Por um fio: O liame da vida e da morte na mitologia (Dario Junior)


“Essa foi por pouco”, “por um triz”, “por um fio”, todas são expressões que encontramos corriqueiramente em nossa vida cotidiana, mas muitos falam e não percebem sobre o que estão falando. Quando falo que estou por um fio posso estar me referindo à fragilidade de um fio, mas porque falo exatamente a figura do fio? O que a faz ser tão recorrente? 
             Ao ser indagado sobre tais questões penso na fatalidade, a predestinação grega que remonta a figura da moira. Esta personagem mitológica que sofreu algumas alterações ao longo do tempo. Inicialmente era tida como uma entidade, o destino individual já traçado para cada um, sendo que cada vivente tinha a sua própria moira, daí provém à expressão: “cada um tem sua própria sorte”.

Impessoal e inflexível como o próprio processo de vida e morte a moîra representa uma lei que nem os próprios deuses podem transgredir, sem colocar em perigo a ordem do universo é ela que impede o deus de ajudar seu herói no momento em que ele corre perigo.

Em outros são apresentadas como três entidades distintas: Cloto (Nona), Láquesis (Décima) e Átropos (Morta), sendo cada uma responsável por uma função na ordem do mundo. Sendo estas as reais responsáveis por nossa vida sempre estar por um fio.
            
            A vida devemos a Cloto que é a fiandeira, ela é encarregada de fiar e puxar o fio de nossa vida. Láquesis é a sorteadora, sua função é enrolar o fio da vida e sortear aquele que deve ser entregue a Átropos, a inflexível, a que não volta atrás, aquela que tem o dever de cortar o fio da vida.
            
           No período mitológico não se tinha as concepções que temos sobre como se dá os processos de adoecimento, mas tinham a certeza que temos hoje, que todo ser nascente também deverá um dia morrer, ao passo que não cabe a nós, mortais, saber o momento em que Láquesis pegará o nosso fio.
           
          A incerteza enquanto a este momento é fundamental, embora, por vezes, a medicina tenha conseguido saber mais sobre os processos de adoecimento, tente esconder de Láquesis o fio correspondente a sua vida a deusa sempre o encontra e oferece-o a sua irmã. Mas, a incerteza de quanto tempo terá: de Cloto a 

          Átropos é que faz com que a vida tenha que ser vivida, como não sabe quando o momento chegará devemos preencher diversas tapeçarias com este fio, tomarmos cuidado com ele, mas que este cuidado não se reflita em medo de viver a própria vida. Láquesis não deve ser tida como a que leva a morte, mas como aquela que lhe lembra de que você é um ser finito e como tal deve viver uma boa vida, para quando sentir que seu fio foi entregue a Átropos, acolher a Thanátos em uma boa morte.
           

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