Resgatando a Memória

Volta e meia ouvimos muitas pessoas falando sobre determinados indivíduos como o "pioneiro da tanatologia no Brasil" ou "a primeira pessoa a fazer um curso de pós graduação em tanatologia no Brasil" etc etc.Um dos problemas da morte são seus efeitos deletérios na memória, principalmente em países como o nosso onde os sistemas culturais não valorizam seu culto e manutenção. O texto a seguir foi escrito por Maria Julia Kovacs na Revista "Psicologia: Teoria e Pesquisa" quando da morte de Wilma da Costa Torres (1934-2004), pesquisadora séria e competente, que teve a marca do pioneirismo em seu trabalho. A ela devemos muito com relação ao desenvolvimento da tanatologia como prática científica em nosso país. É essencial este destaque na medida em que se percebe a existência de práticas de cunho pseudocientífico e/ou esotéricas que arrogam para si o rótulo de "verdadeiro conhecimento" sobre a morte e o morrer. Mas ninguém melhor do Maria Julia Kovacs para nos falar de Wilma Torres: "Estamos de luto. Como sabemos, processos de luto são iniciados como forma de elaboração a partir da perda de pessoas significativas. Por extensão, uma área do saber humano também entra em processo de luto quando perde uma pessoa/profissional, que tanto contribuiu para o seu desenvolvimento. Wilma da Costa Torres, nascida no Rio de Janeiro, foi pioneira em nosso meio, desenvolvendo a área da Tanatologia (estudos sobre a morte). Como todos os pioneiros, teve que desbravar campos ainda desconhecidos e lutar contra preconceitos. Foi na década de 1970 que surgiram as suas primeiras publicações sobre o tema nos Arquivos Brasileiros de Psicologia, envolvendo pesquisas referentes ao desenvolvimento do conceito da morte em crianças nos vários estágios, sua principal área de pesquisa. Em 1981, criou o primeiro curso de especialização em Tanatologia no Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP) da Fundação Getúlio Vargas com os seguintes temas: 1) Significado humano, histórico, antropológico e social da morte; 2) Morte e educação; 3) Morte institucionalizada; 4) Psicologia do doente terminal. Naquele contexto, desenvolveu, também, um setor de documentação e consultoria que chegou a reunir 2.000 fichas em 44 entradas, envolvendo vários temas relacionados ao luto, suicídio, abordagem do paciente terminal, entre outros. Quando o ISOP foi fechado, para tristeza de Wilma, esta passou a desenvolver a área da Tanatologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, ministrando disciplinas na graduação e pós-graduação. Criou, então, o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Tanatologia destinado ao desenvolvimento de pesquisas de iniciação científica, aperfeiçoamento e pós-graduação e a implementação do ensino de Tanatologia nos diferentes níveis de formação. Tive a grata satisfação de conhecer Wilma Torres em 1982, quando iniciei meus estudos sobre a questão da morte para desenvolver minha dissertação de mestrado. E aí tive o contato pessoal com Wilma, sua irmã Ruth, Wanda Guedes e Terezinha Ebert, suas companheiras de trabalho no ISOP. Estas pesquisadoras me receberam com todo carinho e atenção colocando à minha disposição o arquivo contendo a bibliografia atualizada sobre Tanatologia disponível naquela época. Wilma comentava comigo cada obra. E sempre foi assim, disponibilizando seu acervo bibliográfico e pessoal com cada um de nós. Wilma se destacou por ser uma pesquisadora séria, competente e muito exigente. Além das publicações, participou de vários congressos das seguintes áreas: Psicologia Hospitalar, Tanatologia, Psicossomática, Psicologia da Saúde e Psico-Oncologia, sendo homenageada em vários deles, como Presidente de Honra. As suas palestras se caracterizaram por inúmeras referências a autores estrangeiros e nacionais que abordavam o tema em questão, acrescentando sempre um toque pessoal, valorizando os pontos sobre os quais deveríamos refletir. Graças a Deus, e devo ressaltar que Wilma tinha um forte envolvimento espiritual, deixou para seus discípulos vários livros e artigos em periódicos, o que torna perene para nós sua significativa contribuição. E para os que a conheceram pessoalmente, fica a saudade e a certeza de que as suas sementes germinam em nós o desejo de continuar sua obra. Arrolamos, a seguir, algumas de suas principais publicações: Livros e capítulos de livros 1999 - A criança diante da morte. São Paulo: Casa do Psicólogo. 1998 - Algumas contribuições à pesquisa sobre a morte. Em R.M.S. Cassorla (Org.). Da morte: Estudos Brasileiros. (pp. 131-144). Campinas: Papirus (em colaboração com Wanda Guedes, Terezinha Ebert e Ruth Torres). 1984 - Educação para morte. Em E. D'Assumpção. Morte e suicídio: Uma abordagem multidisciplinar (pp. 120-126). Petrópolis: Vozes. 1984 - Violência: Um reflexo do medo da morte. Em E. D'Assumpção. Morte e suicídio: Uma abordagem multidisciplinar. (pp. 131-141). Petrópolis: Vozes. 1983 - A psicologia e a morte. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas (em colaboração com Wanda Guedes e Ruth Torres). Artigos em periódicos 2002 - O conceito de morte em crianças portadoras de doenças crônicas. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 18(2), 221-229. 2001 - As perdas do paciente terminal: O luto antecipatório. Revista Psicologia: Argumento, 19(28), 7-12. 1999 - Hospital: Desafios rumo ao próximo milênio. Revista Psicologia Argumento, 17(25), 53-60. 1996 - A criança diante da morte. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 48(1), 31-42. 1996 - Morrer com dignidade. Temas em Psico-Oncologia, I Congresso Brasileiro de Psico-Oncologia (1994), 47-50. 1992 - A morte no contexto hospitalar. Revista de Psicologia Hospitalar, 1(2) , 56-59 (em colaboração com Wanda Guedes). 1990 - A criança terminal: Vivência de luto antecipado. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 42(1), 31-36 (em colaboração com Wanda Guedes, Terezinha Ebert e Ruth Torres). 1989 - Atitudes frente à morte: Implicações na formação de equipes profissionais multidisciplinares. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 41(1) , 43-72 (em colaboração com Wanda Guedes, Terezinha Ebert e Ruth Torres). 1987 - O psicólogo e a terminalidade. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 39(2), 29-38 (em colaboração com Wanda Guedes). 1986 - Relação entre religiosidade, medo da morte e atitudes frente ao suicídio. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 38(4), 3-23 (em colaboração com Wanda Guedes, Terezinha Ebert e Ruth Torres). 1984 - A negação da morte e suas implicações na instituição hospitalar. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 36 (4),101-111 (em colaboração com Wanda Guedes). 1983 - Morte como fator de desenvolvimento. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 35(2), 146-152 (em colaboração com Wanda Guedes, Terezinha Ebert e Ruth Torres). 1982 - Violência: Um reflexo do medo da morte. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 34(3), 146-150 (em colaboração com Wanda Guedes, Terezinha Ebert e Ruth Torres). 1980 - A criança terminal e a intervenção terapêutica do psicólogo. Arquivos Brasileiros de Psicologia,32(3), 418-422 (em colaboração com Wanda Guedes, -Terezinha Ebert e Ruth Torres). 1979 - O conceito de morte na criança. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 31(4) , 9-34. 1979 - O tabu frente ao tema da morte. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 31(1), 53-67." Texto retirado de: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722004000100015〈=pt

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