Quando alguém famoso morre isso toca a todos. Não só pelo fato da super exposição da pessoa mas também porque essa morte é o lembrete inequívoco de que todos nós morreremos um dia. A maior parte do tempo quase todos desejam esquecer isso, mas então...
De repente Micchael Jackson se vai desse mundo. Como mito, criado e autocriado, ele deixa espaços que não serão preenchidos e outros que o mercado, faminto durante sua vida, agora devorará muito rápido na sua morte.
Mas cumpre relembrar algumas coisas. Por exemplo. No passado, diante da morte de um mito, havia uma espécie de mobilização coletiva para cultuar a memória. A morte era um lenitivo do caráter, absolvia o morto de tudo o que ele havia feito de questionável, destilando o que era considerado bom ou mesmo exagerando gestos banais. Hoje, diante da morte de alguém, nos assombra o espírito da medicina legal: "Do que foi que ele morreu?"
A busca da "causa mortis" é outro sintoma do nosso tempo, efeito da interdição da morte que torna o motivo do colapso do organismo praticamente mais importante que (re)lembrar o morto. Basta que pensemos na morte de Ayrton Senna e teremos na memória os infográficos das revistas mostrando o ponto exato em que a barra de direção da Willians penetrou no crânio do piloto...e dai? O que isso acrescenta de brilho a vida de Senna? Nada! Apenas satisfaz nossa curiosidade "pornográfica" diante da espetacularização da morte!
Com Jackson não poderia ser diferente. Inúmeras teorias começam a ser urdidas para esclarecer o que matou o cantor. Talvez a resposta esteja em nós mesmos, afinal, que mundo é esse onde gradualmente vamos secundarizando a arte e o entretenimento em função da busca sem medida da vida privada das pessoas? Parte das celebridades transformam-se então em engenheiros sociais de si mesmos. Jackson era um mestre nisso ao alimentar os tablóides com especulações sobre seus maneirismos, sexualidade e gostos um tanto exóticos. Tornou-se um quadro que valia mais a pena ser visto pela moldura do que pela obra.
A permanente desconstrução de si mesmo é um caminho seguro para a morte, ainda mais numa sociedade que é capaz de assassinar seus ídolos...alguns de forma literal, outros pelos simbolismos que os tornam escravos do sucesso e absolutamente bizarros em buscar a exposição que um dia tiveram. Micchael Jackson agora entra para a história como o "Rei do Pop", seguindo um final similar ao "Rei do Rock". Ambos cometeram uma forma sutil de "suicídio" quando perceberam que a diminuição do sucesso causava um vazio que, em suas perspectivas, nada poderia suprir.
Fico vendo então a imagem do clip "Trhiller" quando dezenas de zumbis afloram de suas sepulturas e fazem sua coreografia assustadora e engraçada. Em meio a eles, Micchael, em passos que o faziam levitar e que alegrava nossos corações Como todo herói, flertava com a morte permancendo vivo e feliz. No entanto, o tempo mostrou que a dança infelizmente era profética. Nosso herói foi abandonando sua alegria para lentamente se transformar em mais um personagem secundário de si mesmo, em meio àquelas figuras bizarras até que finalmente se fundiu a elas.
Pensar na morte de Micchael Jackson me fez voltar a adolescência. Lembrei do quanto me sentia invulnerável enquanto tentava fazer aquele maldito passo do garoto que parecia patinar enquanto caminhava nos enchendo de infinito.
Os Mitos Também Morrem (Erasmo Ruiz)
Quando alguém famoso morre isso toca a todos. Não só pelo fato da super exposição da pessoa mas também porque essa morte é o lembrete inequívoco de que todos nós morreremos um dia. A maior parte do tempo quase todos desejam esquecer isso, mas então...
De repente Micchael Jackson se vai desse mundo. Como mito, criado e autocriado, ele deixa espaços que não serão preenchidos e outros que o mercado, faminto durante sua vida, agora devorará muito rápido na sua morte.
