Assistência e preconceito: essa relação vai durar até quando? (Elba Gomide Mochel)

O aborto induzido tem sido considerado um grave problema de saúde publica, tanto pela mortalidade materna quanto pela morbidade que acarreta às mulheres que o praticaram. Isto sem considerar os prejuízos sociais e psicológicos que acomete os familiares envolvidos, além da elevação de custos para o sistema de saúde.

Vários estudos apontam que as mulheres recorrem ao abortamento por motivos econômicos, principalmente por não viverem junto com o parceiro, ou por falha no uso do método contraceptivo ou já terem os filhos que planejaram. Optando por interromper a gravidez e necessitando recorrer ao hospital para o atendimento da morbidade que esta intervenção trouxe à saúde delas, essas mulheres se sentem desconfortáveis diante o profissional de saúde por não serem compreendidas na dor que a decisão pelo abortamento acarretou, além dos temores da própria morte . Isso porque, os profissionais foram preparados apenas para o atendimento no nível de necessidades biológicas e não para o atendimento das necessidades psicossociais, inclusive atendimento à mulheres nessas condições.

Nos caso de abortamento provocado, além de necessitar do tratamento de urgência, essas mulheres estão vulneraveis aos preconceitos dos profissionais que as atendem.

Nestes casos é indispensável o preparo do profissional de saúde para lidar com esta situação complexa onde seus tabus, preconceitos e convicções morais não deveriam prejudicar a relação interpessoal no processo de cuidar na maternidade, na qual o objetivo é atender a parturiente. Não é função do profissional de saúde fazer essa triagem moral, dedicando atenção àqueles que agem segundo a sua convicção e desprezando os que se opõem às suas valorações, mesmo que isso seja uma regra bastante comum e perceptível em nossas instituições de saúde.

Até quando prevalecerá? A tanatologia pode ajudar em quê para mudar esse paradigma?

4 comentários:

Allan Patrício disse...

Elba parabéns pelo Post!

Parece-me fundamental trazer para o debate sobre o aborto, algo que os defensores da dita "ética da vida" têm empurrado para debaixo do tapete, que é o direito da mãe em concluir ou não o espaço temporal gravídico, independente do que lhe empurra para esta decisão.

Afinal, a quem pertence esta deliberação? À mulher grávida, à sua família ou ao estado?

Quanto ao peso da dor, não tenho dúvidas de quem o carrega!

Josefa disse...

Belo texto. O aborto é uma tema muito complexo. Muitos profissionais não estão preparados para auxiliar a mulher nesta situação. Com isto pode haver falta de compreensão e humanização. Mas não podemos esquecer que esses profissionais enfrentam muitas dificuldades, pois são formados para celebrar a vida.

Anônimo disse...

Prezada Profa Elba!

Primeiro, enaltecer a propriedade do texto. Muito bom que essa polêmica seja posta às claras. Em nome da defedsa da vida em abstrato muitas vezes se pune a vida concreta de mulheres, masl assisitidas e mal acolhidas nos serviços de saúde, isso quando não acabam mortas nas mãoes de pessoas tecnicamente inábeis para lidar com o aborto enquanto uma inetrvenção de saúde. Sou favorável a descriminalização da prática do aborto com restrições que imponham limites com relação ao período gestacional. Ou seja, em algum momento a mulher terá de ter o seu direito de por termo a gravidez secundarizado diante da vida que é gestada. Logo, a questão se coloca nos termos propostos pelo cético Carl Segan: em que momento podemos falar em vida dotada com capacidade de autonomia relativa? Se essa questão não for levada em conta acontecerá situações escabrosas como em alguns Estados Norteamerianos onde clínicas de aborto se transformam em entrepostos de comercialização de tecidos humanos. Há relatos terríveis de mulheres que abortam fetos de sete meses que são trazidos em baldes ainda vivos para serem dissecados. Enfim, não será reprimindo a prática do aborto nem assumindo uma radicalização neoliberal de que a mulher é proprietária IRRESTRITA do próprio corpo que iremos superar esse dilema bioético. Abraços do ERASMO RUIZ

Solange Gesteira disse...

Querida Colega Elba
Quero parabenizá-la pelo texto, pela sua disposição e pela coragem na abordagem de temática tão polêmica, que é o aborto. Infelizmente quanto ao seu questionamento, acredito que essa polêmica ainda perdurará enquanto nós profissionais de saúde não enfrentarmos essa polêmica de frente. O que nós não podemos perder de foco é que independente do tipo de aborto: espontâneo ou induzido, a mulher ante esse processo está necessitando de cuidados para a sua saúde. Nós não podemos esquecer que o prestar cuidado não está vinculado ou associado a nossa religião, filosofia de vida ou crença, e sim ao juramento que fizemos de cuidar do indivíduo na sua necessidade de saúde