Quando a idade significa proximidade da morte: um tempo limitado de prazeres? (Adriana Mendonça)



A morte não é a mesma para todos. Na velhice ela é mais próxima, pois ao passar pela infância, adolescência, idade adulta e um pouco da terceira idade, só há um final. No dia primeiro de outubro comemora-se o dia internacional das pessoas idosas. Essa data foi criada pela ONU (Organização das Nações Unidas), então venho aqui nesse dia, refletir um pouco sobre a morte para essas pessoas.

Por que quando o tempo for seu inimigo e as linhas de expressão dominar sua face e sua vitalidade não for como você gostaria, tudo que restará será bons momentos na memória? A velhice é o fim? Ficará apenas a esperar o fatídico dia?

A morte do idoso começa com a memória, por ser uma das primeiras coisas que sonda a morte, e traz aquele sentimento de distância, de uma vida se esvaindo como um espiral se fechando. Esse espiral é um símbolo recorrente para falar da morte na terceira idade, pois é o “caminho” desde o nascimento até o momento do fim, quando a espiral vai fechando e o caminho se esgotando.


E a capacidade de escolha é influenciada pela idade avançada? Não necessariamente precisa disso. Porém, hoje, percebe-se que isso acontece com mais frequência que o contrário. Pergunte-se por qual motivo um idoso não pode fazer uma escolha tão radical quanto à de um jovem? Pelo fato de estar à espera da morte? A boa morte vem daqueles que possuem uma boa vida, morrer faz parte do viver. Chega um tempo em que a escolha é pequena, por exemplo, escolher entre uma sopa ou um iogurte, ao mesmo tempo em que a morte é a escolha que não se pode ter e quanto mais próximo dela se parece estar, mais as demais escolhas não possuem mais aquela importância. 


A pessoa idosa muitas vezes é mal interpretada como depressiva pelo fato de se negar a fazer coisas que antes adorava fazer ou que fazia muito bem. O processo de despedida que pode ser confundido com depressão. O estabelecimento das despedidas começa com a escolha do distanciamento devido principalmente a lembrança que o mesmo traz. Embora pareça cruel é assim que acontece e deve ser entendido como um processo natural, simples e que é gerenciável. O que era um estímulo em época que era recém-nascido parece uma despedida na velhice. A pessoa nova procura conhecer, procurar aprender, procurar criar a lembrança porque um dia ela vai se distanciar e vai lembrar.

Pessoas que chegam a uma idade mais avançada ainda têm a chance de perder um ente querido que “deveria” falecer após ela. Fica aquela dúvida no idoso: “Por que ele e não eu?”, aquele sentimento de culpa por ter vivido mais e ainda estar vivo enquanto comparado com a jovialidade do que partiu. É preciso de força pra conseguir enxugar as lágrimas da saudade que vem bem mais acentuada para quem não a aceita. É mais do que o vazio da ausência, é o vazio de uma vida inteira se reduzindo a memórias. Então grande maioria se deixa morrer. 

Julga-se um tempo limitado de prazeres, enquanto na realidade pode-se viver em qualquer idade, mesmo que as lembranças estejam na frente dos olhos quase os cegando. E fica a dúvida: O que é a morte? Apenas um desligar, um apagão? Outro caminho? O fim de um sofrimento? O encontro com outro que já partiu?
 

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