Cemitérios Cheios de Vida: Pelos Caminhos de Novo Hamburgo (Erasmo Ruiz)



Quando, se pensa em cemitérios bonitos logo vem a mente o Père Lachaise, em Paris, que, além da beleza de sua arte tumular, traz também uma lista enorme de "hóspedes" ilustres.


Mas, os cemitérios podem chamar a atenção por outras formas de beleza, ou, infelizmente, por algo que deixou de ser a regra e se transformou em desonrosa exceção.

Recentemente, Luciana Abreu, uma grande amiga, viajou com sua família para as serras gaúchas. Seguiu a  trilha usual dos turistas. Entre a beleza da arquitetura europeia e deliciosos chocolates e bons vinhos, Luciana notou algo que também a encantou.



Seguindo viagem entre Gramado e Novo Hamburgo (por volta de 70 km) ela percebeu alguns cemitérios a beira da estrada, com  cercas baixas, próximos a  pequenas igrejas e escolas.

Meu olhar arguto para a morte também vê cemitérios à beira das estradas próximos a cidades pequenas, mas o padrão que encontro pode se resumir a uma única palavra: abandono!  Túmulos mal mantidos, mato crescendo e ferrugem tomando conta de cercas e portões.



O que chama  a atenção nas fotos tiradas por Luciana é justamente o contrário. Encontramos túmulos limpos, brilhando, e mesmo os antigos mostram sinais de que as pessoas ainda se importam com eles. E, o mais importante, muita vida simbolizada pelas flores e seu colorido.

Seriam as marcas da cultura europeia trazidas pela imigração, marcas estas que já teriam desaparecido em parte nos países de origem? Nota-se aqui um zelo pela memória, uma aura de respeito a identidade dos mortos como estratégia que fala muito mais à identidade dos vivos.



Claro, são especulações que precisam ser suportadas por estudos mais aprofundados. Mas é digno de nota a beleza das fotos e a sensação de que os mortos estão sendo "bem cuidados". Sinalização talvez de que por aqueles lados os vivos tenham uma relação melhor com a morte.

2 comentários:

Ayala Gurgel disse...

Muito digno de nota a sua observação sobre a relação entre cultura e dignidade. O cuidado aos mortos mostra o profundo respeito que temos pela dignidade humana. Em todas as culturas em que essa dignidade foi diminuída, o abandono tumular é sentido. Não se respeita os vivos quando não se teme os mortos, diz um antigo ditado tibetano, que atualizado para uma visão mais laica da vida poderia ficar assim: não se respeita os vivos quando não se respeita mais os mortos.

Anônimo disse...

Realmente, deveriamos preocuparmos mais com aqueles que em vida foram tão especiais na nossa vida. É ter o compromisso de preservar um espaço dedicado á eles, os nossos entes queridos.