se justifica na lógica da burrice: uma proposta dessas, vinda de um negro, contrariando a opinião de tanta gente importante, não pode ser boa. Outras são ridículas, ou tentam ridicular a fala do presidente. Dizem que ele pretende com isso um programa de matança em massa. De abandonar milhares de moribundos... só porque ele disse que é preciso discutir a assistência obstinada aos moribundos, rever os critérios de internação em UTIs etc.... Filme esse já visto aqui, quando Humberto Costa foi exacrado por tentar fazer o mesmo. Na América, como aqui, precisamos sim discutir a democracia da assistẽncia à saúde, enfrentar a indústria privada da saúde, um modelo de sociedade que nega o papel mediador do Estado a favor das camadas sociais mais empobrecidas, que prefere salvar bancos a pessoas, que gera inclusão social no lugar de dignidade humana... Estamos à frente, com o nosso SUS, evidentemente. E isso é muito bom, pois, quando queria acabar com o nosso sistema para imitar o americano, eles estão querendo nos copiar... Aguentem calados.

Tanatólogos de destaque: Maria Júlia Kovács



Maria Júlia Kovács

Professora Associada, Departamento de Psicologia da Aprendizagem do Desenvolvimento e da Personalidade, USP

Os seus projetos de pesquisa e docência têm relação com a área de tanatologia, inclusive contando com importantes publicações na área que já se tornaram leitura obrigatória no ramo. Ministra disciplinas na graduação e pós-graduação abordando temas como representações e atitudes frente à morte, conceito e vivência de morte em crianças, adolescentes, adultos e idosos, experiências de perda/morte, separação e o processo de luto, comportamentos autodestrutivos e o suicídio, o paciente "terminal" e a questão da morte, o psicólogo e o trabalho como problema da morte na formação do psicólogo, bioética nas questões da vida e da morte. Atualmente tem desenvilvido pesquisas na área de psico-oncologia, cuidados à pacientes gravemente enfermos e com profissionais de saúde que cuidam desses pacientes. Coordena o Laboratório de Estudos Sobre a Morte - LEM-USP. O Laboratório tem como um de seus objetivos a produção de filmes didáticos sobre o tema da morte, dentre os quais se destaca a coleção Falando da Morte.

Luto e Depressão (Ayala Gurgel)