Mas cumpre relembrar algumas coisas. Por exemplo. No passado, diante da morte de um mito, havia uma espécie de mobilização coletiva para cultuar a memória. A morte era um lenitivo do caráter, absolvia o morto de tudo o que ele havia feito de questionável, destilando o que era considerado bom ou mesmo exagerando gestos banais. Hoje, diante da morte de alguém, nos assombra o espírito da medicina legal: "Do que foi que ele morreu?"
A busca da "causa mortis" é outro sintoma do nosso tempo, efeito da interdição da morte que torna o motivo do colapso do organismo praticamente mais importante que (re)lembrar o morto. Basta que pensemos na morte de Ayrton Senna e teremos na memória os infográficos das revistas mostrando o ponto exato em que a barra de direção da Willians penetrou no crânio do piloto...e dai? O que isso acrescenta de brilho a vida de Senna? Nada! Apenas satisfaz nossa curiosidade "pornográfica" diante da espetacularização da morte!
Com Jackson não poderia ser diferente. Inúmeras teorias começam a ser urdidas para esclarecer o que matou o cantor. Talvez a resposta esteja em nós mesmos, afinal, que mundo é esse onde gradualmente vamos secundarizando a arte e o entretenimento em função da busca sem medida da vida privada das pessoas? Parte das celebridades transformam-se então em engenheiros sociais de si mesmos. Jackson era um mestre nisso ao alimentar os tablóides com especulações sobre seus maneirismos, sexualidade e gostos um tanto exóticos. Tornou-se um quadro que valia mais a pena ser visto pela moldura do que pela obra.
A permanente desconstrução de si mesmo é um caminho seguro para a morte, ainda mais numa sociedade que é capaz de assassinar seus ídolos...alguns de forma literal, outros pelos simbolismos que os tornam escravos do sucesso e absolutamente bizarros em buscar a exposição que um dia tiveram. Micchael Jackson agora entra para a história como o "Rei do Pop", seguindo um final similar ao "Rei do Rock". Ambos cometeram uma forma sutil de "suicídio" quando perceberam que a diminuição do sucesso causava um vazio que, em suas perspectivas, nada poderia suprir.
Fico vendo então a imagem do clip "Trhiller" quando dezenas de zumbis afloram de suas sepulturas e fazem sua coreografia assustadora e engraçada. Em meio a eles, Micchael, em passos que o faziam levitar e que alegrava nossos corações Como todo herói, flertava com a morte permancendo vivo e feliz. No entanto, o tempo mostrou que a dança infelizmente era profética. Nosso herói foi abandonando sua alegria para lentamente se transformar em mais um personagem secundário de si mesmo, em meio àquelas figuras bizarras até que finalmente se fundiu a elas.
Pensar na morte de Micchael Jackson me fez voltar a adolescência. Lembrei do quanto me sentia invulnerável enquanto tentava fazer aquele maldito passo do garoto que parecia patinar enquanto caminhava nos enchendo de infinito.
O Ritual do Último Desejo (Erasmo Ruiz)
Existem muitos aspectos desumanizantes no entorno da experiência da morte e do morrer. Estudos apontam a razão para isso acontecer. Sinteticamente, existe uma inter-relação perversa entre a perda de autonomia que cerca o papel do "estar doente" - que se torna gritante quando o paciente é rotulado como "terminal" ou "fora de possibildiades terapêuticas" - e a crescente medicalização da vida e por decorrência, a transformação da morte de fenômeno vital na mais perversa das patologias.
Significa dizer então que, por ser considerada doença, a morte estará cercada de "cuidados" que recorrentemente tentarão afirmar sua negação. É no aprisionamento da morte nos hospitais - cercada por "tratamentos" fúteis que se transformam em tortura "terapêutica" para pacientes, familiares e trabalhadores.- que sistematicamente veremos as necessidades existenciais inerentes a finitude serem cerceadas.
