Transformando Mortos em Quadros (Erasmo Ruiz)



Na história da arte sempre notaremos a morte como tema, afinal, se o tema da arte é a vida, e como é um dos atributos dos seres vivos morrerem, é natural que a morte seja recorrentemente um objeto da arte. 



Mas a criatividade as vezes tem o dom de nos surpreender. Como já mostramos outro dia, podemos transformar nossos mortos em jóias. Mas as cinzas de uma cremação podem ter outras utilidades.






É o que nos alerta o site Loved Ones Art que nos propõe a seguinte questão: depois de cremarmos um ente querido, o que fazemos das cinzas? Parte desse dilema pode estar resolvido pelos últimos desejos do morto. Alguns podem querer que suas cinzas sejam jogadas no mar, outros no belo jardim de casa ou então alguém pode pedir para ser guardado para sempre ao lado de sua querida coleção de livros constrangendo pessoas desacostumadas a lidarem com a morte a verem todos os dias aquele memento mori em meio a enciclopédias e livros de arte.


Mas a maioria de nós não tem como tema a discussão do que deve ser feito do seu futuro cadáver. Um dia talvez sejamos candidatos a sermos cremados. Hoje, em muitos países, a cremação é incentivada basicamente pelas pressões da especulação imobiliária (os cemitérios ocupam muito espaço) e, de outro lado, pelas nossas dificuldades em ter que assumir a responsabilidade de cuidar de túmulos (que coisa mórbida pensaria muita gente).






Assim, uma das alternativas é transformar as cinzas em pigmentos de tinta que comporão um quadro que pode, a partir de seu tema, ser uma espécie de homenagem a reverenciar a memória do morto ou, quem sabe, a idealização que os vivos possuem dele. Mas o importante aqui é preservar memória de alguma forma.


O artista chama-se Michael Butler. Para produzir seus quadros pede uma fotografia que seja de alguma forma uma referência afetiva para o cliente. A partir da foto, Michael faz uma composição de estilo impressionista que, de nosso ponto de vista, denota o efetivo talento do artista. Os quadros mostrados até agora neste texto são dele e foram feitos utilizando cinzas humanas a partir de cremações.




                                            Michael Butler


Caso o leitor esteja interessado em usufruir dos serviços do artista, todas as informações podem ser obtidas no site, tudo de uma maneira muito discreta, do jeito americano de ser. 


Caso desejasse ter minha memória perpetuada dessa maneira, passar à eternidade como um quadro a mostrar o intenso movimento da vida urbana seria mais adequado ao meu jeito de ser. Neste sentido, na perspectiva do impressionismo post mortem, estou mais próximo de Pissarro do que de Monet.




                                                                  Boulevard Montmartre (Camile Pissarro) 

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