Um Rápido Olhar Sobre a Morte no ORKUT (Erasmo Ruiz)



Você leitor deve muito provavelmente fazer parte de alguam rede social na internet. Eu mesmo sou um assíduo frequentador do Facebook e tenho também uma perfil no Orkut.



Um dos motivos para se entender o vertiginoso sucesso das redes sociais pelo mundo é que se tornaram o novo veículo de comunicação de idéias. Estão gradualmente assumindo o lugar dos livros, panfletos e da mídia de massa por terem um caráter mais dinâmico e interativo. O que penso agora é quase imediatamente "metabolizado" pelos outros e estes me oferecem sentidos ao que pensei de uma forma muito rápida. Ha portanto troca rápida de idéias mesmo que muitos critiquem o que é trocado e o contexto em que estas trocas ocorram.

Ma o fato é que as redes vão fazendo parte do cotidiano. O exemplo mais recente é o papel que o facebook teve no corrente processo de mudança política no mundo árabe. Muitas manifestações foram organizadas e convocadas a partir do Facebook. E o fascínio é tamanho que no Egito um homem deu à sua filha o nome de Facebook. Para boa sorte da criança, é um alívio pensar que o Sonico ou o Orkut não tenham tanta penetração no mundo árabe.

Mas outra explicação para a disseminação das redes sociais vem da maneira como organizam os grupos em torno dos interesses das pessoas. Alguém que goste de Elvis Presley ou Amado Batista encontrará sua "tribo" para conversar sobre temas dos seus ídolos.

Quem for Marxista poderá debater com autores conservadores a partir dos grupos que se formam em torno de temáticas políticas. Quem defender os Palestinos ou Israel nas questões do oriente médio poderá se degladiar em frente as telas de computador de uma forma um tanto mais segura do que nos locais onde o conflito real acontece.

Mas falemos especificamente do ORKUT. De longe ainda é a rede social mais popular no Brasil. E, para aqueles que tenham a morte como interesse, poderão encontrar lá muitas comunidades. Alias, você que nos lê agora deve fazer parte de algumas delas.

Eu perguntaria então, qual a comunidade sobre a morte que teria  a maior quantidade de inscritos? Errou quem disse que é a de Tanatologia moderada por Sarah Carneiro (hoje com 2.411 membros). Na verdade, a comunidade com mais inscritos é o "Profiles de Gente Morta" (com 80.245 membros). Mal alguém no Orkut morre e logo saberemos. O perfil é imediatamente divulgado com especial ênfase para aqueles que tiveram morte dramática (assassinato, suicídio, acidentes de carro etc).

Os contéudos dos tópicos no "Profiles de Gente Morta" mereceriam um vasto estudo. Um grande painel onde encontraremos desde singelas e comoventes homenagens à memória dos mortos até uma catarse coletiva de ódio e ressentimento frente àqueles que perpetraram atos de violência que, muitas vezes, também terão seus perfis na rede.

O Orkut expressaria um complexo mosaico daquilo que temos de bom e ruim, de belo e feio ou, simplesmente, um espelho as vezes um tanto opaco das contradições da condição humana. Alguns podem achar esta comunidade do ORKUT absolutamente inconveniente ou mesmo "trash" como diriam alguns. Eu prefiro vê-la como um painel instigante dos medos, anseios e curiosidades que existem no em torno da morte, um instigante objeto de pesquisa a dispoosição daqueles que tenham interesse em estudar as Representações Sociais da Morte. 

Mas vou parando por aqui. Vou divulgar este post no Facebook e no Orkut. Quem sabe eu e você leitor nos encontremos por ai pelas redes. Mas, sinceramente, espero continuar como vivo durante muito tempo e não como objeto de curiosidade mórbida ou expresão de (in)justas homenagens no "Profiles de Gente Morta".

3 comentários:

Germane Pinto disse...

Interessante também perceber as referências nos próprios perfis dos usuários que estão vivenciando o período de pesar...com as tags "Fulano (Luto eterno)"..."Cicrano (Um dor q não pára)"..."Beltrano (Saudades, paizinho". E os scraps remontam um apoio virtual solidário com um misto entre mensagens diretas de parentes, amigos e conhecidos bem como perguntas sobre o acontecido e SPAMs de auto-ajuda. Gostei do texto...vou assistir alguns filmes indicados pelo blog. Abraço a todos.

Anônimo disse...

Nossa! Eu faço pasrte dessa comunidade. Até já divulguei perfis lá. Agora vou olhar as coisas de um jeito diferente. Joyce

Carlos Henriques Gimarães Medeiros disse...

Muita ferramentas do mundo virtual encontram como base de criação o mundo material. Isso não é novidade. Porém, ficamos pasmos quanto observamos como esse mundo virtual é invadido e atravessado por nossos velhos hábitos do mundo real.
As redes sociais simulam encontros e contatos, tornando possível a interação de pessoas separadas espacial e temporalmente. E é impressionante como aqueles atos, próprios dos grupos sociais, mas que acontecia "corpo a corpo", repetem-se também no mundo virtual (paqueras, fofocas, desavenças, concordâncias).
Tal qual o mundo real, que encontrou um lugar para os mortos, não era de se estranhar que nesse novo mundo virtual, os mortos também encontrassem o seu.
O que seria essa comunidade, senão um cemitério dentro do orkut, onde as pessoas deixam suas homenagens e lamentos?!