Luto e depressão não são a mesma coisa. Embora Freud (Luto e Melancolia) não reconhecesse claramente essa distinção, também não admitia similaridade, pois, na sua época, as informações sobre o assunto para validar uma reflexão mais acabada eram insuficientes. Por isso, qualquer relação que ele estabelecesse entre as duas categorias (o luto e a melancolia) estariam, inevitavelmente, comprometidas com tais condições. A sua saída foi considerar a melancolia (que pode corresponder clinicamente a depressão) como uma espécie patológica de luto. Ou seja, ela tem todos os elementos do afeto normal do luto, mas acrescidos do impulso de raiva. Impulso esse ambivalente que se direciona contra a pessoa falecida e para o interior do próprio enlutado: "O luto, de modo geral, é a reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, a liberdade ou o ideal de alguém, e assim por diante. Em algumas pessoas, as mesmas influências produzem melancolia em vez de luto; por conseguinte, suspeitamos que essas pessoas possuem uma disposição patológica. Também vale a pena notar que, embora o luto envolva graves afastamentos daquilo que constitui a atitude normal para com a vida, jamais nos ocorre considerá-lo como sendo uma condição patológica e submetê-lo a tratamento médico. Confiamos que seja superado após certo lapso de tempo, e julgamos inútil ou mesmo prejudicial qualquer interferência em relação a ele. Os traços mentais distintivos da melancolia são um desânimo profundamente penoso, a cessação de interesse pelo mundo externo, a perda da capacidade de amar, a inibição de toda e qualquer atividade, e uma diminuição dos sentimentos de auto-estima a ponto de encontrar expressão em auto-recriminação e auto-envilecimento, culminando numa expectativa delirante de punição. Esse quadro torna-se um pouco mais inteligível quando consideramos que, com uma única exceção, os mesmos traços são encontrados no luto. A perturbação da auto-estima está ausente no luto; fora isso, porém, as características são as mesmas. O luto profundo, a reação à perda de alguém que se ama, encerra o mesmo estado de espírito penoso, a mesma perda de interesse pelo mundo externo na medida em que este não evoca esse alguém, a mesma perda da capacidade de adotar um novo objeto de amor (o que significaria substituí-lo) e o mesmo afastamento de toda e qualquer atividade que não esteja ligada a pensamentos sobre ele. É fácil constatar que essa inibição e circunscrição do ego é expressão de uma exclusiva devoção ao luto, devoção que nada deixa a outros propósitos ou a outros interesses. E, realmente, só porque sabemos explicá-la tão bem é que essa atitude não nos parece patológica" (Freud, Luto e Melancolia, 1976, p.261-262). A depressão pode ter como fator desencadeador o luto, mas não é correto identificar uma com o outro. Na ótica de Worden (Terapia do Luto, 1998, p.45), os principais motivos que temos para não identificá-los são: na reação normal de luto não ocorre a perda da auto-estima, o que é bastante comum no quadro clínico de um depressivo. As outras características podem ser as mesmas: sintomas clássicos de distúrbios do sono, distúrbios de apetite e tristeza intensa. Isso é coerente com as teses de Freud, pois, a presença de auto-estima como elemento diferenciador entre o luto e a depressão já tinha sido proposto por ele quando observou que "(...) O melancólico exibe ainda uma outra coisa que está ausente no luto, uma diminuição extraordinária de sua auto-estima, um empobrecimento de seu ego em grande escala. No luto, é o mundo que se torna pobre e vazio; na melancolia, é o próprio ego" (Freud, Luto e Melancolia, 1976, p.263). Nessa perspectiva, o enlutado com uma reação afetiva normal não se volta contra si mesmo, sua raiva ou culpa está associada, de certa forma, a algo que fez ou deixou de fazer no mundo; a algo que faça ou deixou de fazer sentido. Já o enlutado com um quadro depressivo é diferente. Sua referência ao mundo é nula, um vazio pleno, de onde podem decorrer ideações suicidas, prejuízo funcional mórbido, retardo psicomotor ou duração prolongada do luto (WORDEN, 1998, p.46). Isso porque, quando o próprio ego se esvazia, nada mais passa a fazer sentido. Semelhança de raciocínio encontramos nos escritos de Heidegger (O que é Metafísica? 1999), quando discorreu sobre a angústia. Para ele, o homem angustiado perde toda e qualquer referência de sentido. Ele se sabe, mas não sabe o que o faz sentir o que sente: "Na angústia – dizemos nós – 'a gente se sente estranho'. O que suscita tal estranheza e quem é por ela afetado? Não podemos dizer diante de que a gente se sente estranho. A gente se sente totalmente assim. Todas as coisas e nós mesmos afundamo-nos numa indiferença. Isto, entretanto, não no sentido de um simples desaparecer, mas em se afastando elas se voltam para nós. Este afastar-se do ente em sua totalidade, que nos assedia na angústia, nos oprime. Não resta nenhum apoio. Só resta e nos sobrevém – na fuga do ente – este 'nenhum' (Heideggeer, O que é Metafísica?, 1999, p.56-57) Por essa razão, a sua conclusão é a de que a angústia é a manifestação do nada. Como manifestação do nada, a ausência de sentido deve prevalecer nas ações do homem angustiado. Ou melhor, a ausência de ações que, para ele, façam qualquer sentido. E isso inclui até mesmo querer morrer ou ter forças para fazê-lo quando o desejo existir. Mas, não pensemos que haja uma passagem natural do luto normal para um quadro depressivo. Ao contrário, as pesquisas de Jacobs (apud Worden, Terapia do Luto, 1998, p.46) mostraram que as pessoas que apresentaram quadros depressivos decorrentes do processo de enlutamento já tinham história de depressão ou de algum outro transtorno de saúde mental. Nesse sentido, o enlutamento não foi considerado a causa da depressão, mas o seu gatilho, e isso pode voltar a se repetir.

CFM e ANCP iniciam forum sobre terminalidade

Boas notícias na Folha de São Paulo postada por Julio Abramczyk.

