Comportamento suicida: sugestões para debate

O Japão é o país que tem a mais alta taxa de suicídio do mundo industrializado (02,1 por 100.000 habitantes). Os suicídios não atingiram o número recorde de 34.427 em 2003 (+ 7,1% com relação a 2002) (fonte : AFP 22/11/2004). A taxa de suicídios por 100.000 habitantes era de 03,1 em 1998, um pouco atrás da taxa dos 3 países baltas e da Rússia, Hungria e Eslovênia, onde a taxa é próxima de 30 pessoas por 100.000 (fontes diversas). No Brasil, 4,9 pessoas a cada 100 mil morrem por suicídio. É uma das menores médias do mundo. Os maiores índices são do Rio Grande do Sul (11 para cada 100 mil), sendo Porto Alegre a capital com maior taxa de suicídios (11,9 para cada 100 mil). A cidade brasileira com o maior índice é o Município de Venâncio Aires, com mais de 40 casos a cada 100 mil habitantes. Uma das causas apontadas é o agrotóxico Tamaron, utilizado em larga escala no cultivo do fumo.Também é alarmante o caso da cidade de Jundiaí, com 4 mortos em 2000. Roosevelt M.S. Cassorla, a partir de um referencial psicanalítico, fala em dois modelos compreensivos referentes a comportamentos suicidas, possivelmente as mais comuns em pronto-socorros, na prática do médico clínico e do profissional de saúde mental. No primeiro modelo, chamado de jovens que tentam suicídio, o médico, psicoterapeuta ou psicanalista, recebe geralmente, uma jovem que tentou suicídio e que chega com o rótulo de histérica. A disciplina do profissional de saúde o obriga a eliminar rótulos, preconceitos, supostos saberes e teorias, para observar o paciente, como ele se apresenta. Após as consultas iniciais, caso se permita à jovem formar um vínculo com o profissional, este percebe que a paciente se entrega ao tratamento, quase que se gruda ao terapeuta, criando uma espécie de dependência ameaçadora para o profissional. Logo se percebe que a qualidade desse vínculo encobre ameaças terríveis de desestruturação, de estilhaçamento, de liquefação do ser, na falta de palavras que pontuem o indizível. (...) O segundo modelo, chamado de narcisismo suicida a qualidade desse vínculo encobre ameaças terríveis de desestruturação, de estilhaçamento, de liquefação do ser, na falta de palavras que pontuem o indizível. (...) Trata-se de pessoas exigentes consigo mesmas, comumente com sucesso escolar, profissional ou científico. No entanto, têm dificuldades em lidar com as frustrações do mundo real, e quando se defrontam com elas inclinam-se a tomá-las como fracasso pessoal. Sua vida afetiva é pobre, difícil e desvalorizada frente à área intelectual. Em algum momento, quando as pessoas se defrontam com um vazio intenso, estimulado por supostos “fracassos” dependentes de auto-exigências sádicas, e sem apóio afetivo, o terror inconsciente de “não existência” os faz pensar em morrer. A idéia suicida se articula com fantasias inconscientes de busca de outra vida sem necessidades, de agressão ao ambiente frustrante, auto-punição pelo fracasso, e/ou outras fantasias altamente sofisticadas que dependerão da constituição peculiar de seus mundos internos. A sociedade, por outro lado, estimula a competição e o orgulho profissional, que pode tornar-se arrogância. Quando esta desaba o médico se defronta com um vazio, uma vida sem objetivos, uma sensação de fracasso e um questionamento sobre o viver. Isso pode ser acompanhado de doenças físicas, somatizações, tristeza, atuações sociais (abandono da Faculdade, de profissão, separações conjugais, etc.), depressão (que chamamos “narcísica”), uso de substâncias psicoativas, e, como vimos, idéias suicidas. O risco de acidentes (suicídios inconsciente) aumenta. A facilidade em obter produtos mortíferos por parte de médicos, e o conhecimento pormenorizado de sua ação, implica em maiores riscos de vida. Relações simbióticas podem coexistir com a dinâmica apresentada, ao lado do isolamento afetivo, oscilando entra os dois extremos. Para ler mais sobre essa opinião de Cassorla, veja: Cassorla RMS. Jovens que tentam suicídio e narcisismo destrutivo: dois modelos compreensivos do fenômeno suicida. Medicina (Ribeirão Preto) 2005; 38 (1): 45-48

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