Epistemologia fúnebre ou sobre a verdade da morte (Ayala Gurgel)




A verdade sobre a morte e o morrer não pode ser da mesma natureza que a verdade sobre outras realidades da vida. Essa afirmação é alardeada nos mais diversos discursos de base metafísica. A razão argumentativa é simples: as verdades científicas, ordinárias, fabulosas ou midiáticas estão envolvidas em dois processos, a coerência e a repetição. Por sua vez, a verdade do morrrer não pode ser aplicada por nenhum dos critérios conhecidos: ela não se presta à verificação, ao falsificacionismo ou mesmo aos testes de coerência e repetição, afinal, não conhecemos ninguém que possa ter sido expostos a variáveis testes empíricos para provar que morrer é desse ou de outro modo. A conclusão mais direta, contra a possibilidade de ser a morte uma grande mentira, é a de que a sua verdade é de outra natureza. Que natureza é essa? Digamos que a natureza da morte e do morrer, dentro dessa lógica de outro paradigma de verdade: a morte é algo que transcende a nossa capacidade cognoscente. Ela é verdadeira enquanto para ser incompreendida. Enquanto mistério sobre o qual tudo pode ser dito e nada pode ser afirmado, nem o discurso mais ateísta nem o mais crédulo.

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