Autonomia de Moribundo Vira Manchete (Erasmo Ruiz)

                                                             Donna Shaw, 17 anos

Um velho adágio do jornalismo nos ensina que "Quando o cão morde o homem, não é notícia; quando o homem morde o cachorro, é notícia". Assim, o que chama atenção do jornalismo não será o fato de que milhares de aviões tenham pousado com seus passageiros sãos e salvos mas sim o único acidente do dia em que morreram dezenas de pessoas.


Assim, chama a atenção a notícia que nos chega do Reino Unido onde uma adolescente de 17 anos chamada Donna Shaw morreu de um raro tipo de câncer ósseo. Embora o fato de uma pessoa tão jovem morrer seja muito triste, o que qualificaria esse evento para se transformar em notícia?

O que chamou a atenção dos jornalistas foi justamente o inusitado. Aqui, o "homem que mordeu o cão" é a narrativa de como Donna minuciosamente planejou todas as etapas de seu funeral, desde a roupa que deveria usar no caixão até quem carregaria a urna funerária bem como as músicas que tocariam na cerimônia e, claro, deixou instruções expressas sobre o que deveria ser feito de seu corpo.

Óbvio, os mortos deixam de ter vontade no instante em que abandonam a condição de vivos. Dessa forma, foi fundamental o papel da mãe de Donna em realizar todas as suas últimas vontades. Para tal, ela deu enormes exemplos de dedicação ao abandonar inclusive o trabalho para poder cuidar da filha nos seus últimos dias. Outro detalhe importante, Donna morreu em casa.

Fiquei muito triste com essa notícia. Não só pela morte da adolescente em si, fato que toca imediatamente alguém que tem um filho na mesma idade. O que me entristeceu mais foi saber desse fato enquanto uma notícia jornalística. A autonomia dos moribundos tornou-se algo tão raro hoje em dia que, quando acontece, transforma-se imediatamente em manchete.

Creio que chegará o dia em que falar sobre as últimas vontades de amigos e entes queridos seja algo simples e belo, um exercício lírico de tentar relembrar poéticos momentos. Sonho com o dia em que fortalecer a autonomia dos que estejam morrendo seja a regra e que a diferença e o incomum seja o oposto. Neste dia então viremos a este blog e daremos a seguinte notícia: "Família é publicamente criticada ao não realizar os últimos desejos do filho". Pena que isso ainda não seja manchete.


Leia a íntegra da notícia AQUI




2 comentários:

Anônimo disse...

Achei essa história muito tocante. Vivenciei um processo parecido com um sobrinho de 19 anos. Muito dolorosa a perda principalmente de pessoas tão jovens. Fizemos o que foi poossível para atender a todos os seus desejos inclusive as músicas tocadas no velório, algumas até alegres para o momento. Os hipócritas nos censuram até hoje mas podemos dormir com a consciência em paz. Continuem com esse blog, ele é muito importante pois tem a coragem de tocar nesses assuntos. Beijos da |Lena

Anônimo disse...

Achei essa história muito tocante. Vivenciei um processo parecido com um sobrinho de 19 anos. Muito dolorosa a perda principalmente de pessoas tão jovens. Fizemos o que foi poossível para atender a todos os seus desejos inclusive as músicas tocadas no velório, algumas até alegres para o momento. Os hipócritas nos censuram até hoje mas podemos dormir com a consciência em paz. Continuem com esse blog, ele é muito importante pois tem a coragem de tocar nesses assuntos. Beijos da |Lena