Cemitérios Virtuais: Sendo "Sepultado" na Internet (Erasmo Ruiz)

Nem só de blogs, sites de relacionamento e pornografia vive a grande rede. Entre coisas mais interessantes, podemos vislumbrar a possibilidade de sermos "sepultados" em cemitérios virtuais. Em tempos onde tudo passa muito rápido e a capacidade de perda de memória coletiva parece competir com nossa capacidade ampliada de registra-la, a internet pode se transformar em espaço para celebrarmos publica ou privadamente a memória de nossos entes queridos ou, então, buscarmos informações onde nossos antepassados ou mesmos ídolos famosos estão enterrados. Mas vamos ao que interessa. Entre os cemitérios virtuais destaca-se o Le cimetière virtuel site francês pioneiro onde por pequenas taxas em euro você poderá comprar "tumbas" escrever epitáfios e depositar flores. Há espaços dedicados a fotos e obituários bem como segmentações por idade, religião ou gênero. Mas se o seu francês não anda lá essas coisas, não tem problema. Você pode visitar o campavirtual.com site português (ou "sítio" como gostam nossos irmãos lusitanos), com tons mais sóbrios que oferece opções similares embora mais restritas. Ah, gostei muito das flores embora tenha achado o cemitério português muito desanimado. Por fim, se você quer saber onde está enterrado Oscar Wilde ou o Presidente Kennedy nós temos a solução: basta pesquisar no "Find a Grave" , uma mina de ouro não só para quem gosta de ir tanaticamente atrás de celebridades que não estejam tanto assim em evidência mas que também goste de arte tumular ou de fazer viagens virtuais por cemitérios. Realmente, este site oferece inúmeras alternativas para surfar na net enquanto vamos pensando na morte. Agora, como tudo o que acontece no mundo da grande rede, abre-se uma enorme cortina para acessarmos inúmeras informações mas parece que nada pode substituir o prazer real de visitar um cemitério enquanto respiramos história e memória, e vamos refletindo sobre a própria vida!

4 comentários:

Ayala Gurgel disse...

Meu caro, Erasmo
Tais práticas fazem parte de um único pacote. Um evento típico de nossa época, que tem adotado o ciberespaço como locus privilegiado para a vivência e manifestação do emocional. A esse pacote, Cole Ellis, em 1999, deu o nome de "luto virtual".
Escrevi recentemente um artigo sobre esse assunto e dividi o locus ciberespacial em categorias de acordo com o perfil desses sites, assim temos sites de obituários (cuja missão é apenas divulgar obituários, como o Legacy), cemitérios virtuais (cujo objetivo é ofercer covas virtuais) - que se subdivide em cemitérios de humanos e cemitérios de pets, os blogs de pessoas mortas (cujo objetivo é manter viva a memória dos mortos e criar um espaço para prestar-lhes homenganes) e os sites de relacionamentos (com perfis e comunidades destinadas ao culto aos mortos ou manifestações individuais e coletivas de luto).
Uma geração que convive tão de perto com o mundo virtual não poderia deixar de fora a morte virtual, esse evento historicamente determinado e pautado por inúmeras contradições.
Vale a pena ler o meu artigo. Aguarde.

Marco Antônio Abreu Florentino disse...

Meus queridos amigos
Me desculpem, mas culto a cemitérios, covas virtuais e coisas semelhantes não tem nada haver com tanatologia, vocês sabem disso. Mas entendo que a proposta do blog vai além, mesmo que penetre no mais profundo labirinto da morbidez. Gosto disso pois choca através de um tema assustador e evitado pelos viventes mediocrizados do nosso meio social.
Parabéns, mais uma vez, pela iniciativa e postura audaciosa.
Do amigo Marco Antônio

Thanatos disse...

A Tanatologia não é um movimento homogêneo nem imune às contradições típicas dos fenômenos sociais. Um segmento dela, chamado de Tanatologia crítica ou descritiva, que tem nomes respeitados como Ziegler, Foucault, Ariès, Worden etc, pensa as manifestações sociais de lidar com a morte e o morrer. E, não podemos ignorar, o uso do mundo virtual - o ciberespaço - para sentir ou expressar emoções é uma realidade bastante comum e em voga entre nós.
Os cemitérios virtuais - que merecem todo o nosso respeito - faz parte dessa mudança de paradigmas, que talvez nossas mentalidades cristalizdas não aceite...
Eu peço ao amigo Marco Antônio que aguarde um pouco mais, até a publicação do meu artigo sobre Luto Virtual... Assim que publicado lhe envio uma cópia.

Erasmo Ruiz disse...

Caro Marcos

Podemos definir "Tanatologia" como ciência de enfoque interdisciplinar que estuda as atitudes dos homens diante da morte e do morrer. Neste sentido, mesmo os "cemitérios virtuais" tornam-se objeto de estudo à tanatologia com base em qualquer metodologia científica (seja aquela inspirada em enfoques típicos das ciências naturais com ênfase em análises quantitativas, seja metodologias mais usuais nas ciências sociais com marca nas análises qualitativas). Qualquer manifestação humana que tenha a questão da morte como foco, é objeto de investigação da Tanatologia enquanto uma disciplina científica. Obviamente que o espaço de um blog cumpre um pouco aquilo que você sinaliza em seu comentário, espaço muitas vezes para expressões que pagam tributo a sátira e/ou a um certo sarcasmo. Sou um cronista frustrado e parte deste "cronista" "contamina" o acadêmico. Tenho verdadeiro fetiche pelo cotidiano, dai meu interesse pelas manifestações da morte pela internet, material ótimo para pesquisas, crônicas, romances etc etc. Ora, se hoje grande parte das nossas manifestações humanas passam pela rede, nada mais natural que os símbolos tradicionais no entorno da morte também ganhem espaços na virtualidade. A julgar por conversas rápidas que Ayala teve comigo sobre a questão do luto virtual, o artigo promete!
Abraços do ERASMO