O suicídio na Grécia Antiga

O relato, e até mesmo certa apologia, do suicídio ou morte voluntária é bastante comum nas narrativas gregas do passado. Elas são presentes tanto em textos literários, religiosos e filosóficos (se é quer há diferenças entre essas narrativas naquela mentalidade). O certo é que os deuses e deusas, heróis e heroínas, homens e mulheres são confrontados com a possibilidade de findar a sua existência de forma voluntária. Jocasta, filha de Meneceu e irmã de Creonte e de Hiponome, casou-se com Laio com quem teve Édipo. Muitos anos depois, sem reconhecer o filho e sem ser reconhecida por ele, casou-se com ele, de quem teve duas filhas – Antígona e Ismene – e dois filhos – Eteoclés e Polinices. Ao tomar conhecimento do incesto Jocasta enforcou-se. (Noutra versão, ela se matou com um gládio, ao ver seus filhos Eteoclés e Polinices mortos um pelo outro em frente a uma das portas de Tebas). Fedra, filha de Minos e de Pasifae, irmã de Ariadne e de Deucalião. Seu irmão deu-a em casamento a Teseu, então rei de Atenas, embora ele já fosse casado com uma amazona. Da união com Teseu nasceram os filhos Acamas e Demofon. Fedra apaixonou-se por Hipólito, filho de Teseu com sua primeira mulher. Hipólito, entretanto, desdenhava as mulheres e não correspondeu ao amor de sua madrasta. Fedra, receosa de que o rapaz revelasse a Teseu sua paixão por ele, caluniou-o junto ao marido acusando-o de tentar violentá-la. Teseu acreditou na infâmia e pediu a Poseidon para provocar a morte do próprio filho, que pouco tempo depois perdeu a vida arrastado pelos cavalos de seu próprio carro. Não resistindo ao remorso, Fedra enforcou-se. (Em outra versão, ela se matou antes de revelar o seu amor pelo enteado). Antígona, filha de Édipo e de Jocasta, acompanhou seu pai na vida de errante em Tebas. Essas viagens sem destino levaram pai e filha até Colono, na Ática, onde Édipo morreu. Antígona regressou então a Tebas, juntando-se à sua irmã Ismene. Seus dois irmãos, Eteoclés e Polinices, que se achavam em campos opostos na guerra dos Sete Chefes contra Tebas, mataram-se em combate diante de uma das portas da cidade. O rei Creonte, tio de Antígona e seus irmãos, proporcionou funerais solenes a Eteocles, que morrera pelejado pela pátria, mas decretou que Polinices não poderia ser sepultado, pois lutara contra a sua cidade em companhia de estrangeiros. Antígona, entretanto, rebelou-se contra o edito de Creonte, considerando o sepultamento um dever mais forte que as leis dos homens, principalmente em se tratando de parentes, e cumpriu, embora sumariamente, os ritos fúnebres de Polinices. Creonte, encolerizado com a desobediência, condenou a sobrinha a ser encerrada viva nas catacumbas de seus antepassados. Condenada à morte em confinamento, enforca-se. Hêmon, noivo de Antígona e filho de Creonte, encontrando-a sem vida, matou-se com um gládio. Sua mãe, ouvindo a notícia do suicídio de seu filho, matou-se, também com um gládio. Ájax, filho de Telamon, rei de Salamina, um dos grandes heróis da guerra de Tróia, participou praticamente de todos os confrontos importantes da guerra, tendo inclusive travado um combate singular com Heitor, no qual levou vantagem sobre o valente adversário. Quando Ájax ainda era criança, Heracles, que visitava Telamon enquanto preparava a primeira expedição de gregos contra Tróia, envolveu-o na pele de leão que sempre usava sobre os ombros, fazendo preces a Zeus para tornar aquele menino invulnerável. Zeus ouviu-lhe o pedido e assim Ájax ganhou a invulnerabilidade, à exceção da axila, do quadril e do ombro em que o herói carregava a aljava com suas flechas. Na parte final da guerra de Tróia, logo após à morte de Aquiles, o papel de Ájax tornou-se mais visível; diante disso ele se julgou com direito às armas do herói morto, que pela vontade de Têtis, mãe de Aquiles, deveriam ser dadas ao combatente grego mais temido pelos troianos por sua bravura. O outro pretendente às armas era Odisseus, e os chefes resolveram interrogar os prisioneiros troianos a esse respeito; estes, despeitados com Ájax por causa de sua contribuição decisiva para a