O SUS nos EUA: será possível? (Ayala Gurgel)

Depois dos protestos contra o filme Sicko, de Michel Moore, apresentado pelos lobistas das indústrias privadas de saúde como uma farsa, finalmente um presidente americano resolveu discutir abertamente a questão. É evidente que ele tem ao seu lado, Hilary Clinton, que no passado já evoucou a mesma questão. E, nesse mesmo passado, como mostra Sicko, ela cedeu aos dólares dessa poderosa indústria. Esperemos que, dessa vez, o rumo seja outro. As esperanças podem ter fundamento nos fatos recentes, principalmente na insistência do presidente Barack Obama no projeto de reforma da saúde, que prevê estender o seguro médico para todos os cidadãos. Do mesmo modo, na sua determinação, conforme falou à CBS: "Não tenho nenhum interesse na aprovação de um projeto de lei que não funcione. Tenho intenção, sim, de ser o presidente que antecipou o projeto, até mesmo porque este levará minhas iniciais". Existem descontetamentos racionais e irracionais, alguns beirando o rídiculo. Os racionais incluem a defesa do liberalismo ortodoxo que exclui os gastos públicos com os direitos sociais, cuja lógica tem sido: quando mais fortes os direitos civis, mais fracos os sociais, e vice-versa. Esses estão bem fundamentados, pois se assentam sobre aquilo que sempre defenderam: um Estado como servo dos interesses dos poderosos. Mas, há também defesas irracionais. A daqueles que nada ganham com isso, ao contrário, até perdem. No entanto, manipulados pelos fabricantes de ideologia de massa, protamente aderem ao consumo do "sou contra". Um preconceito que se justifica na lógica da burrice: uma proposta dessas, vinda de um negro, contrariando a opinião de tanta gente importante, não pode ser boa. Outras são ridículas, ou tentam ridicular a fala do presidente. Dizem que ele pretende com isso um programa de matança em massa. De abandonar milhares de moribundos... só porque ele disse que é preciso discutir a assistência obstinada aos moribundos, rever os critérios de internação em UTIs etc.... Filme esse já visto aqui, quando Humberto Costa foi exacrado por tentar fazer o mesmo. Na América, como aqui, precisamos sim discutir a democracia da assistẽncia à saúde, enfrentar a indústria privada da saúde, um modelo de sociedade que nega o papel mediador do Estado a favor das camadas sociais mais empobrecidas, que prefere salvar bancos a pessoas, que gera inclusão social no lugar de dignidade humana... Estamos à frente, com o nosso SUS, evidentemente. E isso é muito bom, pois, quando queria acabar com o nosso sistema para imitar o americano, eles estão querendo nos copiar... Aguentem calados.

Um comentário:

Erasmo Ruiz disse...

Caro Ayala!! Muito oportuna essa discussão que você traz. A mercantilziação avançada na sociedade norteamericana tem se cosntituído em ameaça frontal a vida na medida em que mercantiliza e "legitima" a maior e/ou menor possibilidade de acesso aos serviços, como que institucionalizando formalomente a Mistanásia. neste sentido, Obama representa um avanço de anos luz diante da situação americana. Resta saber se a saída da situação de crise econômica irá ou não facilitar esse trabalho. Abraços do ERASMO