Neste sentido, a metáfora da prisão parece ser procedente. O moribundo passa por crescente descaracterização dos seus atributos humanos, políticos, sociais, psicológicos e culturais. Perecisará a partir de sua rotulação como "alguém que vai morrer" de ínterpretes que mediem suas vontades e desejos, mesmo que tenha condições de fazer isso diretamente. Estará encarcerado, suas visitas (quando acontecerem) serão rigidamente controladas, terá uniforme e se transformará em um número.
Fiz esse preâmbulo para destacar a importância do ritual dos "últimos desejos", conjunto de ações que funciona como despedida e ao mesmo tempo afirma nossa capacidade de nos mobilizarmos para expressar amor e solidariedade em momentos em que a vulnerabilidade e dependência do moribundo chegaram ao seu limite. Este é um dos aspectos mais terríveis da experiência da morte aprisionada nas instituições hospitalares: a possibilidade cristalina que rituais de fechamento da vida acabem por não se realizar ou sejam vistos como desnecessários diante da perspectiva de negar a morte até a sua constatação objetiva.
Mas realizar o último desejo é ainda algo mobilizador, principalmente quando a morte se escancara e se encontra ao lado de uma criança. Nos Estados Unidos, uma garotinha de 10 anos sofria de um raro tipo de câncer vascular e, já nos últimos dias de vida, expressou como último desejo asssitir a animação "Up" produzido pela "PIXAR". O problema era que ela estava tão fraca que não pôde ir ao cinema para assistir ao filme em circuito comercial, e o filme ainda não havia sido lançado em DVD. Os pais da criança então tentaram todas as formas de contato com o estúdio para viabilizarem uma exibição do filme na casa da criança. Depois de muitos contratempos, o estúdio disponibilizou um helicoptero para que o filme fosse levado com alguns brinquedos. A garotinha assitiu ao filme em casa e morreu 7 horas depois. (para ver a notícia completa dessa história clique aqui)
Estamos de fato preparados para mobilizarmos todas as nossas energias para realizarmos os últimos desejos das pessoas? Buscar respostas para esta questão é de fundamental importância para produzir gestos humanizadores no entorno da morte. Ao não nos preocuparmos com isso, talvez no momento de vivência da nossa finitude, a equipe de saúde e familiares não prestarão atenção em nossas falas. Estaria então consolidada a idéia de que aqueles que vão morrer devem fazê-lo silenciosamente, bem comportados, pois moribundo não deve ter vontades! É isso o que queremos para nós?
Pesquisa avalia cotidiano dos alunos do Curso de Enfermagem relacionados á convivência com a morte e o morrer
Licitação Online para Venda de Capelas Mortuárias
Car@s Mortais!
O que fazer dos nossos corpos quando deixamos essa vida é um problema prático que mobilizou e mobiliza culturas e civilizações.Mas não vamos discutir nesse post práticas funeráreas e sim divulgar uma notícia importante, principalmente se você tiver muito dinheiro. Eis a sua chance de desfrutar a companhia eterna de diretores de cinema, escritores e atores famosos. Dada a densidade intelectual do cemitério de Verano em Roma, será muito interessante participar de debates entre Roberto Rosellini e Luchino Visconti sobre o papel social do cinema. Mas deixo a notícia abaixo. Boa leitura
ROMA, Itália (AFP) - O município de Roma abriu uma licitação online nesta segunda-feira para a venda de 34 capelas mortuárias, túmulos e mausoléus famosos em três dos cemitérios mais antigos e mais procurados da capital italianaO mais caro é uma capela de 10m2 apresentada como "de estilo clássico, construída com tijolos e teto de telhas e decorada com mármore de Carrare, com capacidade para 10 lugares", e colocada à venda por um valor de 312.629 euros, fora taxas, no cemitério monumental de Verano, no sudeste de Roma.
Os túmulos, um dos quais pode conter até 28 caixões, são localizáveis e visíveis a partir da ferramenta de busca "Google Earth". Cada um é descrito com detalhes, e pode ser admirado através de fotos publicadas no site do município, www.amaroma.it.
