Morte e Imortalidade Na MItologia Grega: Tântalo (José Jackson Coelho Sampaio)


Pelas milhares de estórias entrecruzadas da Mitologia Grega, deduz-se o tríptico das grandes reivindicações humanas: o domínio do conhecimento, a auto-suficiência sexual e a imortalidade. 


Os deuses nos tiram a capacidade de produzir conhecimento e transformá-lo em incremento das condições de vida, mas Prometeu nos ampara com  o domínio do fogo, a idade do bronze, a ciência e a tecnologia. Como castigo pelo domínio do fogo, os deuses nos tiram a auto-suficiência sexual primitiva, macho e fêmea nos separando e criando a confusão dos desejos nunca simétricos, biunívocos, mas Dafne e Cloé, dois adolescentes da ilha de Lesbos, inventam o amor humano, restituindo-nos à indivisibilidade, por meio do amor, então de partes separadas, tornamo-nos um. Mas, em torno da imortalidade, os castigos são inúmeros e violentos, exponencialmente crescentes, em troca das mínimas e provisórias vitórias.
            Assim também temos a estória de Tântalo, um humano filho de Zeus com a ninfa Plouto, esposo de Hipodâmia, pai de Pélops, Níobe, Atreu e Tiestes, também de Crisipo, com outra ninfa, filho querido, porém bastardo diante dos olhos e das vinganças de Hipodâmia. Rei da Lídia, ele foi cumulado pelo pai divino com todas as possibilidades da prosperidade. Considerado o mais rico de todos os humanos, ele foi admitido nos banquetes e conselhos dos deuses. Porém sua lealdade estava com os seres humanos e mentia, trapaceava, roubava para favorecê-los. Na saída dos banquetes, Tântalo sempre furtava néctar e ambrosia do Olimpo para dar aos humanos, a fim de que se tornassem imortais.
            Os deuses sabiam, mas nada podiam fazer. Afinal, ele era filho de Zeus. O Grande Olímpico percebia, mas espreitava, aguardava pretextos, sabia do desequilibrado orgulho humano e esperava. Tântalo haveria de construir a própria armadilha, os deuses nada perderiam por esperar. Então Tântalo decidiu emular a Lídia com o Olimpo e convidou os deuses para um banquete em seu palácio.
            O que mais Tântalo desejava testar nos deuses era a onisciência, a capacidade de tudo saber e prever. Resolveu mandar ferver em caldeirão o próprio filho, o primogênito Pélops, e ofereceu-o, em tempero de louro, orégano e alecrim, como o prato principal do banquete. A descuidada Deméter, preocupada com outros assuntos, ainda mordeu-lhe um ombro, mas Zeus percebeu a tempo: fez Pélops retornar à vida, deu-lhe um novo ombro, uma prótese de marfim, decretou a imediata morte de Tântalo e seu envio a Hades. Mais ainda, prescreveu-lhe o castigo da eterna sede, da eterna fome e da eterna insegurança. Colocou-o numa área encantada, sobre a qual, toda vez que ele forcejasse os limites, o monte Sípilo ameaçasse desabar e, sob a sombra deste monte, destinou fontes de água e uvas: as águas abundantes imediatamente secavam quando delas Tântalo aproximava a sua boca sedenta; as uvas abundantes imediatamente desapareciam no ar quando delas Tântalo aproximava a sua boca faminta. Carência, sede e fome, onde havia antes o dom da prosperidade e onde jorram os frutos da abundância, eis o castigo terrível.

Continua em próxima postagem

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