O luto por animais: a difícil tarefa do desapego (Mariana Farias)

Há algumas semanas quando assistia a um famoso talk show brasileiro, a entrevista de uma atriz provocou-me, ao mesmo tempo, gargalhadas e reflexões. Como que ela fez isso? Falando de morte!! Em suma, sua entrevista consistiu em relatos sobre seus inúmeros animais de estimação e a forma, precoce ou não, em que se dava a separação: a morte. Relatou que sempre que o fatídico acontecia, enterrava os bichinhos no beiral de sua janela, com direito a cruzes e flores para o falecido. Até ai, tudo bem! Eis que surge um certo periquito em sua vida. Ela cuida dele com todo carinho e dedicação, até este ter o mesmo destino que os demais bichanos, ou melhor, mesmo após ele ter esse mesmo destino. Pois este não ganha um simples jazido na janela com flores e cruzes, o que ela faz? Congela-o por CINCO ANOS, no freezer de sua casa, saindo só para ser empalhado. ‘De volta à vida’, participa das festas em família, da decoração e até das entrevistas. Após algumas risadas, certas questões permeavam minha mente. Como explicar tal tipo de comportamento? Para entender a situação devemos saber com que se relaciona o processo do luto. Segundo estudos de Freud (1976), Worden (1998) e Bowlby (2004), está associado a muitos comportamentos e doenças com os quais o profissional de saúde (especialmente o de saúde mental) se depara. A forma como o luto é elaborado pode tanto estar associada à capacidade que o indivíduo tem para restabelecer a sua vida quanto a de não conseguir fazê-lo. Ou a outras questões, tais como, abuso do álcool e outras drogas, inclusive medicamentosas, exacerbação da morbidade e mortalidade etc. Uma palavra que descreve bem o comportamento da referida atriz é APEGO, para a qual Bowlby tem teoria com mesmo nome. A Teoria do Apego apresenta 13 generalizações que postulam o apego como criação de laços ou vínculos entre indivíduos para além da satisfação de certos instintos biológicos, como a alimentação e o sexual. O apego ocorre mesmo quando não há reforço dessas necessidades biogênicas. São, como escreveu Worden (1998, p.19), oriundos da necessidade de segurança e proteção. Por isso, são formados bastante cedo e direcionados a poucas pessoas. Na soma dessas generalizações tem-se que a teoria do apego é, conforme Worden (1998, p.19) escreveu: «(...) um meio de definir a tendência dos seres humanos de estabelecer fortes laços afetivos com outros, e uma forma de compreender a forte reação emocional que ocorre quando esses laços ficam ameaçados ou são rompidos». Tais laços são essenciais para se compreender a origem da dor e do sofrimento advindos da perda de algo ou alguém. Se alguém estabelece laços tão fortes com outros é porque existe a necessidade de segurança e proteção para a própria manutenção da sobrevivência. A ruptura desses laços é sempre vista como uma ameaça, não só à vida do indivíduo, mas à da espécie. O processo de luto, portanto, é um processo de luta de sobrevivência, tanto desse indivíduo quanto da espécie, que nele se recupera e garante a sua continuidade.

2 comentários:

Anônimo disse...

Registro oa minha surpresa quando li este texto falando da teoria do apego e de luto e de morte. Sempre que o tema da morte é tratado em textos, ou em palestras, aulas vem a ilustração com caveiras, pessoas trajando roupas pretas ou com expressão de sofrimento.
Neste post, o texto vem ilustrado com uma ave linda, viçosa, apresentando muita vitalidade. Forma muito original de motivar as pessoas a lerem o que vem escrito.
parabens pelo bom gosto e criatividae.

Elba Gomide Mochel

Marina Cavalcanti disse...

concordo com mariana.. o fato é cômico e nos proporciona reflexões..
qual o significado que esta ave teria para essa atriz, pois foi tratada de forma diferenciada??
bjo marii.. adoreeei