No Verano, os compradores poderão ser "vizinhos de túmulo" de personalidades como o ator Marcello Mastroianni, o escritor Alberto Moravia ou os diretores de cinema Roberto Rossellini e Luchino Visconti.
O prefeito de Roma, Gianni Alamanno, espera arrecadar com a venda 2,5 milhões de euros. O Verano foi construído entre 1807 e 1812.
O leilão online será encerrado no dia 24 de julho.
Notícia retirada em http://br.noticias.yahoo.com/s/afp/090615/mundo/it__lia_cemit__rio_curiosa
Pesquisa avalia projeto pedagógico de curso de Enfermagem
Análise do Projeto Pedagógico de uma graduação em Enfermagem no tocante à formação tanatológica
GURGEL, W.B.; MOCHEL, E.G.; FRANÇA, A.C.B
(INTRODUÇÃO): Avaliação da formação tanatológica do aluno de Enfermagem de uma universidade federal a partir da proposta pedagógica do curso. (OBJETIVOS): Pretende-se analisar o tipo de preparação tanatológica que é dada ao futuro profissional de Enfermagem a partir da análise da proposta pedagógica do seu curso. (MÉTODOS): Em uma abordagem qualitativa, aplicou-se o método da Análise de Conteúdo para identificar as ocorrências semânticas, em termos de sentidos e freqüências dos vocábulos e proferimentos associados à uma educação para a morte. (RESULTADOS): Observou-se a presença de conteúdo tanatológico voltado para a formação dos acadêmicos em Enfermagem dessa universidade. Os termos encontrados e suas respectivas frequências foram: ciclo vital (4), morrer (3), eutanásia (1), aborto (3), morbiletalidade (1), gestação de alto risco (1), risco de morte materna (1), recém-nascido de alto risco (1), paciente fora de possibilidades terapêuticas (1), cuidados paliativos (2), luto (3), fim da vida (3), morte (6), rito de morte (1), enlutada (1), morrendo (1), paciente terminal (1), matam (1), morte como ofício (1), condição crítica (1). Esses termos, quando agrupados por afinidade, destacaram-se em dois grupos: diagnóstico (ciclo vital, risco de morte materna, recém-nascido de alto risco, paciente fora de possibilidades terapêuticas, morrendo, paciente terminal) e atuação profissional (morrer, eutanásia, aborto, morbiletalidade, gestação de alto risco, cuidados paliativos, luto, fim da vida, morte, rito de morte, enlutada, matam, morte como ofício, condição crítica). Não houve agrupamento de afinidade por prognóstico. As relações de co-ocorrência com morte foram: gestação, recém-nascido de alto risco, ritos, terminalidade, maternidade, processo, risco e luto, sendo que a mais frequente foi terminalidade. As relacionadas a luto foram duas: enlutadas e terminalidade, o mesmo ocorrendo com aquelas relacionadas a morrer, que foram: morte e morrendo. Além disso, encontramos no documento analisado a presença de perífrases («fora de possibilidades terapêuticas») e eufemismos («fim da vida» e «paciente terminal») para se referirem a morte e morrer.(CONCLUSÃO): Mostrou-se que há preocupação evidente com a formação tanatológica do graduando em Enfermagem, apesar de se observar haver concentração dos termos na área da perinatologia e em disciplinas eletivas ou de outros departamentos acadêmicos, o que levou a questionar o porquê de as disciplinas com esse perfil estabelecerem mais associações com a morte do que as demais.
Palavras chaves: Morte; Morrer; Educação; Enfermagem.
