A Morte Serena e a Fotografia de Rudolf Schafer (Erasmo Ruiz)

A tradição de se mostrar a morte como algo sereno e belo, acontecimento que põe fim ao sofrimento da dor e das dificuldades de se viver nesse mundo, é um marco na iconografia. Espalha-se em inúmeras manifestações desde a mais remota antiguidade e nos chega até os dias de hoje por versões contemporâneas da "fotografia mortuária" como manifestação artística. Nessa postagem uma pequena demonstração da obra de Rudolf Schafer. Em 1983 este fotógrafo registrou cadáveres no Hospital "Charité" de Berrlin. Todos os olhos dos mortos encontram-se fechados. Chama a atenção um certo tom de trivialidade, como se sorrateiramente surpreendêssemos as pessoas em meio ao seu sono. Pelas fotos, não conseguimos deduzir nomes nem a maior curiosidade mórbida que a maioria de nós possui: a "causa mortis". Vemos apenas o rosto de uma pessoa morta envolta em um lençol, e nos perguntamos: quem era ela, o que fazia...talvez como se questionássemos a nós mesmos. Não há interesse do fotógrafo em nos apresentar a morte cruel, tão comum hoje em dia na imprensa e na estética cinematográfica. Ha um certo tom meio que vitoriano, que afirma e ao mesmo tempo nega morte! Somos informados que estamos diante da imagem de um cadáver, mas a forma como ele se encontra, os traços do rosto e o tom sereno não aparece como algo tão amedrontador. E como ficamos caro leitor? A morte não teria nenhum mistério? Seria apenas este sono profundo e sereno captado pelas lentes de Rudolf Schafer? Estaríamos novamente diante da mera espetacularização da morte ou frente a sensibilidade de um artista que nos quer tirar do sono da vida a partir de suas "visages de morts"?

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