Pesquisa revela a concepção de morte presente nos cuidados paliativos

Esse é o resumo de uma pesquisa conduzida pelo Grupo de Estudos em Bioética e Tanatologia e a Liga Acadêmica de Tanatologia, da UFMA, tendo como autores Ayala Gurgel, Elba Mochel, Elza Silva e Marina Cavalcanti sobre a concepção de morte que está por trás dos discursos sobre cuidados paliativos no Brasil. ORTOTANÁSIA: análise fenomenológica sobre a concepção de morte que norteia a ética dos cuidados paliativos (INTRODUÇÃO): Apresentação da ortotanásia como concepção de morte mais recorrente nos discursos sobre a prática de cuidados paliativos e alternativa à eutanásia e distanásia na assistência aos moribundos. (OBJETIVOS): Analisou-se as concepções de morte presentes nos discursos sobre a prática de cuidados paliativos e suas fundamentações éticas. (MÉTODOS): Aplicou-se o método fenomenológico para investigar as concepções de morte presentes nos textos e documentos oficiais que defendem a prática de cuidados paliativos no Brasil. (RESULTADOS): Selecionou-se como textos mais representativos do discurso sobre cuidados paliativos no Brasil aqueles que ou foram pioneiros no assunto ou são referências para a produção textual dos demais, o que totalizou 99 textos. Quanto aos documentos, encontrou-se três resoluções do Conselho Federal de Medicina, dois manuais operacionais, um site especializado, além de três vídeos e cinco teses recém defendidas. Da análise desse material, percebeu-se que há explicitamente a preocupação de não associar cuidados paliativos com qualquer prática de abreviação da vida (incluindo eutanásia e suicídio assistido) ou de prolongamento do processo da morte (incluindo qualquer forma de obstinação terapêutica ou tratamento médico fútil). Tais cuidados são apresentados como uma prática que se preocupa com o alívio da dor, controle dos sintomas e manutenção da dignidade humana na hora da morte, o que tem aproximações evidentes com a ética epicuréia para a qual a vida digna deveria ser vivenciada com o controle da dor (aponía) e das pertubações da alma (ataraxía), fazendo com que a morte aconteça no seu momento certo, não sendo desejada nem evitada. Na literatura médica esse conceito de morte tem sido chamado de ortotanásia, e, embora poucos textos sobre cuidados paliativos o tratem diretamente, essa tem sido a concepção mais defendida entre os praticantes desse tipo de assistência, chegando, inclusive a ser aquela que aparece nos documentos oficiais da Academia Nacional de Cuidados Paliativos. (CONCLUSÃO): Pode-se correlacionar o conceito de ortotanásia com as representações simbólicas sobre a morte que aparecem no discurso oficial sobre cuidados paliativos no Brasil, conforme a mediação que encontramos nos textos produzidos sobre o assunto. Esse conceito em sido defendido como a morte digna, que não é abreviada nem retardada, mas acolhida com humanidade, controle dos sintomas, alívio da dor e minimização dos danos psíquicos e sociais que esse acontecimento possa produzir. Palavras chaves: Cuidados Paliativos; Ortotanásia; Morte Digna.

Um comentário:

Marco Antônio Abreu Florentino disse...

ASSISTÊNCIA DOMICILIAR
Na condição de auditor médico de uma grande operadora de saúde, responsável pelas autorizações dos chamados ¨home care¨ (assistência ou internação em domicílio), tenho constatado um aumento gradativo, porém consistente, da aceitação por parte dos familiares e profissionais de saúde, quanto à permanência do paciente em situação nosológica ou até mesmo fisiológica, considerada terminal, no seu domicílio. Em relação aos pacientes conscientes (e acredito que também nos inconscientes), já tão sofridos por inúmeros procedimentos invasivos e dolorosos no ambiente hospitalar, então nem se fala.
Apesar desse avanço, ainda existe um enorme abismo entre esta alternativa, digamos mais digna ou humanizada e a cultura ocidental, estabelecida há centenas de anos, com seus pré-conceitos e valores lastreados, sobretudo, por dogmas religiosos e padrões sociais que preconizam e reverenciam a idéia da ¨vida eterna¨, isso quando não acompanhados por um suposto sentimento de culpa pelo que se deixou de fazer em vida, fator norteador de uma espécie de compensação na morte. Tal sentimento é tão presente e intenso que, mesmo nos casos em que família concorda com a permanência do seu ente querido no domicílio durante o processo de doença e morte, invariavelmente demonstram a necessidade de reforço constante pelos profissionais de saúde, na afirmação de que estão fazendo o melhor para o familiar, minimizando seu sofrimento.
Há que se avançar nessa área. Temos consciência de que outros interesses, principalmente os de ordem econômica envolvendo hospitais e planos de saúde, se colocam travestidos de humanitários, porém, o mais importante é sabermos que no meio desse inbróglio capitalista, o indivíduo tem a chance de morrer de forma mais digna e tranquila.
Marco Antônio Abreu Florentino