Para saber mais ou entrar em contato com os pesquisadores, envie e-mail para:
ayalagurgel@yahoo.com.br
Livros de Auto-Ajuda para Morrer (Erasmo Ruiz)

A cada contemporaneidade a morte se apresenta sob novos matizes e cabe a cada nova geração o trabalho de criar e/ou recriar formas de se lidar com ela. Esta afirmação, a princípio óbvia, configura hoje uma situação frente às questões apresentadas pela morte e o morrer muito diferente de antes. Se no passado parecia haver um conjunto de concepções de mundo que oferecia um suporte psicossocial para o enfrentamento da morte, aquilo que os filósofos chamam de uma “Ars Moriendi” (arte de morrer), parece que hoje em dia essa arte se configura como um conjunto de ações e pensamentos que nos levam ao escapismo frente a tudo que a morte pode expressar.
Em sendo essa tese verdadeira, talvez isso nos ajude a entender porque livros como “Por um Fio” (Drauzio Varela), “A Última Grande Lição” (Mitch Albom) ou “A Lição Final” (Randy Pausch) se tornaram sucesso de vendas. Com objetivos relativamente distintos, eles parecem funcionar como uma auto- ajuda tanática frente a uma sociedade que não colocou como uma de suas metas socializar as pessoas para a experiência da morte. Eis então um interessante paradoxo: pelo tema estar interditado, ele suplica por ser encontrado, estudado, conhecido! Caro leitor. Se quiseres ganhar um bom dinheiro e souberes escrever, então , ensine as pessoas como morrer! Com relação a morte, estamos sem rituais. As senhas não estão claras. As certezas esboroaram!
A similaridade entre todos esses autores está nas conclusões que sinalizam. Para breve estaremos postando comentários para cada um dos livros que, ao seu modo, são interessantes e importantes de serem lidos. No momento, cumpre destacar que afirmam com todas as letras que estamos desperdiçando nossas vidas com objetivos fúteis, e a futilidade parece ser tudo aquilo que nos ensinaram a achar importante: dinheiro, carreira, prestígio. Por conta desses ícones da vida contemporânea, prestamos menos atenção em nossos filhos, na natureza e em todas as muitas belezas desse mundo.
A preciosidade de pensar na morte residiria justamente nisso: ao nos lembrarmos cotidianamente de que vamos morrer, nossas escolhas podem ser mais ponderadas no sentido de nossa existência e nem tanto daquilo que exigem que façamos. Não é esse o dilema de “A Morte de Ivan Ilitch” (Leon Tolstoi,) quando o personagem em desespero descobre que a vida até aquele momento de fato não havia sido vivida e que o tempo para controlar o seu destino estava se escoando?
Caso o leitor queira desfrutar da auto ajuda tanática, recomendo que se comece pela ficção de Tolstoi, onde o personagem central, alguém que lentamente está morrendo, nos narra a sensação de abandono e a crise existencial de não ter descoberto a tempo o que desejaria ser na vida e não o que ele, pela força das convenções, acabou sendo. É muito difícil não se identificar com a narrativa. E é por isso que muitos interrompem a leitura para não se compromissarem consigo mesmo para mudar a própria existência.
Feita a leitura de Tolstoi, estamos prontos para receber as lições de Varella, Albom e Pasch. As terríveis conseqüências de não se lidar com a morte se apresentarão com uma nitidez avassaladora. A virtual constatação de uma mediocridade de existência poderá então nos levar a simplesmente viver a aventura dificílima, mas ao mesmo tempo maravilhosa, de tentarmos junto com a miríade de outros seres humanos, sermos nós mesmos, como nos ensina Mario Quintana:
"As outras crianças, uma queria ser médica, outro pirata, outro engenheiro, ou advogada, ou general. Eu queria ser pajem medieval...Mas isso não é nada. Hoje eu queria ser uma coisa mais louca: eu queria ser eu mesmo!"
A Representação da Morte como Protesto: Marat e Bush (ERASMO RUIZ)
Dois momentos bem distantes um do outro. Marat em meio ao calor da Revolução Francesa, e George Bush, uma quase unanimidade de rejeição quando no final de seu mandato como um dos piores presidentes dos Estados Unidos.