Vale a pena conferir:

Amenizando a morte

JULIO ABRAMCZYK COLUNISTA DA FOLHA

O médico Roberto Luiz D'Ávila, vice-presidente do CFM (Conselho Federal de Medicina), instala no próximo dia 10, às 14h, em São Paulo, o fórum "Desafios: terminalidade da vida e a prática médica no Brasil". O objetivo é debater uma regulamentação dos cuidados paliativos em nosso meio e a sua introdução no currículo dos profissionais da área da saúde. Os cuidados paliativos estão relacionados à situação em que não há mais possibilidade de cura de um paciente em estágio terminal. Sua finalidade é controlar a dor, se estiver presente, e dar assistência adequada ao próprio paciente e aos seus familiares. Na realidade, essa atenção especializada não apressa e também não adia a morte. Ela oferece somente um sistema de suporte neste difícil momento da vida. Participam do fórum representantes da câmara técnica de Terminalidade da Vida e Cuidados Paliativos do CFM, da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, da Sociedade Brasileira de Bioética e da União Social Camiliana. Encerrado o fórum no auditório da Cinemateca Brasileira (lgo. Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino, tel. 0/xx/11/3512-6111 ramal 215), será iniciado o 2º Ciclo de Cinema e Reflexão "Aprender a viver/Aprender a morrer". O festival segue até o dia 13 com a exibição de filmes relacionados ao tema, durante a tarde e a noite.

julio@uol.com.br

100 postagens: comemorar trabalhando

Chegamos à postagem 100. Temos motivos de sobra para comemorar: mantemos regularidade nas postagens, apesar das adversidades do cotidiano; estamos ampliando a rede de instituições científicas de estudo e pesquisa em Tanatologia; provocamos o debate acerca da qualidade de assistência à terminalidade; ocupamos espaço fundamental nesse debate; mais de 9.000 acessos em menos de cinco meses, com média de 1.500 por mês e 50 por dia... no entanto, o maior motivo é dado pelo que se tem ainda a fazer em cada canto desse país. Assim, vai se constituindo uma corrente em prol da humanização da assistência aos moribundos na qual cada agente envolvido toma a responsabilidade ética de pensar o processo pelo qual a morte se tornou interdita e o que pode ser feito para revertê-lo. Não é mais aceitável que em nome da negação neurótica da morte e do morrer inadivertidamente estejamos colocando nossos entes queridos e nós mesmos em risco de morrer sem autonomia e com possibilidades significativas de dor e sofrimento ampliados. O conhecimento de que dispomos hoje para o controle da dor física e psíquica não justifica mais essa barbárie. O bom disso tudo é que as ações concretas existem nos mais diversos lugares, entre os mais diversos grupos, praticada pelos mais diferentes agentes. Juntos somos fortes. A hegemonia da morte interdita está com os dias contados! No lugar do abandono e frieza das UTIs, a companhia de quem amamos! Frente a ausência de autonomia, a possibilidade de afirmação da vida e da vontade até o fim! Diante do medo da dor total, a possibilidade clara de ser conduzido frente a finitude com o máximo de conforto possível! Queremos destacar, nessa luta, em primeiro lugar, cada profissional, cada familiar, cada pessoa, cada organização social que faz isso acontecer, em seu cotidiano, sem nenhum destaque de mídia, longe dos holofotes e bem próximo da humanidade de cada paciente, essa relação face-a-face onde se pode ver o âmago de quem somos: seres irmanados na vida e na finitude! Também queremos dar destaque ao movimento que recebe reforços do CFM, agora oficializando o Forum sobre Terminalidade, sob o nome de cuidados paliativos. Uma atitude ética em defesa da morte digna tão necessária em nosso meio. É fundamental que todas as profissões da área de saúde, como também outras instâncias da sociedade civil, cerrem fileiras. Há que se mudar uma cultura negadora da morte que coloca mais dias à vida mas retira a vida dos dias! Comemoremos! Comemoremos, sobretudo, agindo em nosso cotidiano em defesa dessa dignidade... nós que somos, todos nós, moribundos! A THANATOS - Sociedade Científica de Estudos e Pesquisa em Tanatologia da por