Vencer e Morrer no Basquete! (Erasmo Ruiz)


Uma das metáforas mais recorrentes sobre a morte é seu caráter traiçoeiro. Ela espreita a cada esquina diriam os antigos poetas. Ela pode ser sorrateira escreveriam os romancistas.



A questão é que as metáforas na verdade são construídas a partir dos tijolos da realidade. Vejam este caso.

Nos Estados Unidos, durante um campeonato colegial de basquete, uma disputada partida só tem seu desfecho nos segundos finais quando Wes Leonard, um jovem de 16 anos, marca  a cesta que desempata a partida e dá a vitória ao seu time.


A quadra é invadida, a torcida em delírio comemora a vitória por 57 a 55 e o autor da cesta é abraçado. Depois do abraço, cai desmaiado, é levado as pressas para o hospital onde é declarado morto.

E ai está ele,no alto da foto, sorrindo feliz com seu triunfo poucos segundos antes de deixar esta vida. Muitas vezes digo aos meus alunos sobre a impropriedade do termo "paciente terminal", já que "terminal" somos todos nós desde o momento em que somos concebidos.

Paciente terminal é um rótulo prepotente que nos diz que a pessoa que está morrendo no leito de hospital irá embora daqui a pouco como se nós mesmos não pudéssemos ir antes já que a condição de mortalidade relativamente nos iguala ao moribundo. Enfim, em muitos sentidos, somos tão vulneráveis quanto um paciente que agoniza na UTI.

Wes Leonard nos mostrou isso. Um jovem aparentemente saudável, transpirando vida e alegria morre logo após seu triunfo. Fosse numa arena romana e algum poeta o imortalizaria dizendo que sua beleza encantou Apolo que o teria levado embora  em seu carro solar.

Mas ainda existe um certo encantamento nisso tudo. Muitas pessoas diante de uma experiência gratificante acabam dizendo: "eu poderia morrer agora". Óbvio dizer que não se deseja a morte em si, mas o momento oferece tanto encantamento e prazer como se dissesse que a vida valeu a pena e que nada de ruim poderia acontecer a partir dali!

A luta pela vitória, a cesta decisiva, a consagração e o triunfo...a morte que fecha a vida em seu ápice!

Um comentário:

Anônimo disse...

Esta história é tão incrível quanto a morte e ela acontece a todo momento. É pra gente pensar na vida de um jeito diferente. Este blog é muito bom. Fala de um tema sério com uma leveza que a gente quase não encontra em lugar nenhum. Vou divulgar! Beijo da Joyce