Mas quero a partir desses dois personagens, destacar um certo papel artístico que o representar da morte tem como recorrente: a sua expressão como forma de protesto e homenagem. O quadro acima, pintado por Jacques L. David (1793) cristaliza um dos momentos dramáticos da Revolução na França, quando Marat, um de seus líderes mais destacados, é morto por Charlotte Corday. O fato de estar numa banheira pode produzir interpretações dúbias se não for contextualizado. Marat possuia uma terrível doença de pele que o obrigava a permanecer imerso na água praticamente o dia todo. Era dessa maneira que trabalhava.
David, amigo de Marat, lhe presta uma homenagem. Transforma a caixa de madeira ao lado da banheira numa espécie de "pedra tumular" que dedica ao revolucionário e que também toma como superfície onde assina seu nome, talvez para mostrar que tenha morrido um pouco com o amigo. Ao mesmo tempo, ressalta o caráter traiçoeiro do assassinato para que ele nunca seja esquecido: Marat está inerte, nu, meio imerso na água da banheira e a ferida no seu peito ainda sangra. Sua morte não pode ter sido em vão. Ao mesmo tempo em que exige justiça, também exige que o ideário de sua revolução possa permanecer. Esse é o novo sentido da pessoa de Marat, cuja a morte o imortaliza no quadro e o expressa como herói a ser cultuado e lembrado .
Chegamos então a George Bush. Ele também está acompanhado pela morte mas posa vivo! Seu olhar é construído a partir de um mosaico trágico, formado pelas fotografias de centenas de soldados americanos mortos no Iraque. O lembrete é claro: ele é o responsável por estas mortes e, na verdade, seu poder parece se alimentar delas na medida em que os mortos vão formando a sua imagem. A composição ganha maior efeito ainda se a percebemos primeiro muito distante para, depois, nos aproximarmos dela, uma artimanha provavelmente pensada pelo autor. Quando vemos a figura dos homens públicos na mídia, os percebemos distantes, aparecem "limpos" e "perfeitos" de toda a crosta de iniquidade em que se vêem envolvidos. Mas ao olharmos mais de perto, veremos pelo que eles são responsáveis e, ao sabermos disso, podemos então nos tornarmos co-responsáveis se nada fizermos. (veja a imagem aumentada aqui )
Pelo Visto, exitem muitas possibilidades para a morte se expressar na história e nos acontecimentos políticos. A arte meio que captura esses momentos, os reinterpreta e os trasnforma em possibilidades práticas pela ação que motivam, seja na França revolucionária do século das luzes, seja pelo Império Americano em decadência no início do século XXI.
A Morte Serena e a Fotografia de Rudolf Schafer (Erasmo Ruiz)
A tradição de se mostrar a morte como algo sereno e belo, acontecimento que põe fim ao sofrimento da dor e das dificuldades de se viver nesse mundo, é um marco na iconografia. Espalha-se em inúmeras manifestações desde a mais remota antiguidade e nos chega até os dias de hoje por versões contemporâneas da "fotografia mortuária" como manifestação artística.
Nessa postagem uma pequena demonstração da obra de Rudolf Schafer. Em 1983 este fotógrafo registrou cadáveres no Hospital "Charité" de Berrlin. Todos os olhos dos mortos encontram-se fechados. Chama a atenção um certo tom de trivialidade, como se sorrateiramente surpreendêssemos as pessoas em meio ao seu sono.
Pelas fotos, não conseguimos deduzir nomes nem a maior curiosidade mórbida que a maioria de nós possui: a "causa mortis". Vemos apenas o rosto de uma pessoa morta envolta em um lençol, e nos perguntamos: quem era ela, o que fazia...talvez como se questionássemos a nós mesmos.
Não há interesse do fotógrafo em nos apresentar a morte cruel, tão comum hoje em dia na imprensa e na estética cinematográfica. Ha um certo tom meio que vitoriano, que afirma e ao mesmo tempo nega morte! Somos informados que estamos diante da imagem de um cadáver, mas a forma como ele se encontra, os traços do rosto e o tom sereno não aparece como algo tão amedrontador.
