As Frases Mortais de Millôr Fernandes (Erasmo Ruiz)


Ao saber da morte de Millôr Fernandes veio-me imediatamente a ideia de que homens como ele nao morrem, são como os livros que escreve, apenas mudam de página. Eu sei que é um pensamento consolador como tantos outros que temos diante da morte. Mas a arte tem essa espécie de dom, cria uma aura de magia ao afimar a pretensão de que as obras de um grande artista adquiriram o estatuto de “eternidade”. Não tenho dúvida que este é o caso de Millôr Fernandes.

 Apesar deste blog ser sobre a morte, não queria escrever um obtuário de Millôr pois já apareceram muitos, alguns excelentes. Também não proporei discussões em torno de falsas dicotomias: "era Millor um humorista escritor ou um escritor humorista?". Pensei em destacar de Millor o aspecto em que ele era mais genial, suas frases! E já que nesse blog não existe  tabu com relação a morte, o que ele nos dizia sobre ela?

Antes, uma advertência do Millôr: “Fiquem tranquilos os poderosos que tem medo de nós: nenhum humorista atira para matar”. Eu completaria dizendo que, apesar disso, Millôr poderia nos matar de rir. Por exemplo, quando se referia implicitamente sobre a morte ele avisa: “O otimista não sabe o que o espera” já que “o cadáver é que é o produto final. Nós somos apenas a matéria prima.”

De um sarcasmo a toda prova, Millor refletia o tempo todo sobre a vida. Colocou em prática a assertiva dos romanos que já avisavam que rindo satirizamos os costumes. Ah, e como ele nos fazia rir, tendo até nosso maior objeto de temor como combustível para a piada. E “profeticamente” antevendo a própria morte ele dizia que “quando eu morrer só acreditarei na sinceridade de uma homenagem - o agente funerário não cobrar o enterro”.

E ele tinha razão. Sabemos o quanto podemos aumentar de maneira suspeita o que os mortos eram e acrescentar virtudes que nunca tiveram: "A ocasião em que a inteligência do homem mais cresce, sua bondade alcanlça limites insuspeitados e seu caráter uma pureza inimaginável é nas primeiras 24 horas depois de sua morte".

Na vida, segundo Millôr, viramos cópias pois “todo homem nasce origuinal e morre plágio”. E quanta coisa há para se fazer entre esses dois pontos. Millor acreditava em Deus. Mas sua crença era como seu humor, irônica e sarcástica. Em conversa com Deus ele diz: “Sabemos que VOCÊ, aí de cima, não tem mais como evitar o nascimento e a morte. Mas não pode, pelo menos, melhorar um pouco o intervalo?”.

Maldita liberdade essa a qual estamos condenados já que a “morte é compulsória mas a vida não!”. Somos livres para atuar nesse intervalo entre nascer e morrer e todos desejamos por alguma velhice. Ainda assim, para Millôr, existe vantagem em se morrer jovem: “a única vantagem de se morrer moço é que economizamos a velhice”.

Millôr era um mestre do humor fino. Alguém que olhava o cotidiano e era capaz de fazer piada da conversa do liquidificador com o fogão. A piada sempre esteve diante de nós, mas só Millôr era capaz de vê-la. Um exímio jogador das palavras. E diante da morte, ri e nos faz rir ao contatar “que o dedo do destino não tem impressão digital”,

Sigamos então mais uma vez os conselhos dos romanos que nos avisam para aproveitarmos bem o dia até porque, como reforça a maxíma de Millôr , “um dia, mais dia menos dia, acaba o dia-a-dia”.

Finalizando, para aqueles que tem um medo imobilizador da morte, Millôr teria deixado algumas sinalizações que podem ser alentadoras ou, com certeza, revestir a tragédia com alguma graça: “a morte é dramática, o enterro cômico e os parentes ridículos”. Quanto a este escritor de blogs, vou seguindo adiante tentando aproveitar o máximo pois “estou jurado de morte, mas continuo cheio de vida!”.

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