Exame Final, livro de Pauline W Chen (Ayala Gurgel)



No livro Final Exam, Pauline Chen se questiona e põe diante de nós a seguinte interrogação: Por que somos tão ruins em cuidar dos moribundos?

A solução que ela encontra: é preciso se colocar no lugar dos pacientes moribundos. Entendê-los a partir de suas próprias esperanças e medos. Os médicos aprendem a ver moribundos e corpos mortos como "eles" e não como "nós".


Para tanto, ela escreveu o livro Exame Final, dividido em três partes.


Na primeira, ela mostra o que considera o paradoxo essencial da medicina: a profissão para cuidar dos doentes que despersonaliza o morrer. Essa prática ocorre, especialmente nas disciplinas que ensinam a lidar com o corpo como se fosse uma máquina, cujo conhecimento minucioso e particionado é a coisa mais importante a ser apreendida.


A segunda parte é dedicada à preocupação questionadora se é possível uma medicina diferente. É possível mudar a maneira como os médicos lidam com os moribundos e com a morte? A resposta é que, se os médicos não conhecem seus pacientes e o que eles pensam e desejam acerca da morte, como poderão saber se mudaram ou não de atitude perante eles? Sua tese é a de que os médicos se tornaram cegos, tanto para suas próprias ansiedades sobre a morte como para a maneira que se tornaram insensíveis para lidar com a questão.


Na terceira e última parte do livro, Chen mostra que essa cegueira não é só do médico. Para ela, familiares e pacientes participam dessa "falta". Ela diz que eles partilham a crença de que estão em uma longa frente de batalha até as últimas horas preciosas da vida, acreditando que a cura é o único objetivo.Durante o final da vida, o Exame Final, predominam, dentro dessa formação, momentos de tortura, que muitas vezes causam tratamentos equivocados e não apenas sobre os outros, mas nos próprios médicos.


Ela conclui que, ironicamente, a promessa do século XIX de que o corpo não era apenas um repositório irracional da doença, mas uma máquina potencialmente reparável, biológica, tornou-se a maldição do vigésimo primeiro.


Nesse sentido, a autora reafirma aquela que é a principal tese de meus estudos em Tanatologia: saber lidar com a morte é tanto uma questão de dignidade humana quanto uma questão de saúde mental dos envolvidos (profissionais de saúde, moribundos e familiares).

Um comentário:

Erasmo Ruiz disse...

Salve Ayala!
Boa resenha. Motivou-me a comprar o livro. Creio que este momento em que vivemos é muito delicado. Estamos em situação similar aos inícios da reforma psiquiátrica quando ficava claro aos militantes da reforma que o hospício deveria ser superado mas não se oferecia ainda de forma clara uma rede de assistência que fosse resolutiva frente a problemática da saúde mental. Diante desse "vazio" não se podia desmantelar os hospícios. Hoje tem aumentado o coro de vozes contra a forma como morrem a maioria das pessoas mas não se apresenta uma rede de cuidados paliativos no Brasil e os sistemas de "homecare" e/ou os Programas de Internação Domiciliar (PID) são tímidos e insuficientes frente às demandas. Da mesma forma que a Reforma Psiquiátrica lutou contra a cultura manicomial ao mesmo tempo em que ia criando os CAPs, NASFs e HDs como alternativas assistenciais, nossa luta se abre no mínimo nessas duas frentes: mudar a cultura tanática de uma morte hospitalcentrada e distanática ao mesmo tempo em que lutamos pela proliferação de modelos alternativos a essas mortes. Parabéns por trazer livro tão relevante ao blog!