Psicologia e Morte (Larissa Lacerda)

 
Bifulco e Lochida destacam que uma das causas do despreparo dos profissionais para lidar com a morte é a ênfase na formação técnico–cientifica no ensino do cursos da área de saúde, proporcionando pouco espaço para abordagem dos aspectos emocionais e sociais do ser humano, o que muitas vezes faz a morte ser relacionada com derrota, perda e frustração. Juqueira e Kóvacs, por sua vez, afirmam que “[...] a dificuldade em lidar com a morte se deve ao afastamento das grandes tradições que preparavam as pessoas para o momento final” e relaciona essa formação inadequada ao fato de que a sociedade tenha expulsado o culto à morte, se afastando de refletir e tratar do assunto.
A morte significa sempre um desafio para quem recebe treinamento para manter a vida, como é o caso dos profissionais de saúde. Diante desse quadro de temor da morte, pesquisadores verificam a necessidade de serem oferecidos cursos que abordem o tema da morte e do morrer para permitir ao aos profissionais de saúde o enfrentamento dessas situações.
Para o psicólogo, especificamente, o tema da morte passou a fazer parte do seu cotidiano profissional não só nos hospitais, como em outros campos de trabalho.  Por  exemplo, há a necessidade de abordar o tema da morte quando os alunos falam sobre a morte do avô ou animal de estimação, entre as situações. No contexto organizacional, o psicólogo pode deparar-se em várias situações de “morte”, como por exemplo, o falecimento de colegas, acidentes variados, e suicídio que necessitam de uma intervenção psicológica. Na prática clínica, essas situações são ainda mais comuns, em que esses profissionais precisam estar atentos a sinais que indicam o inicio de processos mórbidos e de autodestruição, podendo comparecer tentativas de suicídio e hábitos de risco (como consumo de álcool e drogas) além de intervir nos processos de enlutamento, perdas ou separações de pessoas significativas. O trabalho com idosos é outra modalidade de ação para o psicólogo e como esse grupo se caracteriza por estar cronologicamente mais próximo da morte física, falar sobre a morte é demanda frequente.
No âmbito hospitalar, o psicólogo tem sido inserido nas equipes multidisciplinares atuando em campos como oncologia, nefrologia, ortopedia, maternidades, etc nos trabalhos de preparação cirúrgica, acompanhamento pré e pós-operatório, trabalho com familiares, atendimento a pacientes terminais, trabalho de grupos além de apoio, suporte e troca com a equipe de saúde, entre outros. Nesse contexto, trabalhar a questão da morte, principalmente em cuidados paliativos com pacientes fora de recursos terapêuticos de cura são essenciais.
Desse modo, percebe-se que a temática da morte é presente na atuação do psicólogo, independente do seu ambiente de trabalho e por isso, faz-se necessário uma formação nos cursos de Psicologia capaz de preparar esse profissional para poder lidar com a questão da morte.
Um estudo realizado com a equipe multiprofissional de Cuidados Paliativos da Unifesp-EPM através de um questionário semiestruturado com questões sociodemograficas e seis questões abertas visou investigar o tipo de formação em nível de graduação de profissionais que integram essa equipe e sua possível repercussão sobre sua escolha profissional. Além disso, a pesquisa teve como objetivos específicos: identificar formação geral e especifica do profissional da Unifesp-EPM que lida com a morte e inferir a necessidade de intervenção nos cursos de graduação da aérea da saúde, para uma possível implementação do ensino dos Cuidados Paliativos. Os resultados apresentados mostram que a temática morte nos cursos de graduação é ausente na maioria dos cursos, pois 93,3% dos 15 participantes responderam que houve falta de formação para morte.
Outra pesquisa realizada com 23 alunos do 7º período do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Rondônia buscou compreender como os alunos lidavam com a temática da morte e do morrer. Os resultados encontrados mostraram que a maioria dos alunos concordou que não se fala sobre morte e morrer no Curso de Psicologia e que as questões relativas a essa temática não entraram no programa de nenhuma disciplina.
Assim, visto a importância da educação para lidar com a morte, destaca-se que a morte deveria ser um dos objetivos dos cursos da área de saúde, buscando-se compreender o significado da morte, os processos de morrer, o pesar do luto, etc.  Além disso, Juqueria e Kóvacs afirmam que na graduação de Psicologia, textos sobre a morte e morrer deveriam ser estudados nas disciplinas de Psicologia do Desenvolvimento I, II e III, Psicologia Escolar e Problemas de aprendizagem, Psicologia Hospitalar, Comunitária, Social e Técnicas de Aconselhamento Psicológico. Essas autoras questionam se há uma negação da morte no currículo do Curso de Psicologia, evidenciando se está preparando profissionais para o mercado de trabalho no qual estarão em contato constante com a morte nos consultórios, hospitais, escolas ou nas empresas.

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