E como ficamos caro leitor? A morte não teria nenhum mistério? Seria apenas este sono profundo e sereno captado pelas lentes de Rudolf Schafer? Estaríamos novamente diante da mera espetacularização da morte ou frente a sensibilidade de um artista que nos quer tirar do sono da vida a partir de suas "visages de morts"?
Educação para a Morte é tema de Disciplina na Pós-Graduação na FMUSP
“Pela primeira vez, uma faculdade de Medicina brasileira, a FMUSP, por meio da sua pós-graduação em Ciências Médicas, disponibiliza uma disciplina para formação de recursos humanos (professores e pesquisadores) com o objetivo de discutir as questões da morte e do morrer de maneira plural e interdisciplinar (atitudes religiosas, filosóficas, científicas, pedagógicas e estéticas)”, ressalta o Prof. Dr. Franklin Santana Santos, um dos coordenadores da Disciplina.
A disciplina é constituída de oito créditos e terá início no dia 8 de agosto. Além de reunir alunos de Medicina e das áreas biológica e ciências da vida, o objetivo da Disciplina é atrair mestrandos e doutorandos de outras áreas do conhecimento como teologia, sociologia, antropologia, filosofia, pedagogia, serviço social, entre outras. Mais informações no site www.fm.usp.br, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Serviço:
Disciplina “Tanatologia – Educação para a Morte” MCM 5892
Pós-Graduação strictu sensu da Faculdade de Medicina da USP
Créditos: 8
Período: 08/08 a 01/09 (sábados) Aulas: 08, 15, 22 e 29/08, das 8 às 17h30
Local: auditório da disciplina de Emergências Clínicas (5º andar do Instituto Central do Hospital das Clínicas)
Inscrições:
Vagas: 30 (alunos regulares) e 5 ouvintes
Informações: Tel.: 3061-7232
Endereço: Pós-Graduação/FMUSP: R. Teodoro Sampaio, 115 – Prédio Instituto Oscar Freire
Coordenadores: Prof. Dr. Irineu Tadeu Velasco Prof. Dr. Franklin Santana Santos
O Signo da Cidade: sessão Averroes de junho
Essa é para comemorar: CP agora é lei na Espanha
A Morte na Fala do Povo
V Congresso da ALCP
Biblioteca Virtual do site da ANCP
Nós e os Passageiros do Vôo 447 (Erasmo Ruiz)

Vamos convivendo com tragédias todos os dias. Furacões, terremotos, enchentes, desabamentos. Até parece que os noticiários da TV nos deixa uma crosta de insensibilidade, como se víssemos as manchetes como os resultados dos jogos de times que não nos afetam.
A morte parece ter se transformado em estatística. Por exemplo, nos finais de semana prolongados somos informados da quantidade de mortos nas rodovias federais e esses números são sempre comparados com os do ano passado. A imagem já virou um clichê: o repórter a beira do acostamento com o tráfego pesado por trás dele nos olha como um certo ar de censura e nos passa os números.
Assim, milhares de vidas, projetos de existência ceifados, pessoas e individualidades chafurdam na mesmice das quantidades, de tal forma que tudo aquilo que nos é informado aparece como um fenômeno externo. A morte do outro virou manchete, incrementa o ganho financeiro das redes de TV e, quem sabe, faz os ricos optarem pelo “air-bag” e as “barras laterais” de proteção em seus automóveis.
Mas volta e meia essas imagens podem nos sensibilizar, principalmente quando os clichês impõem um maior nível de envolvimento. Aqui estou me referindo aos acidentes aéreos e, mais precisamente ao vôo 447 da Air France que desapareceu no mar com seus 228 passageiros.
Todos nós ficamos de alguma forma envolvidos. Por um lado, podemos ser mobilizados pela mera curiosidade mórbida. Disso não falarei nada pois, a depender de suas formas de expressão, será o territórios dos psiquiatras e psicólogos clínicos. Quero falar sim do envolvimento emocional. Nesses dias presenciei pessoas chorando vendo a TV e suas reportagens. Vi pessoas refletindo sobre a própria vida...enfim...percebi a morte dando o seu ar meio que filosófico, quando ela comparece e nos faz pensar na própria vida, naquilo que estamos fazendo e/ou gostaríamos de fazer.