vitória dos gregos, atribuíram o primeiro lugar em bravura a Odisseus, que por isso recebeu as armas. Amargurado com essa injustiça, Ájax enlouqueceu durante a noite anterior ao dia do julgamento, e massacrou os rebanhos destinados a alimentar os gregos, confundindo os animais com soldados inimigos. Na manhã seguinte, recuperando a razão ao sai do desvario em que o lançou Atena, suicida-se com seu gládio. Alceste, a mais bela e piedosa das filhas de Pelias, rei de Iolco, casada com Ádmeto. Somente ela não participou do assassinato de seu pai, quando Medeia, usando sua astúcia e seus feitiços, provocou a morte de Pelias nas mãos de suas próprias filhas. Alceste era uma esposa tão boa e amava tanto o marido, que se ofereceu para morrer em seu lugar. Após sua morte Heracles comovido com sua prova de amor a Ádmeto, desceu ao inferno e a trouxe de volta ao mundo dos vivos. (Noutra visão, foi Persefone que igualmente comovida, tomou a decisão de ressuscitar Alceste e levá-la novamente a Admeto. Alceste leva o devotamento conjugal até o extremo de morrer em lugar de seu marido). Dejanira, filha de Oineu, rei de Calidon, e de Altaia, e irmã de Melegro. Quando Heracles desceu ao inferno em busca de Cérbero, recebeu da alma de Melêagro um apelo para casar-se com Dejanira, sua irmã, que depois de sua morte ficara desamparada. De volta do inferno Heracles, querendo atender ao pedido de Melêagro, teve de lutar contra o deus rio Aqueloo, pois este pedira Dejanira em casamento. Após suas núpcias com Dejanira, Heracles deteve-se em Calidon durante algum tempo, e já teve dela um filho chamado Hilo. Mais tarde o casal deixou Calidon, e no caminho o centauro Nesso tentou violentar Dejanira à margem de um rio, mas Heracles feriu-o mortalmente; antes de morrer, porém, o centauro ofereceu a Dejanira, como se tratasse de um filtro de amor, um líquido preparado com o sangue de seus ferimentos. Chegando a Traquis, Heracles e Dejanira foram recebidos amistosamente por Cêix. Posteriormente Heracles apaixonou-se por Iole, e Dejanira, com ciúme e desejosa de reavivar o amor do herói por ela, mandou a Heracles um manto que impregnara com o liquido recebido de Nesso moribundo. Mal o manto entrou em contato com a pele de Heracles seu corpo começou a ser consumido por chamas que surgiram misteriosamente do manto e causaram a morte do herói no alto do monte Oita. Percebendo tarde demais que fora enganada por Nesso, Dejanira suicidou-se por amor de Héracles. Narciso, um belo rapaz indiferente ao amor, filho do deus do rio Céfiso e da ninfa Liríope. Por ocasião do nascimento de Narciso seus pais perguntaram ao adivinho Tirésias qual seria o destino do menino. A resposta foi que teria uma longa vida se não visse a própria face. Muitas moças e ninfas apaixonaram-se por Narciso quando ele chegou à idade adulta, mas o belo jovem não se interessou por nenhum delas. A ninfa Eco, uma das mais apaixonadas, não se conformando com a indiferença de Narciso afastou-se amargurada para um lugar deserto, onde definhou até que somente restaram dela os gemidos. As moças desprezadas pediram aos deuses para vingá-las. Nêmesis apiedou-se delas e induziu Narciso, depois de uma caçada num dia muito quente, a debruçar-se numa fonte para beber água. Nessa posição ele viu seu rosto refletido na água e se apaixonou por sua própria imagem. Descuidando-se de tudo mais ele permaneceu imóvel na contemplação ininterrupta de sua face refletida e assim morreu. (Noutra versão, Narciso vivia em Tespias, nas imediações do monte Helicon. Um rapaz chamado Aminias apaixonou-se por ele, mas seu amor não foi correspondido. Desgostoso com a insistência de Aminias e querendo livrar-se dele, Narciso mandou-lhe de presente uma espada. Percebendo a intenção cruel de seu amado, Aminias suicidou-se com a espada defronte da casa de Narciso, implorando aos deuses em seus últimos instantes que o vingassem. Mais tarde, vendo seu rosto refletido na água de uma fonte, Narciso apaixonou-se por si mesmo, e no desespero de sua paixão impossível suicidou-se). A história é longa...

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