Amor de Mãe se engana? (Ayala Gurgel)


Coração de mãe é capaz de cada coisa. Acredito que se trata de um tipo de amor filogenético para o qual muitos torcemos o nariz. Um tipo de amor que é capaz de fazer de tudo para o bem de sua cria, inclusive ajudá-la a morrer em paz.
Atualmente um caso em Londres me chamou a atenção para isso, e ele me fez lembrar outro, na França. E certamente, existem outros por aí.

Na França, a mãe de Vicent Humbert implorou ao governo Chirac que concedesse salvo conduto ao médico que tivesse a coragem de praticar eutanásia com seu filho, que também concordava e implorava pelo ato.
O governo francês, no auge de sua arrogância negou a petição atribuindo falta de motivação para a vida por parte de Humbert e sua mãe: "você precisa é arranjar um motivo para viver", disse Chirac para um moribundo que estava em estado vegetativo e viu sua agitada vida de bombeiro voluntário ser interrompida e com ela tudo aquilo que ele compreendia como viver.

Como ninguém atendia aos apelos da mãe e do filho, ela decidiu ajudá-lo a morrer, lhe aplicando, com a ajuda do médico, uma injeção letal.

Nesses dias, em Londres, a mãe de Thomaz Inglis, fez algo parecido. Frances Inglis cujo filho vivia em estado vegetativo desde 2008, após cair de uma ambulância e sofrer uma lesão cerebral irreversível, injetou uma dose letal de heroína em seu filho.

Ela, com 57 anos, mãe de três filhos, justificou sua ação explicando que sentia que não tinha mais remédio para libertar seu filho, Thomas, do "inferno em vida" que vivia. A ação recebeu apoio de várias pessoas. O filho mais velho, Alex, de 26 anos, disse que toda a família a apoiava e não consideram que houve um assassinato, mas um valente ato de amor.

No entanto, do mesmo modo que a mãe de Humbert, a de Thomaz foi condenada a prisão perpétua. O juiz, Brian Barker, disse que, independente de sua intenção, tratava-se de um assassinato.

O que o amor dessa mãe quer nos dizer? Será que esse tipo de amor é como aquele de Antígona, que desafia as leis do Tirano que deseja regular a vida e a morte dos seus súditos? Será que o atual formato de lidarmos com a morte e o morrer não é um tipo de tirania política do Estado sobre a morte? As pessoas não podem mais nem morrer em paz? Ou melhor, elas não têm mais nem o direito de morrer?
Confesso que gostaria muito de saber o significado do tipo de amor dessas mães.

2 comentários:

Anônimo disse...

muito bem!
ja estava sentindo falta dos textos interessantes que o professor Ayala costuma postar.

Ayala Gurgel disse...

Pois é, mas, como toda provocação, ela perde sentido se não lhe provoca. Ou seja, se não lhe evoca (convida) a manifestar o seu pensamento sobre o assunto.
O que acha: o amor dessa mãe é compatível com o "amor de mãe", ou ela quer dizer algo mais radical, que o verdadeiro amor de mãe inclui deixar o filho partir, inclusive a partida da morte?