E isso parece acontecer porque, diferente das outras reportagens, agora somos “convidados” a olhar as fotos dos mortos, a perceber que eles tinham vidas muito parecidas com parte daquilo que fazemos, que eles tinham sonhos: as férias há tanto tempo desejadas, o trabalho ambicionado, o curso de pós graduação que abriria novas portas na vida ou, simplesmente, querer ser feliz nas ruas de um país diferente e cheio dos estereótipos da luz, arte e conhecimento.
Isso tudo passou a ser importante no momento em que descobrimos que aqueles que morreram no vôo 447 eram seres humanos dotados de singularidade e sonho. No conforto das nossas salas e protegidos pelas nossas paredes, podemos vivenciar essa experiência e nos defrontarmos com o rol de necessidades que ela pode despertar.
Todos nós somos passageiros de um vôo sem que nos apercebamos disso. Somos arrastados por milhões de quilômetros todos os dias pelo Sol que marcha rapidamente rumo à constelação de Libra. Mas parte do tempo só vemos a singularidade dos mortos na TV. A maioria de nós tenta fugir da singularidade dos que vão morrer, seja no trabalho, seja em casa, seja na rua ao lado. Isso pode ter conseqüências trágicas, principalmente se pensarmos na solidão de muitos que estão morrendo hoje nos hospitais. Como já foi dito, muitos morrem bem equipados porém mal informados. E nós, pilotos e comissários desse vôo, temos que saber mais desses passageiros, afinal, voamos todos juntos.
Pensemos que as pessoas vivenciando a situação de finitude são um pouco nossos espelhos. Queremos fugir do sofrimento porque, na verdade, a maioria das pessoas padece muito ao morrerem e isso decorre da forma como são cuidadas, nós não queremos nos ver no sofrimento. Olhemos então para elas como vemos as fotos dos passageiros do vôo 447, com a diferença fundamental que as pessoas vivendo a experiência de morrer ainda estão vivas e, se fizermos tudo o que pudermos para lhes trazer conforto e autonomia, um dia quem cuidar de nós fará o mesmo. Assim, poderemos ter um pouso mais tranqüilo e chegarmos ao aeroporto que ninguém quer ir mas “morre” de curiosidade para conhecer.
Simbologia dos Ritos Funerários na Pré-História (Fernando Lins de Carvalho)
Biblioteca Virtual da Thanatos
V Seminário Interdisciplinar para Cuidado de Pacientes Oncológicos no RS
Que Tal Visitar um Cemitério? (Erasmo Ruiz)
Congresso em Portugal discute cuidados paliativos em crianças (Sofia Rato)
Durante dois dias, na quinta e na sexta-feira, especialistas nacionais e internacionais detabem, em Coimbra, os cuidados paliativos nas crianças.
Temas como, 'a criança em fase terminal deverá estar consciente da sua sitaução?' ou 'que lugar deverá ser dado à esperança' e ainda 'O que deve ser comunicado aos pais?' vão ser debatidos e discutidos por um vasto painel de especialistas, ligados à peditaria e habituados a lidar com casos angustiantes.
O foco dos cuidados paliativos nas crianças surge no âmbito do 10º Encontro de Enfermagem Pediátrica e visa deixar pistas e respostas para temas sensíveis que não reúnem consenso. Entre os oradores destaca-se a presença da Alta Comissária para a Saúde, Maria do Céu Machado, pediatra de formação e antiga directora do serviço de pediatria do hospital Amadora-Sintra.
Leia mais em:
http://www.correiomanha.pt/noticia.aspx?channelid=00000021-0000-0000-0000-000000000021&contentid=63688999-735D-468D-87CB-69AE344C6A1E